Intervenções dos arcebispos de Porto Alegre, Abijão e Tóquio na Sala de Imprensa da Santa Sé

A iniciação cristã e a formação na fé no coração da comunidade

 A iniciação cristã e a formação na fé  no coração da comunidade  POR-041
10 outubro 2024

Ainiciação cristã e a formação na fé devem envolver toda a comunidade, em virtude do sacramento batismal que une os fiéis: porque, em última análise, «não pode haver iniciação cristã sem comunidade». Retomando um dos temas principais dos trabalhos da Segunda sessão da 16ª Assembleia geral ordinária do Sínodo dos bispos, o cardeal eleito Ignace Bessi Dogbo, arcebispo de Abijão, na Costa do Marfim, durante o briefing de 8 de outubro na Sala de Imprensa da Santa Sé, quis sublinhar precisamente o sacramento do batismo. «Graças a ele somos conformados com Cristo e todos podemos reconhecer-nos como filhos de Deus e irmãos em Cristo». E isso «permite que cada um de nós, por sua vez, veja e encontre no próximo a pessoa e o rosto de Jesus».

Fazendo depois um paralelismo entre o que está a acontecer na Igreja universal e, nestas semanas, no seio da assembleia sinodal, Bessi Dogbo sublinhou a importância da escuta recíproca e das relações que estão a ser vividas na Sala Paulo vi , «num ambiente extraordinário» de comunhão e de partilha: «Temos a consciência de que não estamos a mudar materialmente a Igreja, mas encontramo-nos num processo que levará a mudar o modo de viver a Igreja num futuro próximo. E a capacidade de escutar», concluiu, «vem precisamente do reconhecimento mútuo, que permite a cada um ter o seu lugar na vida da comunidade eclesial».

Tarcisio Isao Kikuchi, arcebispo de Tóquio e também cardeal eleito, falou sobre a escuta, referindo-se em particular à sua experiência no Japão. «Entre as duas sessões do Sínodo, no meu país, lançámos as bases de uma verdadeira sinodalidade», disse: houve «uma congregação nacional com a participação das 15 dioceses, presbíteros, leigos, voluntários, ministros envolvidos nas diferentes atividades, durante a qual o nosso diálogo no Espírito, que também estamos a praticar aqui no Vaticano, nestes dias de trabalho no Sínodo, foi gradualmente reforçado». O objetivo comum, concluiu D. Kikuchi, que é também presidente da Caritas internationalis desde maio de 2023, é «procurar, encontrar e construir uma base comum na esteira da sinodalidade».

D. Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, Brasil, falou da sua surpresa, suscitada por uma pergunta da moderadora do briefing, Cristiane Murray, diretora adjunta da Sala de Imprensa, sua compatriota. «Acabava de ler um belo livro de Carlo Maria Martini, intitulado Sequela Christi, quando o meu telefone começou a tocar e a vibrar. Recebia muitas mensagens de felicitações e desejos via WhatsApp, mas não sabia porquê. Depois, os muitos amigos que me escreviam avisaram-me para ver o Angelus do Papa, porque ele estava a citar-me, e foi aí que percebi», explicou. «Foi naturalmente uma alegria imensa, sabendo que ser cardeal significa servir o Papa e a Igreja. Estou grato ao Santo Padre», disse emocionado, «pela oportunidade de colaborar neste momento tão delicado para a história do mundo, da humanidade e da própria comunidade eclesial».

No final dos discursos, foi reservado um espaço para as perguntas dos jornalistas acreditados. O cardeal eleito Spengler, questionado sobre o estilo de governo que o Sínodo deverá assumir, destacou uma «crise das democracias» alargada às «instituições mediadoras da sociedade». O arcebispo de Porto Alegre recordou as palavras de Paulo vi , que explicava que o ser humano «ouve com mais atenção as testemunhas do que os mestres».

Um conceito que também foi retomado pelo cardeal eleito Kikuchi, que afirmou a necessidade de abandonar um estilo “piramidal” por um “sinodal”. Isto não deve significar medidas baseadas exclusivamente no “consenso”. Mesmo através de um «discernimento comum, há sempre alguém que deve tomar as decisões finais». Aos três cardeais eleitos, provenientes de três regiões muito diferentes do mundo, foi pedido que identificassem algo identitário das suas comunidades de origem. Todos concordaram em aderir ao ideal sinodal da “troca de dons”. A troca de dons «costumava ser feita do Ocidente para o Oriente, dos países industrializados para os países em vias de desenvolvimento», observou o arcebispo de Tóquio, referindo-se a uma mudança de paradigma que identifica as “periferias” mencionadas pelo Papa Francisco que agora são também parte integrante do continente europeu.

O arcebispo de Abijão, por outro lado, afirmou a riqueza “espiritual” das dioceses africanas, onde «a fé é vivida com alegria». O clérigo da Costa do Marfim contou como, ao ouvir a notícia da sua nomeação como cardeal, a comunidade da sua aldeia saiu para as ruas e a banda local tocou festivamente. «A África deve partilhar esta alegria simples de gente pobre e humilde, que se alegra com as pequenas coisas». Por sua vez, o arcebispo de Porto Alegre destacou a contribuição dos migrantes no processo de evangelização na América Latina: «muitas vezes enganados, mas com um valor muito bonito: a determinação». O prelado brasileiro respondeu também a algumas perguntas sobre a Amazónia e a possibilidade de criar um rito específico para as comunidades indígenas onde «passam meses, até anos, sem uma celebração eucarística». Dentro do Conselho episcopal latino-americano (Celam), do qual Spengler é presidente, há grupos que estão a trabalhar na possibilidade de uma tal integração. A par desta hipótese, há a de uma “inculturação” do rito romano tradicional nas populações locais. A este respeito, recordou a “dignidade” dos fiéis indígenas na realização dos serviços tradicionais. «Um valor que por vezes já não vemos nas nossas missas, por mais solenes que sejam».

Por fim, o arcebispo de Porto Alegre foi questionado sobre o que disse ser a “delicada” questão do celibato sacerdotal. «Há necessidade de franqueza e de abertura», afirmou, citando o caso de um bispo nomeado na região do Rio Xingu, no centro do Brasil e duas vezes maior do que a Itália. No dia seguinte à sua tomada de posse, «encontraram-se sozinhos ele e outro sacerdote». A partir da experiência do «diaconado permanente», concluiu Spengler, «talvez, no futuro, estes homens possam ser ordenados sacerdotes para uma comunidade específica». O caminho? «Não sei, mas podemos percorrê-lo tendo em consideração os aspetos teológicos e os sinais dos tempos», respondeu.

Roberto Paglialonga
e Edoardo Giribaldi