
Realizou-se a 30 de maio, na Sala Pio XI, no Palácio São Calisto em Roma, um simpósio promovido pelo Pontifício Comité para o Dia mundial das crianças (DMC), em preparação para a celebração de 2026. O cardeal José Tolentino de Mendonça afirmou: «A infância, na sua realidade nua e frágil, deve ser assumida como um tema concreto pela Teologia».
«ODia Mundial das Crianças, desejado pelo Papa Francisco, é um evento que, pela primeira vez na vida da Igreja, coloca as crianças como sujeito da vida eclesial, como profecia viva e vibrante do Evangelho»: ressaltou o cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, na sua lectio magistralis, lida pelo padre Antonio Spadaro, secretário do mesmo Dicastério, durante o simpósio, intitulado “A Igreja das Crianças — rumo ao Dia Mundial das Crianças”, que se realizou, na sexta-feira, 30 de maio, na Sala Pio XI do Palácio São Calisto, em Trastevere, no centro de Roma. Após a saudação do padre Enzo Fortunato, presidente do Pontifício Comité para a DMC, promotor do evento, o cardeal fez uma intervenção, dedicada à “revolução da ternura” e às crianças, não como companheiras secundárias no caminho de fé da Igreja. O Dia Mundial das Crianças será celebrada em setembro de 2026.
Sobre a vida dos mais pequeninos, as estatísticas apresentam números “assustadores”: «Cerca de 400 milhões de crianças vivem em áreas de conflito e 13.000 morrem, todos os dias, por causas que se poderiam evitar», explicou o padre Spadaro, à margem da lectio magistralis do cardeal José Tolentino de Mendonça, segundo o qual precisamos de uma teologia inclusiva, que envolva as crianças: «Muitas vezes, no curso da história, concebemos a teologia como um assunto predominantemente abstrato, distante da carne viva da história. A infância, na sua realidade nua e frágil, pode e deve ser assumida como um verdadeiro locus theologicus».
O legítimo lugar das crianças é, portanto, no seio da teologia e no abraço espiritual da Igreja. Como disse Gleison de Paula Souza, secretário do Dicastério para os leigos, a família e a vida, «Os pequeninos recordam-nos que a Igreja é mãe e, como tal, se sente plenamente responsável pela sua tutela, proteção e crescimento humano e espiritual. Trata-se de uma missão que a Igreja compartilha com os pais e as famílias, que estão por trás de cada criança».
Por sua vez, o padre Michele Gianola, delegado nacional da CEI — Conferência Episcopal Italiana, — junto do Pontifício Comité para o Dia Mundial das Crianças e moderador das intervenções do simpósio, afirmou: «Na minha terra, dizem que, sob a neve, há pão, porque a semente lançada na terra é protegida pelo manto de neve invernal até florescer na primavera. A infância e a adolescência devem ser vistas sob duas perspetivas, ou seja, como um dom e como uma tarefa: a tarefa de proteger e fazer florescer a semente da vida, semeada em cada criança».
A infância em si, afinal, é uma novidade antropológica introduzida na história pela própria Igreja, como explicou a professora Marina D’Amato, docente de Sociologia da Infância na Universidade Roma Tre: «O ser criança foi inventado no século I d.C., quando os novos valores do Cristianismo separaram adultos e crianças, devido ao conceito de pudor e responsabilidade. No mundo antigo pré-cristão, as pessoas continuavam a fazer, na idade adulta, as mesmas coisas que faziam quando eram crianças, sem pudor. Depois, o Cristianismo distinguiu uma idade humana, em que não se responsabilizava pelas próprias ações, ou seja, a infância, da idade a partir da qual se é totalmente responsável».
Por outro lado, a escritora Dacia Maraini, lançou um olhar sobre o mundo infantil contemporâneo, ao recordar os muitos lugares, onde os menores estão muito longe de serem tutelados: «As crianças, que morrem sob as bombas em Gaza, Sudão e Ucrânia, não representam apenas tragédias distantes, mas feridas que afetam cruelmente a humanidade como um todo. Creio que a Igreja, com o Papa Francisco e, hoje, com Leão XIV, teve a coragem de recolocar as crianças no centro de uma temática ética. Ela teve a coragem de ressaltar as suas feridas, denunciar os abusos, confrontar-se com quem sofre e com quem se cala por medo», concluiu a escritora.