Angelus na praça de São Pedro

Imediato cessar-fogo em todas as frentes da guerra

Pope Francis addresses the crowd from the window of the Apostolic Palace overlooking St Peter's ...
10 outubro 2024

No final do Angelus de 5 de outubro o Papa Francisco renovou o apelo ao «cessar-fogo imediato em todas as frentes, incluindo no Líbano». Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, o Pontífice introduziu a recitação da prece mariana com os fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, comentando o Evangelho dominical, centrado no tema do amor conjugal. Eis a sua meditação.

Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!

Hoje, no Evangelho da liturgia (cf. Mc 10, 2-16), Jesus fala-nos do amor conjugal. Como noutras ocasiões, alguns fariseus fazem-Lhe uma pergunta provocadora sobre um tema controverso: o repúdio da esposa por parte do marido. Queriam arrastá-lo para uma polémica, mas ele não cai nisso, antes, aproveita a ocasião para chamar a atenção deles para uma questão mais importante: o valor do amor entre o homem e a mulher.

No tempo de Jesus, a condição da mulher no matrimónio era muito desvantajosa em relação à do homem: o marido podia expulsar, repudiar a esposa, até por motivos fúteis, e isso era justificado com interpretações legalistas das Escrituras. É por isso que o Senhor reconduz os seus interlocutores às exigências do amor. Recorda-lhes que mulher e homem foram desejados pelo Criador para serem iguais em dignidade e complementares na diversidade, para poderem ser ajuda e companhia um do outro, mas ao mesmo tempo estímulo e desafio para crescer (cf. Gn 2, 20-23).

E, para que isso aconteça, sublinha a necessidade de que o dom recíproco seja pleno, envolvente, sem “meias medidas” — isto é o amor — para que seja o início de uma vida nova (cf. Mc 10, 7; Gn 2, 24), destinada a durar não “enquanto me apetecer”, mas para sempre, acolhendo-se mutuamente e vivendo unidos como “uma só carne” (cf. Mc 10, 8; Gn 2, 24). Claro que isto não é fácil, exige fidelidade, mesmo nas dificuldades, exige respeito, sinceridade, simplicidade (cf. Mc 10, 15). É preciso estar abertos ao confronto, por vezes à discussão, quando é preciso, mas sempre prontos ao perdão e à reconciliação. E atenção: marido e esposa, discutam à vontade, desde que façam as pazes antes do fim do dia! Sabem porquê? Porque a guerra fria do dia seguinte é perigosa. “E diga-me, Padre, como é que se faz a paz?” — “Basta uma carícia, assim”, mas nunca terminar o dia sem fazer as pazes.

Não esqueçamos, portanto, que é essencial que os esposos se abram ao dom da vida, ao dom dos filhos, que são o mais belo fruto do amor, a maior bênção de Deus, fonte de alegria e de esperança para cada lar e toda a sociedade. Tende filhos! Ontem tive uma grande consolação. Era o dia da Gendarmaria, e um gendarme veio com os seus oito filhos! Foi bonito vê-lo. Por favor, abertos à vida, ao que Deus envia.

Queridas irmãs, queridos irmãos, o amor é exigente, sim, mas é belo, e quanto mais nos deixamos envolver por ele, mais descobrimos nele a verdadeira felicidade. E agora, que cada um se pergunte no seu coração: como é o meu amor? É fiel? É generoso? É criativo? Como são as nossas famílias? Estão abertas à vida, ao dom dos filhos?

Que a Virgem Maria ajude os esposos cristãos. Dirijamo-nos a Ela em união espiritual com os fiéis reunidos no Santuário de Pompeia para a tradicional Súplica a Nossa Senhora do Santo Rosário!

Depois do Angelus, o Papa renovou o apelo à paz no Médio Oriente, na véspera do aniversário do início do conflito, referindo-se em particular a Israel, Palestina, Líbano e Irão. Em seguida, assegurou a proximidade às populações da Bósnia e Herzegovina, atingidas por inundações e saudou os grupos presentes.

Amados irmãos e irmãs!

Amanhã completa-se um ano após o ataque terrorista contra o povo de Israel, a quem renovo a minha solidariedade. Não esqueçamos que ainda há muitos reféns em Gaza, para os quais peço a libertação imediata. Desde esse dia, o Médio Oriente mergulhou num sofrimento cada vez maior, com ações militares destrutivas que continuam a atingir a população palestiniana. Esta população está a sofrer muito em Gaza e noutros territórios. Trata-se, na sua maioria, de civis inocentes, que devem receber toda a ajuda humanitária de que necessitam. Peço um cessar-fogo imediato em todas as frentes, incluindo o Líbano. Rezemos pelos libaneses, especialmente pelos habitantes do sul, que são obrigados a abandonar as suas aldeias.

Faço apelo à comunidade internacional, para que se ponha fim à espiral de vingança e não se repitam mais ataques, como o que foi levado a cabo pelo Irão há alguns dias, que podem fazer mergulhar aquela região numa guerra ainda maior. Todas as nações têm o direito de existir em paz e segurança, e os seus territórios não devem ser atacados ou invadidos, a soberania deve ser respeitada e garantida pelo diálogo e pela paz, e não pelo ódio e pela guerra.

Nesta situação, a oração é ainda mais necessária. Esta tarde, iremos todos à Basílica de Santa Maria Maior para invocar a intercessão da Mãe de Deus; e amanhã será um dia de oração e jejum pela paz mundial. Unamo-nos com a força do Bem contra as conspirações diabólicas da guerra.

Estou próximo das populações da Bósnia e Herzegovina atingidas pelas inundações. Que o Senhor acolha os mortos, conforte as suas famílias e proteja estas comunidades.

Saúdo-vos, romanos e peregrinos de Itália e de muitos países. Saúdo em particular a banda musical de Cabañas (El Salvador) — que ouviremos tocar mais tarde — os fiéis polacos devotos do Santuário de Nossa Senhora da Misericórdia da diocese de Radom e quantos vieram de Martinica. Saúdo o grupo de peregrinos do Santuário da Virgem do Apocalipse das Três Fontes, que hoje levará a imagem de Nossa Senhora de São Pedro até este Santuário mariano de Roma, rezando pela paz. Saúdo os antigos alunos do Seminário Menor “Poggio Galeso” de Taranto; saúdo a Associação Teatro Patologico de Roma, a banda da Escola “Sacra Famiglia” de Cremona e os participantes no evento “Fiabaday”, que trabalham para a eliminação das barreiras arquitetónicas.

No final, o Papa anunciou o próximo Consistório para 8 de dezembro com as palavras que publicamos na íntegra na primeira página e despediu-se.

E desejo a todos vós bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!