Floribert disse «não» à corrupção

 Floribert  disse «não» à corrupção  POR-008
02 julho 2025

Stanislas Kambashi

AIgreja na República Democrática do Congo está em festa pela beatificação, em Roma, domingo 15 de junho, na solenidade da Santíssima Trindade, do jovem leigo congolês Floribert Bwana Chui bin Kositi, definido como mártir da honestidade e da integridade moral, cujo reconhecimento do martírio foi feito pelo Papa Francisco no passado dia 25 de novembro. Participaram na beatificação de Floribert, que era membro da Comunidade de Santo Egídio, vários prelados congoleses: entre eles o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa, e monsenhor Willy Ngumbi Ngengele, bispo de Goma, diocese de origem do beato. A celebração, às 17h30 na basílica de São Paulo Extramuros, foi presidida pelo cardeal prefeito do Dicastério para as causas dos santos, Marcello Semeraro.

Floribert Bwana Chui bin Kositi foi raptado a 7 de julho de 2007. Dois dias depois, o seu corpo foi encontrado em Goma,diante da Université libre des Pays des Grands Lacs, uma instituição educativa privada cristã da província de Kivu do Norte. Jovem comissário do Office Congolais de Contrôle (Occ), o organismo nacional de controlo aduaneiro e das mercadorias, Floribert era responsável por avaliar a conformidade dos produtos que atravessavam a fronteira oriental da República Democrática do Congo. A sua recusa em ceder à corrupção custou-lhe a vida, ao decidir não deixar entrar no seu país géneros alimentícios provenientes do Ruanda que não tinham obtido as autorizações necessárias para a comercialização e o consumo. De acordo com alguns testemunhos, «Bwana Chui preferiu morrer a deixar passar alimentos que poderiam ter envenenado as pessoas». A honestidade e a integridade moral conduziram-no ao martírio.

A sua mãe, Gertrude Kamara Ntawiha, exprime a sua alegria e a gratidão por uma notícia que alivia a dor na qual estava mergulhada após a trágica morte do seu filho: «Floribert foi assassinado em nome da sua fé cristã, por ter recusado uma proposta de corrupção para facilitar a entrada de géneros alimentícios que poderiam pôr em perigo a saúde pública em território congolês. Ele fez claramente a sua opção por Deus até ao fim e escolheu morrer para viver em Cristo». A mãe Gertrudes pede aos jovens que sigam o exemplo de Floribert, que não se deixem corromper e que sigam os valores do Evangelho. E às autoridades, pede a paz, nomeadamente na região oriental da República Democrática do Congo, onde, com apenas 26 anos, o filho foi assassinado e onde a população vive há mais de três décadas um calvário sob a ameaça de grupos armados e da agressão de países vizinhos.

Com a sua honestidade e integridade moral, Floribert Bwana Chui é um modelo não só para os jovens congoleses, mas para todos, sublinha Trésor, irmão mais novo do beato: «Para mim, a sua luta não foi em vão, manteve a sua liberdade. Isto é um exemplo para nós, cristãos, católicos, jovens de todo o mundo e, em particular, para os do Congo, onde a prática da corrupção ainda tem de ser combatida». Segundo Trésor, a beatificação do irmão deve chamar a atenção para esta triste realidade que se está a tornar um modus operandi para obter ganhos desproporcionados. O exemplo de Floribert pode ajudar-nos «a ser mais justos e coerentes». Do seu irmão, Trésor conserva a memória de uma pessoa exemplar: «Tinha o seu modo de viver a vida cristã, vivia no temor de Deus».

Floribert estava comprometido com diversos grupos e movimentos eclesiais, tinha sido acólito na catedral de São José em Goma, tinha feito parte do coro latino na paróquia do Espírito Santo: «Reforçou ainda mais a sua fé partilhando o Evangelho na Comunidade de Santo Egídio, onde era um amigo e um irmão, ao lado dos mais necessitados, incluindo as crianças de rua». Se Trésor tivesse uma mensagem a dirigir a Floribert, pedir-lhe-ia «que interceda junto do Criador pelo Congo e pelo mundo inteiro, para que este flagelo da corrupção, este mal que corrói, cesse, para que possamos caminhar na justiça».

Désiré Pengele, funcionário do Departamento do comissariado para os danos no seio do Occ, orientou Bwana Chui nos seus primeiros passos no interior deste organismo, em Kinshasa. Nessa altura, os jovens recém-contratados do Gabinete de controlo congolês, atribuídos a este departamento, foram-lhe confiados para serem seguidos no âmbito do seu percurso de integração. Entre os jovens licenciados que chegaram entre 2006 e 2007, encontrava-se também Floribert. Perto do seu gabinete em Gombe, uma comuna da capital congolesa, fica a paróquia de Santa Ana, onde são celebradas duas missas todas as manhãs, a primeira para os paroquianos e a segunda «das 7 às 7h30 da manhã para os cristãos que saíram cedo de casa para irem trabalhar em Gombe, mas que aproveitam para rezar antes de ir». Era ali — testemunha Désiré — que começávamos o nosso dia com Floribert e íamos a pé para o escritório». Foi assim que nasceu uma «amizade espiritual» que ultrapassava a simples relação de trabalho: «Floribert tinha sempre livros com ele e lia muito, era discreto e aprendia tanto».

Continuou assim também quando regressou a Goma, na sequência de uma transferência por motivos pessoais. Na noite entre domingo e segunda-feira antes do crime, Désiré conta ter tido um sonho em que «Floribert me dizia três vezes “Pengele resiste”». Não tendo percebido nada, na segunda-feira de manhã cedo o antigo supervisor tentou ligar-lhe para o seu número de telefone, «pensando que pudesse precisar de um documento relacionado com o trabalho, como fazia de vez em quando. Mas infelizmente o telefone não tocava». Ao chegar ao escritório, Désiré, conversando sobre o seu sonho com um colega, soube que Floribert tinha sido raptado em Goma durante o fim de semana e que era impossível encontrá-lo: «E cerca de uma hora mais tarde, esse colega veio ter comigo em lágrimas e disse-me que Floribert tinha sido encontrado morto em Goma».

O chefe do departamento foi sozinho à capital do Kivu do Norte para participar no funeral. Os outros colegas mandaram celebrar uma missa. «Acho que o vi duas vezes num sonho. E no final, para minha grande alegria, soube que o Santo Padre Francisco o tinha elevado à categoria de servo de Deus e que mais tarde seria beatificado. Sempre falei de Floribert com a esperança — conclui Pengele — de que ele rezasse pelo nosso país, pelos nossos jovens e pela nossa empresa, o Office Congolais de Contrôle».