
Andrea Monda
No trecho do Evangelho sobre a multiplicação dos pães e dos peixes, lido na missa da solenidade do Corpus Domini, Lucas fixa com precisão as coordenadas espaço-temporais, falando de um dia que «começava a declinar» e de uma «região deserta» (Lc 9, 11).
Ao ouvir as notícias dos jornais, parece que essa descrição do Evangelho se refere ao atual cenário internacional: é o mundo inteiro que se encontra no seu crepúsculo, caminhando quase na escuridão à beira de um abismo que parece cada vez mais próximo e terrível, e a nova cena que se abre não é a das cidades ou dos jardins, ambos cada vez mais devastados, mas a de uma zona deserta, onde uma única coisa domina incontestável, a morte.
Querendo relativizar este discurso, poder-se-ia dizer que tais reflexões são as que surgem nos lábios de todas as gerações quando se aproximam do fim da sua corrida, pelo que o fim do mundo coincide com o fim de cada indivíduo, mas, como muitos observadores têm salientado há 80 anos, diante de Hiroshima e Nagasaki e, mais recentemente, diante das dramáticas mudanças climáticas, nunca como hoje o homem atingiu um nível de poder bélico e de poluição ambiental tal que o destino de todo o planeta está encerrado nas suas mãos frágeis. A sombra do pôr do sol projeta-se sobre a terra e essa sombra é também a do deserto, com a sua luz sinistra de morte, cujo cheiro já se sente em muitas partes do mundo.
Esta é «a hora da prova», afirmou com veemência o Papa Leão XIV na mesma homilia, e continuou com palavras densas e pesadas: «Naquele lugar deserto, onde as multidões ouviram o Mestre, cai a noite e não há nada para comer. A fome do povo e o pôr do sol são sinais de um limite que paira sobre o mundo, sobre todas as criaturas: o dia termina, assim como a vida dos homens». Neste cenário inquietante, recorda Leão XIV, acontece, porém, algo de imprevisto, de novo: «É nesta hora, no tempo da indigência e das sombras, que Jesus permanece entre nós. Justamente quando o sol se põe e a fome aumenta, enquanto os próprios apóstolos pedem para dispensar o povo, Cristo surpreende-nos com a sua misericórdia». O Deus da Bíblia e do Evangelho é o Deus que «está no meio de nós» e é «o Deus das surpresas», como dizia o Papa Francisco, e esta hora não é, portanto, apenas a hora da prova, mas, como exclamou Leão XIV a 18 de maio, na missa de início do ministério petrino, «é a hora do amor!». Entre estas duas “horas”, que são a mesma hora, joga-se a responsabilidade e o destino dos homens de todos os tempos, mesmo aqueles tão terríveis que hoje agitam as consciências e os corações dos homens em todos os cantos da Terra.