No final do Angelus de 5 de outubro o Papa Francisco renovou o apelo ao «cessar-fogo imediato em todas as frentes, incluindo no Líbano». Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, o Pontífice introduziu a recitação da prece mariana com os fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, comentando o Evangelho dominical, centrado no tema do amor conjugal. Eis a sua meditação.
Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!
Hoje, no Evangelho da liturgia (cf. Mc 10, 2-16), Jesus fala-nos do amor conjugal. Como noutras ocasiões, alguns fariseus fazem-Lhe uma pergunta provocadora sobre um tema controverso: o repúdio da esposa por parte do marido. Queriam arrastá-lo para uma polémica, mas ele não cai nisso, antes, aproveita a ocasião para chamar a atenção deles para uma questão mais importante: o valor do amor entre o homem e a mulher.
No tempo de Jesus, a condição da mulher no matrimónio era muito desvantajosa em relação à do homem: o marido podia expulsar, repudiar a esposa, até por motivos fúteis, e isso era justificado com interpretações legalistas das Escrituras. É por isso que o Senhor reconduz os seus interlocutores às exigências do amor. Recorda-lhes que mulher e homem foram desejados pelo Criador para serem iguais em dignidade e complementares na diversidade, para poderem ser ajuda e companhia um do outro, mas ao mesmo tempo estímulo e desafio para crescer (cf. Gn 2, 20-23).
E, para que isso aconteça, sublinha a necessidade de que o dom recíproco seja pleno, envolvente, sem “meias medidas” — isto é o amor — para que seja o início de uma vida nova (cf. Mc 10, 7; Gn 2, 24), destinada a durar não “enquanto me apetecer”, mas para sempre, acolhendo-se mutuamente e vivendo unidos como “uma só carne” (cf. Mc 10, 8; Gn 2, 24). Claro que isto não é fácil, exige fidelidade, mesmo nas dificuldades, exige respeito, sinceridade, simplicidade (cf. Mc 10, 15). É preciso estar abertos ao confronto, por vezes à discussão, quando é preciso, mas sempre prontos ao perdão e à reconciliação. E atenção: marido e esposa, discutam à vontade, desde que façam as pazes antes do fim do dia! Sabem porquê? Porque a guerra fria do dia seguinte é perigosa. “E diga-me, Padre, como é que se faz a paz?” — “Basta uma carícia, assim”, mas nunca terminar o dia sem fazer as pazes.
Não esqueçamos, portanto, que é essencial que os esposos se abram ao dom da vida, ao dom dos filhos, que são o mais belo fruto do amor, a maior bênção de Deus, fonte de alegria e de esperança para cada lar e toda a sociedade. Tende filhos! Ontem tive uma grande consolação. Era o dia da Gendarmaria, e um gendarme veio com os seus oito filhos! Foi bonito vê-lo. Por favor, abertos à vida, ao que Deus envia.
Queridas irmãs, queridos irmãos, o amor é exigente, sim, mas é belo, e quanto mais nos deixamos envolver por ele, mais descobrimos nele a verdadeira felicidade. E agora, que cada um se pergunte no seu coração: como é o meu amor? É fiel? É generoso? É criativo? Como são as nossas famílias? Estão abertas à vida, ao dom dos filhos?
Que a Virgem Maria ajude os esposos cristãos. Dirijamo-nos a Ela em união espiritual com os fiéis reunidos no Santuário de Pompeia para a tradicional Súplica a Nossa Senhora do Santo Rosário!
Depois do Angelus, o Papa renovou o apelo à paz no Médio Oriente, na véspera do aniversário do início do conflito, referindo-se em particular a Israel, Palestina, Líbano e Irão. Em seguida, assegurou a proximidade às populações da Bósnia e Herzegovina, atingidas por inundações e saudou os grupos presentes.
Amados irmãos e irmãs!
Amanhã completa-se um ano após o ataque terrorista contra o povo de Israel, a quem renovo a minha solidariedade. Não esqueçamos que ainda há muitos reféns em Gaza, para os quais peço a libertação imediata. Desde esse dia, o Médio Oriente mergulhou num sofrimento cada vez maior, com ações militares destrutivas que continuam a atingir a população palestiniana. Esta população está a sofrer muito em Gaza e noutros territórios. Trata-se, na sua maioria, de civis inocentes, que devem receber toda a ajuda humanitária de que necessitam. Peço um cessar-fogo imediato em todas as frentes, incluindo o Líbano. Rezemos pelos libaneses, especialmente pelos habitantes do sul, que são obrigados a abandonar as suas aldeias.
Faço apelo à comunidade internacional, para que se ponha fim à espiral de vingança e não se repitam mais ataques, como o que foi levado a cabo pelo Irão há alguns dias, que podem fazer mergulhar aquela região numa guerra ainda maior. Todas as nações têm o direito de existir em paz e segurança, e os seus territórios não devem ser atacados ou invadidos, a soberania deve ser respeitada e garantida pelo diálogo e pela paz, e não pelo ódio e pela guerra.
Nesta situação, a oração é ainda mais necessária. Esta tarde, iremos todos à Basílica de Santa Maria Maior para invocar a intercessão da Mãe de Deus; e amanhã será um dia de oração e jejum pela paz mundial. Unamo-nos com a força do Bem contra as conspirações diabólicas da guerra.
Estou próximo das populações da Bósnia e Herzegovina atingidas pelas inundações. Que o Senhor acolha os mortos, conforte as suas famílias e proteja estas comunidades.
Saúdo-vos, romanos e peregrinos de Itália e de muitos países. Saúdo em particular a banda musical de Cabañas (El Salvador) — que ouviremos tocar mais tarde — os fiéis polacos devotos do Santuário de Nossa Senhora da Misericórdia da diocese de Radom e quantos vieram de Martinica. Saúdo o grupo de peregrinos do Santuário da Virgem do Apocalipse das Três Fontes, que hoje levará a imagem de Nossa Senhora de São Pedro até este Santuário mariano de Roma, rezando pela paz. Saúdo os antigos alunos do Seminário Menor “Poggio Galeso” de Taranto; saúdo a Associação Teatro Patologico de Roma, a banda da Escola “Sacra Famiglia” de Cremona e os participantes no evento “Fiabaday”, que trabalham para a eliminação das barreiras arquitetónicas.
No final, o Papa anunciou o próximo Consistório para 8 de dezembro com as palavras que publicamos na íntegra na primeira página e despediu-se.
E desejo a todos vós bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!