«O Líbano é e deve continuar a ser um projeto de paz», reiterou vigorosamente o Papa Francisco dirigindo-se aos familiares das vítimas da explosão ocorrida há quatro anos no porto de Beirute. Recebendo-os em audiência na manhã de 26 de agosto, na sala do Consistório, o Pontífice dirigiu-lhes a seguinte saudação.
Queridos irmãos e irmãs!
É com emoção que me encontro convosco, familiares das vítimas da explosão no porto de Beirute, ocorrida há quatro anos. Rezei muito por vós e pelos vossos entes queridos, e continuo a rezar, unindo as minhas lágrimas às vossas. Hoje dou graças a Deus por poder encontrar-me convosco, por poder manifestar-vos pessoalmente a minha proximidade.
Convosco recordo todos aqueles cuja vida foi ceifada por aquela terrível explosão. O Pai celestial conhece os seus rostos, um por um, estão diante d’Ele; penso no rostinho da pequena Alexandra. Do Céu, veem a vossa angústia e rezam para que ela acabe.
Convosco peço verdade e justiça, que não chegaram: verdade e justiça. Todos sabemos que a questão é complicada e espinhosa, e que sobre ela incumbem poderes e interesses divergentes. Mas a verdade e a justiça devem prevalecer acima de tudo. Passaram quatro anos; o povo libanês, e em primeiro lugar vós, tendes o direito a palavras e gestos que demonstrem responsabilidade e transparência.
Convosco sinto a dor de continuar a ver, todos os dias, tantos inocentes que morrem por causa da guerra na vossa região, na Palestina, em Israel, e o Líbano paga o preço. Todas as guerras deixam o mundo pior do que quando o encontraram. A guerra é sempre um fracasso, um fracasso da política, um fracasso da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal (cf. Carta Encíclica Fratelli tutti, 261).
Convosco imploro do Céu a paz que os homens têm dificuldade de edificar na terra. Suplico-a para o Médio Oriente e para o Líbano. O Líbano é, e deve continuar a ser, um projeto de paz. Não esqueçamos o que disse um Papa: “O Líbano é uma mensagem, e esta mensagem é um projeto de paz” (cf. São João Paulo ii , Mensagem a todos os Bispos da Igreja católica sobre a situação no Líbano, 7 de setembro de 1989). A vocação do Líbano consiste em ser uma terra onde convivem várias comunidades antepondo o bem comum às vantagens particulares, onde as diferentes religiões e confissões se encontram em fraternidade.
Irmãs e irmãos, gostaria que cada um de vós sentisse, além do meu afeto, inclusive o de toda a Igreja. Sentimos e pensamos que o Líbano é um país martirizado. Sei que os vossos Pastores, os religiosos e as religiosas estão próximos de vós: agradeço-lhes de coração o que fizeram e continuam a fazer. Não estais sozinhos e não vos deixaremos sozinhos, mas permaneceremos solidários convosco através da oração e da caridade concreta.
Caríssimos, agradeço-vos por terdes vindo. Vejo em vós a dignidade da fé, a nobreza da esperança. Como a dignidade e a nobreza do cedro, símbolo do vosso país! Os cedros convidam-nos a elevar o olhar para o Céu: em Deus está a nossa esperança, aquela que não desilude. A nossa esperança não desilude! Que do seu Santuário de Harissa a Virgem Maria vele sempre sobre vós e o povo libanês. Abençoo-vos do fundo do coração. Rezo por vós e peço-vos que também vós oreis por mim.
Obrigado!