Homilia do cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago na missa pelas vítimas da bomba atómica

«Precisamos de uma memória viva que desperte as consciências»

People pray in front of the cenotaph for the victims of the 1945 atomic bombing, at the Peace ...
03 setembro 2025

«No Monte Tabor, a luz revelou o nosso apelo a partilhar eternamente a glória divina como filhos e filhas do Pai; em Hiroshima, a luz trouxe destruição, escuridão e morte inimagináveis». Com estas palavras, o cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, iniciou a homilia da missa pelas vítimas da bomba atómica, celebrada a 6 de agosto em Hiroshima, no dia em que a Igreja celebra a Transfiguração do Senhor e no octogésimo aniversário daquela explosão que mudou para sempre o rosto da história humana.

No centro da sua homilia, o cardeal Cupich contrastou «a luz que resplandeceu no Monte Tabor» com a «luz ofuscante» que devastou Hiroshima: «No Tabor — disse — Jesus mostrou-se aos discípulos como o Senhor da história, e o Pai proclamou do céu: “Este é o meu Filho muito amado... escutai-o”. Mas aqui, há oitenta anos, uma luz diferente desceu do céu: uma luz de destruição, que lançou o mundo num silêncio devastador». Para o purpurado, este contraste obriga a encarar a verdade: «Quando ignoramos a visão do Tabor, quando fechamos os ouvidos à voz de Deus que nos chama ao amor fraterno, acabamos por abrir caminho ao ódio e à devastação».

Recordando as palavras do Papa Francisco, proferidas no mesmo lugar em 2019, o cardeal Cupich reiterou que evocou «três imperativos morais» para proteger o futuro da humanidade: recordar, caminhar juntos e proteger. «Recordar — realçou — significa impedir que o drama de Hiroshima caia no esquecimento. Significa transmitir às gerações futuras a memória dos hibakusha, os sobreviventes que, com o seu testemunho, durante décadas gritaram: “Nunca mais”». Mas a memória, acrescentou, não pode ser apenas histórica: «Como Jesus que conversa com Moisés e Elias no monte, somos chamados a inserir os nossos dramas no desígnio salvífico de Deus, que abraça as origens e aponta para o dia em que o Filho do Homem reunirá todos os povos e todas as línguas. Precisamos de uma memória viva que desperte as consciências e saiba dizer a cada geração: “Nunca mais!”».

Para o cardeal Cupich, a resposta cristã exige «gerar reações em cadeia de paz e reconciliação, caminhar juntos como povo em êxodo, deixando de lado nacionalismos e rivalidades, ouvindo as histórias dos outros e construindo uma mesa onde ninguém seja excluído». O arcebispo de Chicago também destacou a contribuição da Igreja para o bem comum: «A nossa experiência sinodal — disse — oferece ao mundo um exemplo concreto: aprender a ouvir-nos, a dialogar, a respeitar-nos. Este é o caminho para a paz e, ao mesmo tempo, para a libertação interior».

Concluindo, o purpurado abordou o terceiro imperativo: proteger. «Num mundo marcado por uma guerra mundial travada “em pedaços” — recordou — não há segurança para ninguém enquanto faltar a paz até num só canto da terra». Depois de recordar a imagem evangélica dos discípulos «envoltos pela nuvem no monte» para indicar o sentido mais profundo desta proteção, Cupich encerrou a sua intervenção com um convite que é compromisso e ao mesmo tempo missão: «Há oitenta anos, o mundo testemunhou o alarmante abuso do engenho humano submetido à destruição. Hoje, aqui em Hiroshima, somos chamados a usar esse engenho para nos proteger e construir caminhos de paz. Esta festa da Transfiguração mudou para sempre há oitenta anos. Que possamos permanecer firmes em contar ao mundo o porquê».