Dos governantes

Uma boa ação política pode contribuir para a paz

 Uma boa ação política  pode contribuir para a paz  POR-008
02 julho 2025

Jane Nogara

Na programação do Jubileu dos Governantes, na manhã de sábado, 21 de junho, o Papa Leão XIV recebeu parlamentares e as suas delegações provenientes de 68 países. Ao iniciar o seu discurso o Papa definiu a ação política como «a forma mais alta de caridade» pelo seu serviço à sociedade e ao bem comum, compartilhando com os presentes três considerações fundamentais para o atual contexto cultural.

A primeira destaca a tarefa dos políticos de promover e proteger o «bem da comunidade», especialmente em defesa dos mais fracos e marginalizados, procurando superar a inaceitável desproporção entre riqueza e pobreza. Destacando que «uma boa ação política, ao favorecer a distribuição equitativa dos recursos, pode oferecer um serviço eficaz à harmonia e à paz, tanto a nível social quanto no âmbito internacional».

A segunda reflexão feita pelo Pontífice aos Parlamentares, diz respeito à liberdade religiosa e ao diálogo inter-religioso. Também neste campo, continuou o Papa, «a ação política pode fazer muito, promovendo as condições para que haja efetiva liberdade religiosa e se possa desenvolver um encontro respeitoso e construtivo entre as diversas comunidades religiosas». Reconhecendo que, «acreditar em Deus, com os valores positivos que daí derivam, é uma fonte imensa de bem e de verdade na vida dos indivíduos e das comunidades».

Em seguida o Papa Leão introduziu o conceito de Lei natural «não escrita pelas mãos do homem, mas reconhecida como universalmente válida e em todos os tempos, encontrando na própria natureza a sua forma mais plausível e convincente». «A lei natural», explicou o Papa, «universalmente válida para além e acima de outras convicções de carácter mais opinável, constitui a bússola para se orientar ao legislar e ao agir, em particular sobre delicadas questões éticas que hoje se colocam de maneira muito mais urgente do que no passado, tocando a esfera da intimidade pessoal».

Também foi recordada a Declaração Universal dos Direitos do Homem que já pertence ao património cultural da humanidade, disse ainda o Pontífice, pois «é um texto fundamental que coloca a pessoa humana no centro da busca da verdade, devolvendo dignidade a quem não se sente respeitado».

A terceira consideração feita pelo Papa no Jubileu dos Parlamentares refere-se ao desafio imposto pela inteligência artificial (IA). Embora se reconheça o seu potencial de ajuda para a sociedade, adverte-se que a sua utilização não deve comprometer a identidade, a dignidade e as liberdades fundamentais da pessoa humana. O Papa neste ponto destacou que «a IA é um instrumento para o bem do ser humano, não para o diminuir ou, pior ainda, para definir a sua derrota».

«A vida pessoal — evidenciou ainda o Pontífice — vale muito mais que um algoritmo, e as relações sociais precisam de espaços humanos muito maiores do que os esquemas limitados que qualquer máquina sem alma possa pré-fabricar». Concluindo que a política não pode ignorar tal provocação, ao contrário, é chamada a responder aos desafios da nova cultura digital com visão e atenção.

Por fim, o Papa citou o exemplo de São Tomás Moro (Thomas More, Thomas Morus)  para os políticos presentes. Recordando que foi um homem fiel às suas responsabilidades civis e um servidor do Estado, interpretando a política como uma missão para o crescimento da verdade e do bem. «A coragem com que não hesitou em sacrificar a própria vida para não trair a verdade, torna-o ainda hoje, para nós, um mártir da liberdade e da primazia da consciência. Que o seu exemplo seja também para cada um de vós fonte de inspiração e de planeamento».