O sonho do Papa para o Jubileu silenciar as armas e abolir a pena de morte

 O sonho do Papa para o Jubileu silenciar as armas  e abolir a pena de morte  POR-020
16 maio 2024

«Spes non confundit» é o título da Bula de proclamação do Ano Santo de 2025. Os apelos de Francisco são pelos prisioneiros, migrantes, doentes, idosos e jovens dominados pelas drogas e transgressões. No texto, o anúncio da abertura de uma Porta santa numa prisão, o pedido de perdão da dívida dos países pobres, o incentivo ao aumento da taxa de natalidade, o acolhimento dos migrantes, o desejo de criar um fundo para abolir a fome e um maior empenho da diplomacia por uma paz duradoura.

Éa esperança que o Papa invoca como dom no Jubileu de 2025 para um mundo marcado pelo conflito de armas, morte, destruição, ódio contra o próximo, fome, «dívida ecológica» e baixa taxa de natalidade. A esperança é o bálsamo que Francisco quer derramar sobre as feridas de uma humanidade oprimida pela «brutalidade da violência» ou que se encontra nas garras de um crescimento exponencial da pobreza. «Spes non confundit», a esperança não desilude, é o título da Bula de proclamação do Jubileu Ordinário entregue na tarde de 9 de maio pelo Papa às Igrejas dos cinco continentes durante as primeiras Vésperas da Solenidade da Ascensão. A Bula, dividida em 25 pontos, contém súplicas, propostas, apelos em favor dos presos, dos doentes, dos idosos, dos pobres, dos jovens, e anuncia as novidades de um Ano Santo que terá como tema «Peregrinos de esperança».

Uma data comum para a Páscoa 


No documento, o Papa Francisco recorda dois importantes aniversários: a celebração em 2033 dos dois mil anos da Redenção e os 1700 anos do primeiro grande Concílio Ecuménico de Niceia, que entre outros temas tratou também a definição da data da Páscoa. Ainda hoje, «posições diferentes» impedem a celebração no mesmo dia do «evento fundante da fé», ressalta, lembrando que, no entanto, «por uma circunstância providencial, isso acontecerá precisamente no ano de 2025» (n. 17). 

«Seja isto um apelo a todos os cristãos do Oriente e do Ocidente para darem resolutamente um passo rumo à unidade em torno duma data comum para a Páscoa».

Abertura da Porta Santa


No meio dessas «grandes etapas», o Papa estabelece que a Porta Santa da Basílica de São Pedro será aberta em 24 de dezembro de 2024. No domingo seguinte, 29 de dezembro, o Pontífice abrirá a Porta Santa da Basílica de São João de Latrão; no dia 1 de janeiro de 2025, Solenidade de Maria Mãe de Deus, a de Santa Maria Maior e, em 5 de janeiro, a Porta Santa de São Paulo Fora dos Muros. Estas três Portas serão fechadas no domingo, 28 de dezembro do mesmo ano. O Jubileu terminará com o fechamento da Porta Santa da Basílica de São Pedro em 6 de janeiro de 2026. (n. 6)

Sinais dos tempos


Francisco espera que «o primeiro sinal de esperança» do Jubileu «se traduza em paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra».

«Esquecida dos dramas do passado, a humanidade encontra-se de novo submetida a uma difícil prova que vê muitas populações oprimidas pela brutalidade da violência. Faltará ainda a esses povos algo que não tenham já sofrido? Como é possível que o seu desesperado grito de ajuda não impulsione os responsáveis das Nações a querer pôr fim aos demasiados conflitos regionais, cientes das consequências que daí podem derivar a nível mundial? Será excessivo sonhar que as armas se calem e deixem de difundir destruição e morte?».

Apelo em favor da natalidade


Com preocupação, o Papa Francisco observa a «queda na taxa de natalidade» que se está registar em vários países e por vários motivos: «dos ritmos frenéticos de vida», «dos receios face ao futuro», «da falta de garantias de emprego e de adequada proteção social» e «de modelos sociais ditados mais pela procura do lucro do que pelo cuidado das relações humanas». Para o Pontífice, há uma «necessidade urgente» de «apoio convicto» dos fiéis e da sociedade civil ao «desejo» dos jovens de gerar novas crianças, para que o futuro possa ser «marcado pelo sorriso de tantos meninos e meninas que, em muitas partes do mundo, venham encher os demasiados berços vazios» (n. 9).

