A produção e venda de armas é um escândalo intolerável

Pope Francis delivers his blessing during the Angelus prayer from the window of the Apostolic Palace ...
01 agosto 2024

«Enquanto no mundo há tanta gente a sofrer de calamidades e de fome, as pessoas continuam a construir e a vender armas e a queimar recursos, alimentando guerras grandes e pequenas». No final do Angelus de 28 de julho, o Papa Francisco denunciou tudo isto como «um escândalo que a comunidade internacional não deve tolerar». Falando ao meio-dia da janela do Palácio Apostólico Vaticano, o Pontífice introduziu a recitação da oração mariana com os fiéis presentes na Praça de São Pedro comentando, como de costume, o Evangelho dominical, centrado no conhecido episódio da multiplicação dos pães e dos peixes. Eis o texto da meditação proferida pelo Bispo de Roma.

Estimados irmãos e irmãs,
bom domingo!

Hoje o Evangelho da Liturgia fala-nos do milagre dos pães e dos peixes (cf. Jo 6, 1-15). Um milagre, isto é, um “sinal”, cujos protagonistas realizam três gestos que Jesus repetirá na Última Ceia. Quais são esses gestos? Oferecer, dar graças e partilhar.

Primeiro: oferecer. O Evangelho fala de um rapaz que tem cinco pães e dois peixes (cf. Jo 6, 9). É o gesto pelo qual reconhecemos que temos algo de bom para dar, e dizemos o nosso “sim”, mesmo que o que temos seja muito pouco em relação ao que é necessário. Este gesto é realçado na missa, quando o sacerdote oferece o pão e o vinho sobre o altar, e cada um se oferece a si mesmo, a própria vida. É um gesto que pode parecer pequeno, se pensarmos nas imensas necessidades da humanidade, tal como os cinco pães e os dois peixes diante de uma multidão de milhares de pessoas; mas Deus faz dele a matéria para o maior milagre que existe: aquele em que Ele, Ele mesmo, se faz presente no meio de nós, para a salvação do mundo.

Assim se compreende o segundo gesto: dar graças (cf. Jo 6, 11). O primeiro gesto é oferecer, o segundo é dar graças. Ou seja, dizer ao Senhor com humildade, mas também com alegria: “Tudo o que tenho é vosso dom, Senhor, e para vos agradecer só posso devolver o que me destes primeiro, juntamente com o vosso Filho Jesus Cristo, acrescentando o que posso”. Cada um de nós pode dar um pouco mais. O que posso dar ao Senhor? O que pode dar o mais pequenino? O pobre amor. Dizer: “Senhor, amo-vos”. Nós, pobres homens: o nosso amor é tão pequeno! Mas podemos doá-lo ao Senhor, o Senhor aceita-o.

Oferecer, dar graças, e o terceiro gesto é partilhar. Na missa é a Comunhão, quando juntos nos aproximamos do altar para receber o Corpo e o Sangue de Cristo: fruto do dom de cada um transformado pelo Senhor em alimento para todos. É um momento bonito, o da Comunhão, que nos ensina a viver cada gesto de amor como um dom de graça, tanto para quem dá como para quem recebe.

Irmãos e irmãs, perguntemo-nos: acredito realmente, pela graça de Deus, que tenho algo de único para oferecer aos irmãos, ou sinto-me anonimamente “um entre muitos”? Sou protagonista de um bem a ser oferecido? Sou grato ao Senhor pelos dons com que Ele me manifesta continuamente o seu amor? Vivo a partilha com os outros como um momento de encontro e de enriquecimento recíproco?

Que a Virgem Maria nos ajude a viver com fé cada Celebração eucarística e a reconhecer e saborear cada dia os “milagres” da graça de Deus.

No final do Angelus, Francisco expressou a sua solidariedade para com a população do sul da Etiópia, atingida por um deslizamento de terra, apelou ao desarmamento, recordou o aniversário do Dia mundial dos avós e dos idosos, que já vai na quarta edição, e saudou os participantes na festa de Nossa Senhora do Carmo, no bairro romano de Trastevere, que terminou ao fim da tarde com a procissão de Nossa Senhora “fiumarola” no rio Tibre. Eis as suas palavras.

Prezados irmãos e irmãs!

Garanto as minhas orações pelas vítimas do grande deslizamento de terra que arrasou uma aldeia no sul da Etiópia. Estou próximo da população tão provada e de quantos estão a prestar socorro.

E enquanto há tantas pessoas no mundo a sofrer por causa de calamidades e de fome, continuamos a fabricar e a vender armas e a queimar recursos, alimentando guerras grandes e pequenas. Este é um escândalo que a comunidade internacional não deve tolerar e que contradiz o espírito de fraternidade dos Jogos Olímpicos que acabam de começar. Não nos esqueçamos, irmãos e irmãs: a guerra é uma derrota!

Hoje celebra-se o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. O tema é: “Na velhice, não me abandones” (cf. Sl 71, 9). De facto, o abandono dos idosos é uma triste realidade à qual não nos devemos habituar. Para muitos deles, sobretudo nestes dias de verão, a solidão corre o risco de se tornar um fardo difícil de suportar. A comemoração de hoje convida-nos a escutar a voz dos idosos que dizem: “Não me abandones!” e a responder: “Não te abandonarei!”. Reforcemos a aliança entre netos e avós, entre jovens e idosos. Digamos “não” à solidão dos idosos! O nosso futuro depende muito da forma como os avós e os netos aprendem a viver juntos. Não esqueçamos os idosos! E uma salva de palmas para todos os avós, a todos!

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos, que viestes de várias partes de Itália e do mundo. Saúdo em particular os participantes no Congresso Geral da União do Apostolado Católico; os jovens da Ação Católica de Bolonha e os da Unidade Pastoral Riviera del Po-Sermide, da diocese de Mântua; o grupo dos jovens de 18 anos da diocese de Verona; os animadores do Oratório “Carlo Acutis” de Quartu Sant’Elena.

Dirijo a minha saudação a quantos participam na conclusão da festa de Nossa Senhora do Carmo em Trastevere: esta noite haverá uma procissão de Nossa Senhora “fiumarola” no Tibre. Aprendamos com Maria, nossa Mãe, a praticar o Evangelho na vida quotidiana! Já ouvi alguns cânticos neocatecumenais... Depois gostaria de os ouvir de novo! Desejo a todos bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!