Viagem pelos Jubileus

O perdão que encontra em Jesus uma porta sempre aberta

 O perdão que encontra  em Jesus uma porta sempre aberta  POR-002
05 fevereiro 2025

Amedeo Lomonaco

Opercurso dos Jubileus, desde as suas origens em 1300, é um caminho que se desenrola em contextos históricos muito diferentes. Trata-se de um itinerário de fé orientado sempre pela mesma bússola: a do perdão que encontra em Jesus uma “Porta” sempre aberta. A história dos Anos santos, em particular, pode ser lida também através das Bulas de proclamação, documentos geralmente escritos em latim com o selo do Papa, em que se indicam as datas do início e do fim do Jubileu. Originariamente, o selo — ou seja, a “bula” — era geralmente de chumbo e trazia no verso a imagem dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. As Bulas de proclamação dos Jubileus dos séculos xx e xxi atravessaram viragens cruciais da história, tempos marcados pelo progresso, mas também por momentos dramáticos. Na Bula para o Ano santo de 1900, Properante ad exitum saeculo, Leão xiii, o Pontífice da Rerum novarum, recorda o contexto no qual se regista a passagem entre dois séculos, marcado pelas «mudadas condições de Roma», proclamada capital do reino de Itália. O Jubileu de 1900, com o Pontífice «prisioneiro no Vaticano» por causa da questão romana, insere-se num mundo cada vez mais pequeno, em que os navios a vapor sulcam rapidamente os oceanos e a rede ferroviária se torna cada vez mais abrangente. Referindo-se ao Ano santo, Leão xiii lança um apelo ao despertar da fé no povo cristão e exorta a vencer o desafio da modernização.

O início do século xx é abalado pela primeira guerra mundial que, de 1914 a 1918, inflama a Europa. Milhões de homens combatem e morrem. As armas, entre as quais gases asfixiantes, tanques e aviões munidos de bombas, são cada vez mais devastadoras. Um outro acontecimento deste primeiro vislumbre do século xx, marcado entre outras coisas pela ascensão dos totalitarismos, é a deposição do czar russo e a vitória dos revolucionários comunistas. Em 1924, Pio xi proclama o Ano santo de 1925 com a Bula intitulada Infinita Dei misericordia. Neste documento, o Pontífice exorta a uma «restauração da sociedade». Muitos países estão ainda abalados pelas feridas lacerantes provocadas pela primeira guerra mundial. «Não se vê — escreve o Pontífice — como se poderão restaurar os vínculos de fraternidade entre os povos e como se possa restabelecer uma paz duradoura, se os cidadãos e os próprios governos não se imbuírem daquela caridade que por muito tempo, infelizmente, sobretudo por causa da guerra, parece adormecida e quase abandonada».

Em 1933, na celebração dos 1900 anos da morte de Jesus, inaugura-se o Jubileu extraordinário da Redenção, anunciado por Pio xi na Bula de proclamação Quod nuper. «Que os homens — escreve o Pontífice — desviem, pelo menos um pouco, o seu pensamento das coisas terrenas e instáveis, com as quais hoje lutam tão dolorosamente, para as coisas celestiais e eternas; e que, das condições trépidas e tristes destes tempos, elevem o seu espírito à esperança daquela felicidade para a qual Jesus Cristo Nosso Senhor nos chamou». Este é um período em que se assiste, em vários países, à crise dos valores democráticos. Nos anos que se seguiram à primeira guerra mundial, fortes tensões sociais e reivindicações nacionalistas são, de facto, o pano de fundo em que se insere a instauração de regimes totalitários. O fascismo em Itália e o nazismo na Alemanha conduzem o mundo ao segundo conflito mundial. Um horror que provoca mais de 50 milhões de mortos e imensas destruições.

A Bula de proclamação do Jubileu do Ano santo de 1950, Iubilaeum maximum, segue o drama da segunda guerra mundial. A esperança de Pio xii é que o Jubileu «prepare com alegria um regresso geral a Cristo». O Papa vislumbra a esperança entre as ruínas, não só materiais, de um novo humanismo. «Volte finalmente a paz ao coração de todos, entre as paredes domésticas, em cada nação, na comunidade universal dos povos». Os anos que se seguem à segunda guerra mundial são anos em que se desenham novos equilíbrios geopolíticos, ditados por duas grandes potências mundiais, os Estados Unidos e a União Soviética. O mundo é dividido em blocos e abre-se uma «guerra fria», baseada também na estratégia da dissuasão das armas nucleares.

Os anos setenta do século xx foram marcados, entre outros aspetos, pelo processo de secularização, por numerosos conflitos como o do Vietname, e pela difusão dos movimentos de contestação juvenil. A sociedade de 1968 pede uma mudança profunda do tecido social. Neste contexto, abre-se, em 1975, o Jubileu proclamado por Paulo vi com a Bula Apostolorum limina. A Igreja, «sem invadir os campos que não são de sua competência, quer fazer sentir aos homens a exigência da conversão a Deus». «Para o mundo inteiro, este apelo à renovação e à reconciliação corresponde às mais sinceras aspirações de liberdade, de justiça, de unidade e de paz».

Renovando o convite formulado, a seguir à eleição para a cátedra de Pedro, João Paulo ii lança um apelo dirigido a toda a Igreja para o Jubileu extraordinário de 1983, por ocasião do 1950º aniversário da redenção. É aquele expresso no título da Bula de proclamação, Aperite portas Redemptori. O Pontífice exorta a abrir as portas ao Redentor. Os anos 80 são momentos abalados por flagelos como o da sida, e o progressivo desmantelamento das barreiras entre o Oriente e o Ocidente. A queda do muro de Berlim, em 1989, leva a uma nova ordem geopolítica. Um modelo económico determinado, sobretudo, pelos processos de globalização começa a impor-se em várias regiões do planeta.

O Jubileu do ano 2000 acompanha os primeiros passos da humanidade no terceiro milénio. Na Bula de proclamação, Incarnationis mysterium, João Paulo ii deseja que o Ano santo seja «um único, ininterrupto cântico de louvor à Trindade». «A passagem dos crentes para o terceiro milénio — escreve o pontífice — não se ressente de forma alguma do cansaço que o peso de dois mil anos de história poderia acarretar consigo; antes, os cristãos sentem-se revigorados com a certeza de levarem ao mundo a luz verdadeira, Cristo Senhor». A primeira década do terceiro milénio é abalada por múltiplos acontecimentos, entre os quais o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 às Twin Towers e ao Pentágono. São anos em que a crise financeira, iniciada nos Estados Unidos, traz pesadas consequências a todo o mundo.

«Não caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão». Esta é uma das passagens da Bula de proclamação de 2015, Misericordiae vultus, do Jubileu extraordinário da Misericórdia, no cinquentenário do fim do Concílio Vaticano ii. O Papa Francisco sublinha que a pedra angular da vida da Igreja é a misericórdia. São anos em que o fenómeno migratório se torna cada vez mais relevante e crescem os desequilíbrios entre as regiões do Norte e do Sul do planeta.

O Ano santo de 2025 é precedido por vários flagelos, como a pandemia e a eclosão de numerosas guerras, incluindo a da Ucrânia e do Médio Oriente. Na Bula de proclamação, intitulada Spes non confundit, o Papa Francisco indica, antes de mais, um horizonte: «Que o primeiro sinal de esperança se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra». O Papa sublinha que, mesmo nesta era marcada pelas redes digitais e pela inteligência artificial, «a esperança que não desilude» permanece sempre uma Pessoa: Jesus é a “Porta” para a qual a humanidade deve tender a fim de viver a esperança e encontrar a verdadeira consolação.