
Maria Helena Sequeira
Ecoam ainda hoje os cânticos que há quase dois anos enchiam Lisboa: «Esta é a juventude do Papa». No palco do Parque Eduardo vii, Francisco contemplava as bandeiras coloridas e os sorrisos divertidos dos jovens que sempre quis tão perto de si. E é assim que o recordam os adolescentes que se reuniram em Roma de 25 a 27 de abril, para agora, em uníssono, não deixarem apagar a luz da sua esperança.
Entre eles, um misto de alegria e tristeza marcava os rostos dos jovens portugueses distribuídos pelo recinto diante da basílica de São Pedro e Paulo, na qual aguardavam o momento de oração da Via Lucis com o pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, D. Rino Fisichella. Ansiavam há meses pelo seu Jubileu, para o qual se preparam com afinco, e a notícia do falecimento do Papa Francisco abalou-os a todos. Nunca imaginaram que este fim-de-semana coincidiria com as cerimónias fúnebres daquele Pontífice que os impulsionara à ação, à comunhão, à alegria; desejavam conhecê-lo, pedir-lhe conselhos, deixar que ele os abraçasse naquele carinho esperançoso que era tão seu. E, no entanto, sentiam-se sortudos por dele se poderem despedir de tão perto.
Entre os vários grupos, encontravam-se os adolescentes da Paróquia da Ericeira e da Carvoeira, que com um olhar sempre diferente dos mais crescidos, acreditam que este acontecimento permitirá unir os fiéis de todo mundo e «trazer mais adolescentes a Roma, neste ano jubilar», como disse a Margarida. «O Papa Francisco unia as pessoas, pela sua mensagem de esperança e atenção aos mais necessitados»; «sim, ele ligava católicos e não católicos, havia muita gente que gostava dele ao mesmo tempo» partilham Manuel e Maria, que timidamente concordaram com a colega. De facto, estes jovens sentem a fé na sua praticidade e, como o Santo Padre, anseiam por viver num mundo melhor. Acreditam que ele agora cuida de todos nós e alegram-se com a ideia de lhe poder falar diretamente: «Eu gostava de lhe pedir que olhasse pelos países que estão em guerra, ainda mais agora que ele está no céu, para que ajude as pessoas que estão a sofrer e lhes dê a esperança que lhes falta», quis dizer ainda a Margarida. «Sim, eu concordo com a Margarida, e espero que o Papa Francisco me possa ajudar a encontrar ainda mais a minha fé interior, a ser uma pessoa melhor» exclamou num sorriso a Diana.
Num fim de tarde ameno, jovens de todo o mundo juntaram-se em oração, trocaram abraços e sorrisos e deram vida às sábias palavras de Francisco “alegria, alegria, a vida é muy linda”.
No dia seguinte, eram seis da manhã quando foi permitido aos fiéis entrar na praça de São Pedro para o funeral do Santo Padre. Os adolescentes levantaram-se de madrugada e, com eles, Roma despertou quando o sol ainda não se tinha levantado. O mundo parou e assistiu àquele momento solene; entre lágrimas, despediu-se de Francisco.
O Jubileu dos adolescentes terminou no domingo, 27 de abril, segundo dia dos Novendiali. A praça encheu-se, mais uma vez, de cor: bandeiras, cânticos, oração, num abraço entre gerações que sob o sol de Roma assistiram à Eucaristia e oraram em conjunto.
Foi assim que abril viu despertar a primavera e consigo trouxe a grande despedida. Como na dualidade das estações, entre alvoradas frias e fins de tarde amenos, o mundo viveu a perda entre tristeza e alegria. Mas nesta primavera contrastante, as palavras de Francisco souberam apaziguar os corações mais tenros e inquietos: «a vós, jovens, que quereis mudar o mundo e que quereis lutar pela justiça e a paz; a vós, jovens, que investis na vida esforço e imaginação, ficando porém com a sensação de que não bastam; a vós, jovens, de quem a Igreja e o mundo têm necessidade como a terra tem de chuva; a vós, jovens, que sois o presente e o futuro… Sim, precisamente a vós, jovens, é que Jesus diz hoje: “Não tenhais medo”, “não tenhais medo”!» (Homilia do Santo Padre, Santa Missa para a Jornada Mundial da Juventude, 6 de agosto de 2023).
Ao Papa dos jovens, ao Papa dos desorientados, ao Papa dos últimos, um adeus, um até já, terno e inocente.