
Svitlana Dukhovych
Do que mais gostou de Roma foi a piz-za e o gelado, mas sobretudo do encontro com o Papa Francisco. Também no terceiro encontro com o Santo Padre, depois de 2023 e 2024, houve um longo abraço. Roman Oleksiv, 10 anos, é uma criança serena, apesar do que viveu: um terrível ataque de mísseis russos em Vinnytsia (Ucrânia), no verão de 2022, que o atingiu, a ele e à mãe, matando-a. Roman sobreviveu, mas sofreu queimaduras de terceiro grau em 45% do seu corpo. Desde então, passou por uma série de operações, tratamentos e cirurgias entre a Ucrânia e a Alemanha. Durante muito tempo, teve que usar máscara, macacão e luvas de compressão por causa das cicatrizes e da dor. Agora já não, e assim, com o rosto e as mãos livres, a 3 de fevereiro veio a Roma com alguns representantes da “Alliance Unbroken Kids”, iniciativa que surgiu por ocasião do Encontro sobre os direitos das crianças para criar projetos de apoio às pessoas atingidas por conflitos. Após o encontro, Roman e o seu pai Yaroslav foram entrevistados pelos meios de comunicação social do Vaticano.
Roman, de que gostaste de Roma?
Aquilo do que mais gostei de Roma foi o encontro com o Papa. Além disso, gosto destes pequenos e bonitos bares. É muito agradável vê-los todos à noite.
E qual é a tua comida preferida?
Gosto especialmente de pizza. O gelado também é bom.
Esta foi a quarta vez que te encontraste com o Papa Francisco. Ele reconheceu-te?
Sim, reconheceu-me como o fez das outras vezes.
Que impressão tiveste deste encontro? Sobre o que falastes?
Eu disse-lhe «Bom dia!» em inglês e abracei-o. Também lhe ofereci um presente.
Conta-nos que turma frequentas e de que disciplina mais gostas, e fala-nos dos teus hobbies.
Já estou no quarto ano. Gosto sobretudo de matemática e de desenho. Adoro desenhar, desenho sempre muitos carros, toco acordeão, às vezes harmónica e piano.
O professor de acordeão é o teu pai...
Sim! Dá-me aulas há quatro anos. No início era um pouco estranho, mas agora já estou habituado.
Ultimamente viajaste muito. Estiveste na Itália e na Alemanha, onde também te encontraste com algumas crianças. O que te perguntam sobre a Ucrânia e o que lhes dizes?
No início, quando cheguei à Alemanha, todos me perguntavam: «Porque usas a máscara? O que te aconteceu? Porque tens um aspeto tão estranho?». E eu respondia com calma. Depois deixaram de me fazer perguntas, dado que já sabiam e compreendiam.
Ajudaram-te, sentiste o apoio deles?
Sim, recebi muita ajuda.
Para muitas crianças, embora não te digam, és provavelmente um exemplo. A tua experiência mostra que és forte e corajoso. Mas para ti, quem é o exemplo? Talvez os heróis dos livros ou dos filmes, ou alguém da vida real? Quem é, em síntese, o teu super-homem?
O meu pai é um exemplo para mim, porque me mostra como lutar e como fazer coisas diferentes. Aprendo com os seus exemplos e o mais importante que ele me diz sempre é para não me render.
Quando falas da Ucrânia a outras crianças ou adultos, o que lhes dizes sobre o teu país? Porque gostas dele? O que tem de especial?
A peculiaridade da Ucrânia é que lá me sinto bem, porque falo a minha língua materna. Noutros lugares, tenho que aprender uma língua e depois falá-la, e não me sinto à vontade. Na Ucrânia, ao contrário, posso falar com liberdade e tranquilidade.
Senhor Yaroslav, obrigado por ter trazido aqui Roman. O seu filho diz que é o seu herói. Onde encontra força e inspiração?
Tiramos força um do outro. Para mim, Roman é o exemplo: o modo como luta, a forma como se organiza, a maneira como sara com a sua energia... A minha missão consiste em dar-lhe mais força. Juntos procuramos organizar tudo em conjunto, realizar um sonho. Isto é importante porque nos inspira a vontade de viver, de criar, de ir em frente.
Roman, qual é o teu sonho?
Quando eu for grande, gostaria de projetar o meu próprio carro e aprender a guiar.
E o seu, Yaroslav?
O meu sonho é um pouco diferente. Gostaria que o Roman se tornasse uma pessoa autêntica e desejo que esta bondade, esta energia que ele tem agora, perdure por toda a vida. Digo sempre que, independentemente do que vier a ser, o mais importante é que seja um verdadeiro ser humano. Isto é muito importante!
O que significaram estes encontros com o Papa Francisco no Vaticano?
Este encontro foi especial, porque o Papa disse coisas que eu não esperava ouvir. Disse-me que tenho o dever de transmitir ao Roman a força de espírito que tenho, para que ele não pare, mas vá em frente. Fez-me bem ouvir isto. Disse-me também: «Fazes muito pelo teu filho e é importante que mantenhas estes valores familiares vivos inclusive no futuro». Parece-me que o mais importante é que a família tenha estes valores, que se ajudem uns aos outros, sem se render.
Há muitas famílias na Ucrânia que, infelizmente, passam por momentos difíceis. E não só na Ucrânia, mas também noutras partes do mundo. Com base na sua experiência, o que gostaria de lhes dizer?
Como Roman disse, nunca devemos desistir. Mas também que é preciso comunicar, quer falemos com uma criança quer com um adulto, e fixar um objetivo. O importante é ter sempre um sonho que gostaríamos de realizar e que nos encoraje a prosseguir. É preciso continuar a ir em frente sempre. Porque se desistirmos, é muito difícil sairmos deste estado.
É difícil ou fácil pedir ajuda aos outros? Acho que é difícil enfrentar tudo isto sozinho. Como consegue fazê-lo?
Nos últimos dois anos e meio, desde que ocorreu a tragédia, encontrei sempre pessoas a quem não foi necessário pedir ajuda: são elas que no-la oferecem. E isto é muito bom! Também sinto uma espécie de paz interior e vejo que as pessoas se abrem e estão prontas a ajudar em qualquer situação. Também isto é fonte de inspiração! A vida encoraja-nos de alguma forma; é muito mais fácil viver quando recebemos ajuda dos outros.
Quanto a ti, Roman, o teu pai disse que quer que te tornes um homem bom, um homem com a letra “H” maiúscula. A teu ver, como deveria ser uma pessoa boa, uma pessoa autêntica?
Uma pessoa pronta a ajudar, gentil, que compreende quando alguém precisa de ajuda.
Senhor Yaroslav, quer acrescentar algo?
Obrigado a todos pelo vosso apoio e pelo modo como nos tratais. Isto é muito bom e dá-nos asas para ir em frente e crescer. Estou muito satisfeito por termos tido a oportunidade de vir ao Vaticano e de nos encontrarmos com o Papa. Também isto é uma grande ajuda para nós. Quando voltarmos para casa, sentiremos esta graça e, depois, tornar-se-á mais fácil enfrentar a vida. Uma das tarefas que nos propusemos consiste precisamente em informar outras pessoas sobre o que ocorre na Ucrânia e, na medida do possível, mostrar com o exemplo que não podemos render-nos, que devemos continuar e que, com a ajuda de Deus, superaremos tudo.
Roman, hoje no Vaticano, não sei se viste, havia muitas crianças. O que gostarias de lhes dizer?
Gostaria de lhes dizer que, por mais difícil que seja, aconteça o que acontecer, não podemos desanimar, devemos continuar e no final alcançaremos o resultado que desejávamos.