Recordar o tempo que passou depois de uma tragédia é muito triste. Recordá-lo quando a tragédia ainda está a decorrer é terrível.
Desde 7 de outubro, 136 homens, mulheres e crianças são mantidos reféns pelo Hamas nos túneis de Gaza. Nada se sabe sobre eles e sobre o seu estado. Publicamos hoje um contributo comovente de Rachel Goldberg Polin, cheio de dor mas também de amor. Do seu filho Hersh, de 23 anos, nada se sabe desde essa trágica manhã, exceto que poderá ter perdido um braço.
Estamos ao lado de Rachel, não só pelo seu sofrimento digno, mas sobretudo pelo que diz e escreve. Pela sua corajosa consciência de que, também do outro lado da vedação, há mães como ela que sofrem. E muitas choram os filhos que perderam. A sua voz corajosa, num contexto em que a raiva e a vingança prevalecem, corre o risco de parecer solitária. Mas não é assim. Só no reconhecimento da dor dos outros, bem como da própria, podem crescer a pacificação e o perdão.
As palavras de Rachel são também as nossas. São as do Papa Francisco que nos convida a uma “equiproximidade”. A proximidade a quantos sofrem, a quantos morrem, a quantos ficam sem nada. Esta proximidade a quem sofre de ambos os lados é muitas vezes interpretada como equidistância. Não somos neutrais nesta guerra. Estamos, com toda a convicção, de um lado, o das vítimas, o dos que sofrem. Estamos do lado dos 22.000 mortos sob os escombros de Gaza, das 10.000 crianças mortas. Estamos do lado dos inocentes barbaramente assassinados nos kibutzim a 7 de outubro. Pois o sacrifício de cada vida é uma ferida intransponível. Rachel compreendeu-o. E nós com ela.
Andrea Tornielli