«Foi um encontro importante e emocionante. O Santo Padre mostrou um interesse extraordinário pelos esforços de paz no Médio Oriente». Ehud Olmert, 78 anos, ex-primeiro-ministro do Estado de Israel, encontrou-se na manhã de 17 de outubro com o Papa Francisco, com o ex-ministro dos Negócios estrangeiros do Estado palestiniano, Nasser Al-Kidva, e com uma delegação de ativistas da paz. Olmert, que foi primeiro-ministro até 2009, tem um passado importante nas negociações para a paz no Médio Oriente: sob o seu governo foi assinado um cessar-fogo na guerra de 2006 no Líbano, e a ele se deve a última tentativa real de um acordo de dois Estados com o presidente palestiniano Mohamud Abbas, como desenvolvimento dos acordos de Oslo de 1993, um acordo que não foi alcançado. «O Papa Francisco dedicou-nos uma atenção extraordinária durante mais de meia hora, explicando que segue diariamente cada evolução do conflito e que todos os dias se mantém em contacto com os cristãos de Gaza».
«Apresentámos ao Santo Padre a nossa proposta de paz para Gaza, que prevê um cessar-fogo imediato, a libertação dos reféns israelitas ainda detidos pelo Hamas, com a libertação simultânea de um número concordado de detidos palestinianos nas prisões israelitas, e a retomada das negociações para o estabelecimento de dois Estados separados e em paz entre eles», explica o ex-ministro palestiniano Al-Kidva, conhecido na Palestina não só pelas suas posições a favor da paz, mas também por ser sobrinho do líder histórico da Olp, Yasser Arafat.
Senhor Olmert, como é possível criar atualmente dois Estados com a presença de colonos israelitas em colonatos ilegais cada vez maiores?
A nossa hipótese é a de uma anexação por Israel de uma porção de território a acordar equivalente a 4% da Cisjordânia palestina, em troca de um território de igual dimensão atualmente dentro das fronteiras de Israel. Um território a ser dado aos palestinianos que permitiria um corredor de ligação entre a Cisjordânia e Gaza.
Senhor Al-Kidva, que solução para Gaza?
Israel deve retirar completamente as suas forças armadas de Gaza e permitir a criação de uma entidade palestiniana que a administre. Pensamos, como solução temporária e provisória, num Conselho de comissários composto por tecnocratas e profissionais de reconhecido valor e não por representantes políticos. Este conselho deveria estar ligado ao Conselho de ministros da Autoridade Palestiniana, que deveria finalmente preparar eleições gerais nos territórios palestinianos em 24/36 meses.
Senhor Olmert, este exercício de boa vontade de ambas as partes seria suficiente, na sua opinião, para garantir uma pacificação imediata?
Não. Pensamos também que é necessária uma “Temporary Arab security presence (Presença árabe temporária de segurança)” (Tasp) em Gaza que, em simultâneo com a retirada das Forças de defesa israelitas (Idf), poderia estabilizar a situação. Esta força de interposição árabe deveria estar em ligação com as forças de segurança da Autoridade nacional palestiniana (Anp) e receber orientações do Conselho de comissários. A sua principal tarefa deveria ser a de impedir novos ataques a Israel provenientes de Gaza.
Como poderia a solução de dois Estados garantir um futuro pacífico?
Através da obrigação para o Estado da Palestina de ser um Estado não militarizado, exceto para as suas necessidades de polícia interna.
Desta forma, Senhor Olmert, ficaria em aberto o problema central: o status de Jerusalém.
Este é o ponto em que o Papa Francisco, no nosso encontro de 17 do corrente, estava mais interessado. Pensamos num estatuto especial para Jerusalém, que deveria ser gerido por uma administração fiduciária de cinco Estados (entre os quais, obviamente, Israel e Palestina) que teriam plena autoridade sobre todas as partes da cidade, de acordo com as regras repetidamente indicadas pelo Conselho de segurança da Onu, e com um papel especial atribuído ao Reino da Jordânia, como já acontece atualmente para a Esplanada das Mesquitas. Em todo o caso, pensamos que a Cidade Velha deve estar fora do controlo político e ser dedicada às três religiões monoteístas que a consideram um lugar sagrado de oração.
E quanto às reivindicações de ambas as partes de ter Jerusalém como capital do seu Estado?
Olmert: Jerusalém pode ser a capital de Israel nas partes que já eram Israel antes de 5 de junho de 1967, para além dos bairros judeus construídos depois de 67, que seriam abrangidos pelos 4,4% a que me referi anteriormente.
Al-Kidva: e Al Quds, capital da Palestina, incluiria todos os bairros árabes que não faziam parte de Israel antes da guerra de 1967.
Uma última pergunta, Senhor Olmert. Este plano bem articulado corre o risco de não passar de uma vã esperança. Está em total contradição com as intenções do atual Governo israelita.
Aqueles que me conhecem sabem o que penso do governo liderado por Netanyahu e subordinado ao fanatismo extremista de Ben Gvir e Smotrich. Mas conforta-me o facto de 70% dos israelitas estarem cansados desta coligação, dos enormes danos que causou e continua a causar a Israel. Israel é uma democracia forte, e saberá superar democraticamente este governo.
Com que alternativas?
A sociedade civil que há dois anos se manifesta massivamente contra Netanyahu saberá expressar uma nova liderança que hoje nem sequer imaginamos. Porque, repito, Israel é um país democraticamente vivo e sólido.
Roberto Cetera