
Andrea Monda
Leão, o nome é, sem dúvida, marcante. O pensamento voa para Leão XIII, para o Papa Pecci que escolheu este nome a 20 de fevereiro de 1878. Treze anos mais tarde, promulgou a encíclica Rerum Novarum, o emblema do seu pontificado. O Papa “das coisas novas”. A Igreja, despojada do reino temporal, já não encarava o mundo como um Estado entre muitos, mas, liberta desse peso, podia apresenta-se ao mundo tornando-se cada vez mais fermento, sal da terra. Despojada da sua “couraça”, desarmada, a Igreja devia e podia caminhar no mundo como companheira de estrada da gente comum e encorajar o coração e o espírito dos homens e das mulheres muitas vezes desorientados, feridos, desanimados. Entre estas “coisas novas”, Leão XIII, por exemplo, experimentou o mundo da comunicação, deixando-se filmar em 1898 numa sequência cinematográfica, esta sétima nova arte, recém-nascida. Mas depois, sobretudo, a Igreja do Papa Pecci quis olhar para o mundo com coração de mãe e enfrentar imediatamente os problemas mais graves da sociedade, as suas questões cruciais como os temas da economia e das condições dos trabalhadores. O texto dessa encíclica tornou-se imediatamente um marco da doutrina social da Igreja e contribuiu para tornar mais humanas as condições em que se encontravam milhões de homens e mulheres.
Hoje, a situação repete-se, de certa forma. Também hoje o mundo parece estar cheio de “coisas novas”. Estamos a viver uma “mudança de época”, como disse e repetiu sempre o Papa Francisco, e as velhas categorias interpretativas já não são suficientes. Alguns problemas permaneceram os mesmos, aquelas condições de que falava Leão XIII não foram completamente resolvidas, e a economia continua a ter, ainda hoje, um rosto desumano e a produzir “descartes”. E aqui a Igreja chama um homem do Novo Mundo para enfrentar estes antigos e novos desafios com coragem, “sem medo”. Assim o repetiu duas vezes na sua primeira saudação o Papa Leão XIV: “sem medo”. Esta expressão encorajadora, ou outras semelhantes, como “não temas”, representa a mensagem mais repetida no texto bíblico. Já nestes primeiros dias, o Papa quis reiterar a mensagem que Jesus e os seus predecessores no trono de Pedro repetiram ao longo destes vinte séculos, uma palavra de encorajamento, de confiança, de esperança.
Sexta-feira, dia 9 de maio, na sua homilia perante os seus irmãos cardeais na Capela Sistina, onde algumas horas antes os outros 132, de 71 nações diferentes, o elegeram, falou da urgência da missão evangelizadora, «porque a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre, e não pouco».
Da Varanda das Bênçãos, na quinta-feira à tarde, o Papa recém-eleito recordou também que a tarefa da Igreja e dos cristãos é «construir pontes, com o diálogo, o encontro, unindo-nos todos para sermos um só povo sempre em paz». E enquanto falava ao mundo inteiro, quis, em espanhol, dirigir uma saudação à sua «querida diocese de Chiclayo, no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu bispo». Esta união de universalidade e particularidade, do eterno e contingente, é própria da natureza da Igreja, instituição humana e divina. Porque este mundo, que o cristão, no seguimento de Cristo, é chamado não a julgar mas a amar (Jo 3, 17), está unido a Deus pela maior “ponte”, o próprio Jesus. «Portanto — exortou — sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e uns com os outros, sigamos em frente! Somos discípulos de Cristo. Cristo vai à nossa frente. O mundo precisa da sua luz. A humanidade precisa d’Ele como ponte para poder ser alcançada por Deus e pelo seu amor». Este entrelaçamento de mãos é a Igreja, onde as mãos dos seres humanos se unem à mão de Deus que sustenta toda a humanidade.
Cabe-nos agora a nós, cristãos, seguir Leão XIV, chamado a ser bispo de Roma e pastor universal. Segui-lo até ao ponto de desaparecer e de se fazer pequeno «para que Cristo permaneça», como ele disse na homilia da sua primeira missa. Desaparecer como o sal que deve sumir para dar sabor, como a semente que deve morrer para dar fruto. Seguir o pastor como faz o rebanho, sem medo.