
Giampaolo Mattei
No domingo, 1 de junho, Francesco Moser, um dos atletas mais vitoriosos de todos os tempos (incluindo a Volta de 1984), também esteve presente para acompanhar com emoção e paixão a passagem pelo Vaticano dos ciclistas da Volta à Itália. Ele também estava lá — «eu era muito jovem, quase no início da carreira» — naquele 16 de maio de 1974, quando Paulo VI deu o início da Volta no pátio de São Dâmaso. «Inesquecível!», recorda hoje Moser: «Foi extraordinário que todos nós, ciclistas, em equipamento de corrida, fôssemos recebidos pelo Papa Montini. Estavam lá Merckx, Gimondi, Fuente... todos nós ficámos emocionados com aquele acolhimento paterno, comovidos ao ver Paulo VI dar início à corrida com a bandeira».
Francesco Moser não é uma pessoa que se emociona facilmente, com o seu caráter tenaz, rochoso como as montanhas da sua região, Trentino. «O Papa é... o Papa, não se brinca com isso!», diz ele. E começa uma avalanche de lembranças e curiosidades. Iniciando justamente pelo seu nome de batismo: Francesco. Ele não se deveria chamar Francesco: «Sou o décimo filho e, nas nossas tradições de famílias camponesas “numerosas”, eu deveria chamar-me, precisamente, Decimo! Mas a minha mãe Cecilia quis absolutamente chamar-me Francesco. Antes de mim nasceram as minhas irmãs Lucia e Giacinta: eis testemunhada, também na escolha dos nomes, a particular devoção da minha mãe pela Nossa Senhora de Fátima».
A fé cristã, confia Moser, faz parte da própria vida do seu povo, na pequena aldeia de Palù di Giovo. «É verdade que com três irmãos mais velhos — Aldo, Enzo e Diego — ficámos famosos pelo ciclismo, mas o verdadeiro “campeão” da família é outro irmão: Claudio». Francesco fala dele com um respeito que lhe suaviza o olhar e o tom de voz: «Claudio é frade franciscano: aos 10 anos saiu de casa para estudar. Mas lembro-me como se fosse agora quando, todos juntos, o acompanhámos ao aeroporto: destino Boston, onde trabalhou na paróquia durante cerca de cinco anos. O padre Claudio sempre teve um estilo missionário e continuou o seu serviço como pároco no Canadá, em Toronto».
«Na família, víamo-lo pouco, mas espiritualmente sempre esteve connosco», confia Francesco. «Sempre o senti perto, mesmo nas minhas experiências como ciclista, lembrando-me da sua ordenação sacerdotal, com outro conterrâneo, e da celebração da primeira missa deles em Palù».
A espiritualidade é intrínseca ao ciclismo, reitera Moser: «Nas etapas da Volta à Itália, mas poderíamos dizer em todas as corridas, pedalamos ao lado de santuários, sobretudo marianos. E quando escalávamos as grandes montanhas, quase sempre lá em cima, no cume, havia um santuário. São «lugares espirituais» especiais e que entram no coração dos ciclistas, tanto que voltamos lá para treinar ou, como eu faço agora aos 74 anos, por uma necessidade pessoal». Moser lembra-se de três em particular: os santuários de Montevergine — «que também era o local das exercitações quando eu era militar» — de Tindari e do Divino Amore, nos arredores de Roma, onde «deixei a minha bicicleta em homenagem a Maria».
O mesmo gesto foi feito no santuário da Madonna del Ghisallo, padroeira dos ciclistas, «além disso, nas estradas da Volta da Lombardia, que ganhei duas vezes. Entre os muitos “ex-votos”, quis que estivesse lá, em sinal de gratidão, a minha bicicleta do recorde da hora».