As origens da encíclica do Papa Pecci «Divinum illud munus», dedicada ao Espírito Santo

As treze cartas de Elena Guerra a Leão XIII

 As treze cartas  de Elena Guerra a Leão XIII  POR-008
02 julho 2025

Antonella Lumini

Ao destacar os traços mais significativos de Leão XIII, na tentativa de compreender as motivações inspiradoras que levaram o cardeal Prevost, recém-eleito, a escolher esse nome, toda a atenção se concentrou na Rerum novarum, certamente um elemento fundamental que caracterizou o pontificado de Leão XIII. Não se pode, porém, esquecer que anteriormente ele tinha escrito outra encíclica muito importante, Divinum illud munus, dedicada ao Espírito Santo, muito menos conhecida. Essa encíclica pode ser considerada o documento resultante da intensa correspondência com Elena Guerra, figura ainda pouco conhecida e igualmente pouco valorizada, apesar do título de Apóstola do Espírito Santo que lhe foi atribuído por João XXIII em 1959, ano da sua beatificação.

Nascida em Lucca em 1835, incompreendida pela sua experiência mística, mas fiel à sua missão profética centrada em recolocar o Espírito Santo no centro da vida cristã: «A adoração do Espírito Santo sempre foi muito fervorosa no meu coração, mesmo que ninguém mo tivesse recomendado, apesar de eu não conhecer nenhuma leitura que mo pudesse ensinar». O Espírito Santo revelou-se-lhe como amor em ação, amor que, amando, ensina a amar: «A bela obra de inflamar os corações com o amor de Deus é típica do próprio Amor. Veio o Amor e o homem amou». Jesus acendeu o amor nos corações dos apóstolos quando lhes enviou o Espírito Santo, ou seja, o Amor substancial e pessoal do próprio Deus».

Entre 1895 e 1903, Guerra escreveu treze cartas ao Papa. Em 1897, após a quinta carta, Leão XIII respondeu com a encíclica Divinum illud munus, um importante tratado que destaca a ação do Espírito Santo na humanidade e como Ele derrama os seus dons. A última ação oficial do Papa às constantes solicitações de Elena será, em 1902, a carta Ad fovendum in Christiano populo, dirigida aos bispos de todo o mundo, na qual os encoraja a renovar a fé, confiando no Espírito Santo.

A oração de invocação ao Espírito Santo começou a difundir-se no final do século XIX nas comunidades protestantes norte-americanas com o chamado movimento pentecostal, designado a partir de 1963 por Renovação Carismática, reconhecido desde 1967 também pela Igreja Católica e pelas Igrejas Ortodoxas, mas naturalmente não circunscrito a isto. Elena escreve ao Papa: «Há muitos anos desejo ardentemente que os fiéis se reúnam unanimemente para voltar ao Espírito Santo e realizar, com a oração incessante, uma renovação benéfica da face da Terra». O fulcro profético é a visão da Igreja como «cenáculo universal», um novo Pentecostes que a chama a abrir-se universalmente ao mundo para derramar o fogo do amor.

Chamar a atenção para este traço aparentemente marginal lança, na realidade, novas luzes sobre a Rerum novarum, que introduz a Igreja na questão social. Torna-se um elemento importante para reafirmar que a ação da Igreja, em todos os seus âmbitos, para ser realmente criadora, portanto salvífica, deve ser sempre inspirada pelo Espírito Santo, suscitada pela escuta interior, pois a comunidade dos crentes habita o mundo, mas não pertence ao mundo. E não pertence ao mundo se pensa, age, se move não por impulso do espírito do mundo, mas por inspiração do Espírito Santo.

E não só. Na encíclica Divinum illud munus, Agostinho é citado várias vezes a respeito do papel do Espírito Santo na Santíssima Trindade. Inspirando-se na De Trinitate, realça: «O uso na Igreja de atribuir ao Pai as obras da potência, ao Filho as da sabedoria, ao Espírito Santo as do amor». E continua afirmando que «o Espírito Santo é a causa final de tudo, porque, assim como no seu fim a vontade e todas as coisas encontram repouso, assim também Ele, que é a bondade e o amor do Pai e do Filho, dá um impulso forte e suave e quase a última mão à obra altíssima da nossa eterna predestinação». Seria, portanto, desejável focalizar a atenção nessa encíclica como um traço para novas inspirações e elaborações, a fim de que o Espírito Santo, esse grande desconhecido, esteja cada vez mais presente, sentido no íntimo, como uma chama ardente capaz de despertar em nós o amor. O tempo urge, pede-o precisamente porque «pela propagação da iniquidade, o amor de muitos esfriará» (Mt 24, 12). Lemos ainda na encíclica: «Devemos suplicar-lhe com confiança e constância para que cada dia mais nos ilumine com a sua luz e nos inflame com a sua caridade».