Jubileu dos jovens

A coragem de mudar
o mundo

SS Leone XIV 2025.08.02 Giubileo dei Giovani - Veglia di preghiera a Tor Vergata
03 setembro 2025

Maria Helena Sequeira

Na última semana do mês de julho, Roma encheu-se das cores da juventude. O calor abrasador não deu trégua e os chapéus coloridos resistiam contra o sol que teimou em acolher os jovens peregrinos com toda a sua potência. Vinham de todo o mundo, representando uma geração que habita uma época completamente diferente das anteriores. A acolhê-los foram as várias paróquias, comunidades, famílias e centros juvenis italianos, que de 28 de julho a 3 de agosto, fizeram de Roma casa.

O primeiro grande momento comum do Jubileu dos jovens aconteceu na terça-feira, 29 de julho, com a Missa de boas-vindas da Igreja de Roma, celebrada na Praça de São Pedro e presidida por D. Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização e responsável pela organização do Ano Santo. Sob o olhar sereno da Basílica e o calor que às 19h permanecia insistente, milhares de jovens escutaram a Palavra, cantaram em uníssono e partilharam o mesmo desejo de se deixarem tocar por algo maior.

Entre quarta-feira, 30, e quinta-feira, 31 de julho, a cidade ganhou uma vida diferente, deixando-se descobrir entre eventos e encontros que procuravam unir a cultura e a espiritualidade. Nos momentos do “Diálogo com a cidade” ofereceu-se como palco: museus, igrejas, praças, testemunhos e momentos de oração marcaram estes dois dias.

Foi precisamente na manhã de 30 de julho que os jovens portugueses se reuniram para celebrar a Eucaristia na Basílica de São Paulo Extramuros. Entre eles, os da Unidade Pastoral de Nova Oeiras e São Julião da Barra que partilhavam o entusiasmo dos seus coetâneos. Para a Joana, de 20 anos, participar no Jubileu foi «uma grande honra». Depois da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, esta experiência representava uma nova oportunidade de viver a unidade com jovens de todo o mundo e de se sentir ainda mais próxima da Igreja. «Desde pequena sempre fui muito ligada à paróquia. Ver esta alegria em tantos outros jovens, esta animação de estarmos com o Papa, dá-me mais fé e força para os momentos difíceis», disse.

Manu, de 16 anos, diz ver Deus nos rostos que circundam. A esperança, tema central do Jubileu, encontra-a nestes momentos de união: «ver hoje jovens apaixonados por Jesus dá-me esperança de que, no futuro, os meus filhos e os filhos deles também tenham esse amor e cuidem dos outros».

Para o Vasco, de 21 anos, a maior urgência é a paz: «Os jovens precisam de ser ouvidos nas questões sobre o futuro, sobre as condições de vida, sobre a paz. Somos muitos, de várias partes do mundo, e todos queremos um lugar digno onde possamos viver». Refletindo sobre o impacto destas iniciativas, disse com convicção: «Os conflitos, infelizmente, sempre existirão. Mas enquanto houver espaço para ouvir uma voz, nada se perde. Este tipo de encontros mantém o diálogo vivo, mantém o debate possível. E mesmo quando não conseguimos mudar tudo, sermos uma terceira voz já é um sinal».

Sexta-feira, 1 de agosto, no Circo Massimo, 200 confessionários e mais de 1000 sacerdotes distribuíram-se pelo recinto a céu aberto, permitindo a todos os que o desejassem de aceder ao sacramento da reconciliação. A música das diferentes línguas unia-se às lágrimas e aos sorrisos tímidos daqueles que procuravam um recomeço, unidos nas suas dúvidas e na única certeza de que o amanhã tinha início ali.

E de facto, no dia seguinte, sábado, 2 de agosto, a juventude reencontrou-se naquele que foi o momento mais esperado deste Jubileu. Numa multidão que ultrapassava um milhão de pessoas, deixaram-se sentir um só entre música e testemunhos e na expectativa de encontrar o Papa Leão, que poucos meses antes, na televisão e em diretas de Instagram, tinham visto ser eleito.

Num diálogo simples, mas repleto de sentido, o Papa falou aos jovens sobre a «Amizade», a «Coragem para escolher» e o «Apelo ao bem», respondendo com a delicadeza que o carateriza às questões colocadas pela Dulce María, a Gaia e o Will, em nome da juventude que se reunia diante de si. O Santo Padre desafiou-a a refletir sobre o seu «modo de viver», procurando «a justiça para construir um mundo mais humano» e a amar-se uns aos outros, com a certeza de que a amizade pode «mudar o mundo».

O entusiasmo não cedeu lugar ao sono e poucas foram as horas dormidas no extenso recinto de Tor Vergata, mas quando o nascer do sol anunciou uma nova manhã os ânimos eram altos. O Jubileu dos jovens encerrou-se com a celebração da Eucaristia, na qual o Papa, mais uma vez, falou aos jovens diretamente e, com uma mensagem clara, convidou-os à ação: «aspirai a coisas grandes, à santidade. Não vos contenteis com menos». Regressar, por isso, a casa não como quem volta do “fim de uma viagem”, mas como quem inicia um novo caminho.

Muitos jovens deixaram Roma com uma certeza silenciosa: algo tinha mudado. Num tempo marcado por conflitos e divisões, a simples união de jovens de diferentes línguas, histórias e nações tornou-se, por si só, um ato de resistência contra o desânimo e a indiferença. Como dizia o Vasco: enquanto houver uma «plataforma que promova o outro lado, nada se perde».

Este Jubileu foi, assim, uma dessas plataformas. E talvez seja justamente essa a missão que os jovens levaram consigo: não calar a sua voz, não desistir da paz, não deixar que o mundo desista deles.