Para os presos, respeito, condições dignas, abolição da pena de morte


Na sequência, Francisco pede «sinais tangíveis de esperança» para os presos. Propõe aos governos «formas de amnistia ou de perdão da pena», bem como «percursos de reinserção na comunidade». Acima de tudo, o Papa pede «condições dignas para quem está recluso, respeito pelos direitos humanos e sobretudo a abolição da pena de morte». (n. 10) Para oferecer aos prisioneiros um sinal concreto de proximidade, o próprio Pontífice abrirá uma Porta Santa numa prisão.

Esperança para os doentes e incentivo para os jovens: «Não podemos desiludi-los».

Sinais de esperança também devem ser oferecidos aos doentes, que se encontram em casa ou no hospital: «O cuidado para com eles é um hino à dignidade humana» (n. 11). A esperança também é necessária para os jovens que, com tanta frequência, «veem desmoronar-se os seus sonhos». 

«A ilusão das drogas, o risco da transgressão e a busca do efémero criam nos jovens, mais do que nos outros, confusão e escondem-lhes a beleza e o sentido da vida, fazendo-os escorregar para abismos escuros e impelindo-os a gestos autodestrutivos» (n. 12).

Sinais de esperança em relação aos migrantes


Mais uma vez o Papa pede que as expetativas dos migrantes «não sejam frustradas por preconceitos e isolamentos». 

«A tantos exilados, deslocados e refugiados que, por acontecimentos internacionais controversos, são forçados a fugir para evitar guerras, violência e discriminação, sejam garantidos a segurança e o acesso ao trabalho e à instrução, instrumentos necessários para a sua inserção no novo contexto social» (n. 13).

O número de pobres no mundo é escandaloso


Francisco não se esquece, na Bula, dos muitos idosos que «experimentam a solidão e o sentimento de abandono» (n. 14). Também não se esquece dos «biliões» de pobres aos quais «falta o necessário para viver» e «sofrem a exclusão e a indiferença de muitos». «É escandaloso», segundo Francisco, que os pobres constituam a maioria da população de um mundo «dotado de enormes recursos destinados em grande parte às armas» (n. 15), Em seguida, pede «que seja generoso quem possui riquezas», e renova o seu apelo para a criação de «um Fundo Global para acabar definitivamente com a fome» com o dinheiro proveniente de gastos militares (n. 16).

Perdão das dívidas dos países pobres


Outro convite sincero é dirigido às nações mais ricas para que «reconheçam a gravidade de muitas decisões tomadas e estabeleçam  o perdão das dívidas  dos países que nunca poderão pagá-las». «É uma questão de justiça», escreve o Papa Francisco, «agravada hoje por uma nova forma de desigualdade», como a «dívida ecológica», especialmente entre o Norte e o Sul (n. 16).

O testemunho dos mártires


Na Bula do Jubileu, o Papa convida a olhar para o testemunho dos mártires, pertencentes às diversas tradições cristãs, e expressa o desejo de que durante o Ano Santo esteja presente o aspeto ecuménico. 

«Estes mártires, pertencentes às diferentes tradições cristãs, são também sementes de unidade, porque exprimem o ecumenismo do sangue. Durante o Jubileu desejo ardentemente que não falte uma celebração ecuménica para evidenciar a riqueza do testemunho destes Mártires» (n. 20).

Importância da Confissão e o papel dos Missionários da Misericórdia


Francisco também se refere ao sacramento da Penitência e anuncia a continuação do serviço dos Missionários da Misericórdia, estabelecido durante o Jubileu extraordinário. Aos bispos, pede que os enviem a lugares onde «a esperança está posta à prova, como nas prisões, nos hospitais e nos lugares onde a dignidade da pessoa é espezinhada, nas situações mais desfavorecidas e nos contextos de maior degradação, para que ninguém fique privado da possibilidade de receber o perdão e a consolação de Deus» (n. 23).

O convite às Igrejas orientais e aos ortodoxos


O Papa dirige «um convite especial» aos fiéis das Igrejas Orientais que «tanto sofreram, muitas vezes até à morte, pela sua fidelidade a Cristo e à Igreja». Esses irmãos devem sentir-se «particularmente bem-vindos a Roma, que também é Mãe para eles e conserva tantas memórias da sua presença». O acolhimento também para os irmãos e irmãs ortodoxos que já estão a viver «a peregrinação da Via-Sacra, sendo muitas vezes obrigados a deixar as suas terras de origem, as suas terras santas, onde a violência e a instabilidade os expulsam rumo a países mais seguros» (n. 5).

Oração nos santuários marianos


Francisco também convida os «peregrinos que vierem a Roma» a rezar nos santuários marianos da cidade para invocar a proteção de Maria, de modo a «experimentar a proximidade da mais afetuosa das mães, que nunca abandona os seus filhos» (n. 24).

Salvatore Cernuzio