Novo apelo do Papa depois da recitação do Angelus

Paz para os povos
extenuados pela guerra

Farmers bring a cow on St. Peter's Square in the Vatican before Pope Francis' Angelus prayer, on ...
22 fevereiro 2024

«Rezemos sem nos cansarmos, porque a oração é eficaz, e peçamos ao Senhor o dom de mentes e corações concretamente dedicados à paz». No final do Angelus de domingo, 18 de fevereiro, o Papa lançou um novo apelo para que se ponha termo aos conflitos em curso no mundo, porque — explicou — «a guerra é uma derrota, sempre». Depois, referiu-se à semana de exercícios espirituais «com os colaboradores da Cúria romana» que teve início na tarde do mesmo dia. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, antes da recitação da oração mariana com os quinze mil fiéis presentes na praça de São Pedro e com aqueles que o seguiam através dos meios de comunicação, o Pontífice comentou o Evangelho do primeiro domingo da Quaresma.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, primeiro domingo da Quaresma, o Evangelho apresenta-nos Jesus tentado no deserto (cf. Mc 1, 12-15). Diz o texto: «Permaneceu quarenta dias no deserto, tentado por Satanás». Também nós, na Quaresma, somos convidados a “entrar no deserto”, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, no contacto com a verdade. No deserto — acrescenta o Evangelho de hoje — Cristo «estava com as feras e os anjos serviam-no» (v. 13). Os feras e os anjos eram a sua companhia. Mas, em sentido simbólico, são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de facto, podemos encontrar aí feras e anjos.

Feras. Em que sentido? Na vida espiritual, podemos pensar nelas como as paixões desordenadas que dividem o coração, procurando possuí-lo. Elas sugestionam-nos, parecem seduzir-nos. Elas atraem-nos, parecem cativantes, mas, se não tomarmos cuidado, há o risco que nos destrocem. Podemos dar nomes a estas “feras” da alma: os vários vícios, a ambição da riqueza, que nos aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que nos condena ao desassossego e à solidão, e ainda a avidez da fama, que gera insegurança e uma necessidade constante de confirmação e de protagonismo — não esqueçamos estas coisas que podemos encontrar dentro de nós: a ambição, a vaidade e a avidez. São como feras “selvagens” e, como tal, devem ser domadas e combatidas: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a Quaresma ajuda-nos a entrar no deserto interior para corrigir estas coisas.

E depois, no deserto, estavam os anjos. Eles são os mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem; de facto, a sua caraterística, segundo o Evangelho, é o serviço (cf. v. 13): exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço contra a posse. Os espíritos angélicos suscitam os bons pensamentos e sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações nos dilaceram, as boas inspirações divinas unem-nos e fazem-nos entrar na harmonia: tranquilizam o coração, incutem o gosto de Cristo, “o sabor do Céu”. E para captar a inspiração de Deus, é preciso entrar no silêncio e na oração. E a Quaresma é o tempo para fazer isto.

Podemos perguntar-nos: em primeiro lugar, quais são as paixões desordenadas, as “feras selvagens” que se agitam no meu coração? Em segundo lugar, para deixar que a voz de Deus fale ao meu coração e o mantenha no bem, estou a pensar em retirar-me um pouco para o “deserto”, procuro dedicar-lhe durante o dia um espaço para isto?

Que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do maligno, nos ajude no nosso caminho de Quaresma.

Depois do Angelus, o bispo de Roma recordou vários países que são palco de conflitos — do Sudão a Moçambique, da Palestina à Ucrânia — saudou os fiéis presentes, entre os quais agricultores e criadores de gado, e por fim anunciou que à tarde começariam os exercícios espirituais, que se prolongarão até 23 de fevereiro.

Queridos irmãos e irmãs!

Passaram dez meses desde o início do conflito armado no Sudão, que causou uma situação humanitária muito grave. Apelo de novo às partes beligerantes para que ponham termo a esta guerra, que tanto mal está a fazer ao povo e ao futuro do país. Rezemos para que se encontrem rapidamente caminhos de paz para construir o futuro do querido Sudão.

A violência contra populações indefesas, a destruição de infraestruturas e a insegurança voltam a grassar na província de Cabo Delgado, em Moçambique, onde também a missão católica de Nossa Senhora de África, em Mazezeze, foi incendiada nos últimos dias. Rezemos para que a paz regresse àquela região atormentada. E não esqueçamos tantos outros conflitos que ensanguentam o continente africano e muitas partes do mundo: também a Europa, a Palestina, a Ucrânia...

Não esqueçamos: a guerra é uma derrota, sempre. Onde quer que ela seja travada, as populações estão exaustas, estão cansadas da guerra, que como sempre é inútil e inconclusiva, e trará só morte, só destruição, e nunca levará a uma solução dos problemas. Em vez disso, rezemos sem nos cansarmos, porque a oração é eficaz, e peçamos ao Senhor o dom de mentes e corações concretamente dedicados à paz.

Saúdo os fiéis de Roma e de várias partes de Itália e do mundo, em particular os peregrinos dos Estados Unidos da América, as Comunidades Neocatecumenais de várias paróquias da República Checa, da Eslováquia e de Espanha, os alunos do Instituto “Carolina Coronado” de Almendralejo e a Associação de Voluntariado “Nas Pegadas dos Servos para o Mundo”. E saúdo os agricultores e criadores de gado presentes na praça!

Esta tarde, com os colaboradores da Cúria, iniciaremos os Exercícios espirituais. Convido as comunidades e os fiéis a dedicar momentos específicos durante este tempo de Quaresma e neste ano de preparação para o Jubileu, que é o “Ano de Oração”, a recolher-se na presença do Senhor.

E desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!