
A exposição, inaugurada no final da tarde de 5 de fevereiro na galeria do Instituto português de Santo António em Roma, está dedicada às tradições da Semana Santa em Portugal e Espanha. Patrocinada pelo Embaixador de Portugal junto da Santa Sé, Sua Ex.cia o Senhor Domingos Fezas Vital, propõe-se ser um contributo para o Jubileu de 2025 que o Papa Francisco quis dedicado à Esperança. «Quisemos dar a nossa modesta contribuição» escreve Mons. Agostinho da Costa Borges, Reitor do Instituto — no artigo escrito em colaboração com José Luis Alonso Ponga que publicamos nestas páginas — «oferecendo esta Exposição que pretende mostrar como esta virtude fundamental da Esperança, de que o mundo está hoje tão necessitado, tem sido um guia na religiosidade popular das vilas e cidades da Península Ibérica.
Quando o Papa Francisco anunciou o Jubileu de 2025, quis que este fosse o ano do Caminho da Esperança, espírito que se pode ver em todos os eventos oficiais planeados para este ano. Quisemos dar a nossa modesta contribuição para o desejo do Santo Padre, oferecendo esta Exposição que pretende mostrar como esta virtude fundamental da Esperança, de que o mundo está hoje tão necessitado, tem sido um guia na religiosidade popular das vilas e cidades da Península ibérica.
Na Semana Santa, o povo chega à luz da cruz pelo caminho que as confrarias percorreram desde a Idade Média e que hoje se esforçam por atualizar. A exposição foi concebida como uma forma de pôr em evidência as experiências dos fiéis nas cidades em torno do ciclo mais sagrado da liturgia.
A grande riqueza e variedade de ritos e manifestações da Semana Santa assenta no facto de estar enraizada numa mensagem universal de salvação, uma mensagem única que emana da Igreja, das hierarquias, mas que os diferentes povos adaptaram às necessidades das suas crenças e às práticas das suas tradições. Só interiorizando os valores que o grupo considera inalienáveis é que ele pode viver em profundidade os ritos que o unem à grande tradição eclesial.
A exposição tem como objetivo mostrar ao público em geral como é vivida a Semana Santa na Península ibérica. O povo, guiado pelos pastores, vive em grande profundidade os mistérios da salvação, cada um no seu contexto. Isto é facilitado pelo momento do Plenilúnio da primavera, onde se exaltam as tradições cristãs, mas sem esquecer as do Antigo Testamento ou outras tradições de origem pagã. Todas elas planificadas num todo único da morte e ressurreição de Cristo. Porque, embora São Martinho de Braga, no texto De correctione rusticorum, quisesse purificar a fé do povo das “miseráveis invenções que os rústicos ignorantes adoram”, a Igreja trabalhou arduamente e durante séculos para cristianizar aquelas que não conseguia erradicar. A influência da Diocese bracarense em todo o Noroeste ibérico é também visível nos outros núcleos aqui apresentados. Fundamentalmente na construção da Semana Santa de Bercianos de Aliste, pois, esta vila pertenceu à Diocese de Braga séculos depois da criação das fronteiras entre o reino de Leão e Portugal.
Veremos a importância dada à Via-Sacra, uma devoção muito popular em todo o mundo porque, a partir do século xvii e sobretudo do século xviii, foi estabelecida pela ordem dos franciscanos, com o apoio do Papa que lhes concedeu o poder de erigir as catorze estações onde se venerava a paixão de Cristo, e assim obter um certo número de indulgências.
A celebração da fraternidade e da solidariedade na Quinta-feira Santa, a guarda de adoração diante do “monumento-sepulcro” que é guardado com fé e cuidado pelos habitantes da aldeia e pelos irmãos das diferentes confrarias.
As missas de Sexta-feira Santa e as procissões que os irmãos e irmãs penitentes percorrem com interesse, com o canto dos “misereres”, e as procissões noturnas da Virgem nas suas Angustias e Soledad.
O Sábado Santo, que antes prolongava as procissões penitenciais, embora agora reduzidas pelas novas rubricas, é o intervalo entre a dor e a glória. Desde a missa da Vigília pascal até ao anúncio da Ressurreição na procissão do Encontro que precede a missa. E o regresso para celebrar de novo o centro da vida do cristão: a Ressurreição anunciada no “ressuscitou” e proclamada no “Ele vai diante de vós, para a Galileia, lá o vereis”. Porque, “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé”, como diria o apóstolo Paulo. É esta nova forma de encarar o quotidiano, onde o trágico da vida é gradualmente contrabalançado pela alegria, que também constitui um contínuo intervallum vitae.
As histórias da Semana Santa em Espanha e em Portugal são histórias de esperança nas relações do homem com os seus semelhantes, com os seus vizinhos e com os irmãos da sua confraria, mas também com o seu ambiente, com o nicho ecológico e social em que vive.
As irmandades de Braga encenam uma série de retábulos místicos colocados nas ruas que previamente decoraram como dia de festa urbana. Desfilam também quadros cénicos de temática religiosa, representando cenas do Evangelho. Tudo isto com uma estética poderosa que envolve os espetadores.
Bercianos de Aliste tem na Semana Santa a sua razão de ser. A relação entre a Confraria do Santo Enterro, a Semana Santa, a sobrevivência de tradições que desapareceram noutras partes de Espanha, incluindo os desenclavos, mas também graças à sua perseverança nos seus ritos, preservaram elementos que poderiam ser considerados profanos, mas incontornáveis quando se trata de viver os ritos. As gentes de Bercianos de Aliste conservaram, sem querer, a capa alistana, que é hoje uma identidade zamorana transfronteiriça que partilham com Miranda do Douro e Trás-os-Montes.
Medina de Rioseco é o grande marco da Semana Santa de Castela e Leão. É uma amálgama perfeita de história e presente, um ponto de ancoragem para os habitantes da cidade e, ao mesmo tempo, porque é uma Semana Santa que continua com a estrutura do Renascimento e do Barroco, é essencial compreendê-la para entender o que foi e o que é nestas datas. Acima de tudo, para perceber como foram feitas as mudanças e adaptações desta tradição religiosa ao longo dos séculos, sobretudo em tempos de crise e turbulência.
Peñafiel, que guarda boas imagens, destaca-se pela celebração da Ressurreição no dia de Páscoa. O ato mais marcante é “A descida do Anjo”, celebrado no Domingo de Páscoa, no qual se encena a alegria da Ressurreição. Esta alegria manifesta-se na mudança do manto da Virgem, na largada das pombas ao som do hino nacional e em todo o resto da procissão.
A exposição pretende dar uma ideia de como as vilas e cidades vivem estas datas, e se escolhemos apenas estes quatro locais é porque estamos convencidos de que contêm as características que são comuns a toda a Península ibérica.
Por outro lado, a Exposição tem como objetivo criar uma oferta de turismo religioso em torno da Semana Santa, para que os interessados possam visitar durante esses dias os diferentes locais aqui indicados, pois se escolherem convenientemente um itinerário adequado, aperceber-se-ão de que podem frequentar aqueles que mais lhes agradam, uma vez que o espaço geográfico em causa não é tão vasto que não possa ser percorrido.