Viver as festividades com simplicidade para um Natal de partilha e humanidade, pediu o Papa Francisco no final do Angelus de domingo, 24 de dezembro, na praça de São Pedro. Precedentemente, o Pontífice propôs aos cerca de quinze mil fiéis presentes e a quantos o acompanhavam pelos meios de comunicação social a seguinte meditação sobre o evangelho da Anunciação.
Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!
Hoje, no quarto domingo do Advento, o Evangelho apresenta-nos a cena da Anunciação (cf. Lc 1, 26-38). O anjo, para explicar a Maria como conceberá Jesus, diz-lhe: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo cobrir-te-á com a sua sombra» (v. 35). Detenhamo-nos um pouco sobre esta imagem, a sombra.
Numa terra como a de Maria, perpetuamente ensolarada, uma nuvem que passa, uma árvore que resiste à seca e oferece abrigo, uma tenda hospitaleira dão alívio e proteção. A sombra é um dom que restabelece, e o anjo descreve precisamente assim o modo como o Espírito Santo desce sobre Maria, o modo de agir de Deus: Deus age sempre como um amor suave que abraça, que fecunda, que guarda, sem fazer violência, sem ferir a liberdade. É este o modo de agir de Deus.
A imagem da sombra que protege é uma imagem recorrente na Bíblia. Pensemos na sombra que acompanha o povo de Deus no deserto (cf. Êx 13, 21-22). A sombra fala, em suma, da gentileza de Deus. É como se Ele dissesse, a Maria, mas também a todos nós hoje: “Estou aqui para ti e ofereço-me como teu refúgio e abrigo: vem para debaixo da minha sombra, fica comigo”. Irmãos e irmãs, é assim que se comporta o amor fecundo de Deus. E é algo que, em certa medida, podemos experimentar também entre nós, por exemplo, quando entre amigos, noivos, cônjuges, pais e filhos, se é gentil, se é respeitoso, se cuida dos outros com gentileza. Pensemos na gentileza de Deus!
Deus ama assim e chama-nos a fazer o mesmo: acolher, proteger, respeitar os outros. Pensemos em todos, pensemos naqueles que são marginalizados, naqueles que estão longe da alegria do Natal nestes dias. Pensemos em todos com a gentileza de Deus. Lembrai-vos desta palavra: a gentileza de Deus!
E perguntemo-nos, então, na vigília de Natal: será que eu quero deixar-me envolver pela sombra do Espírito Santo, pela doçura e pela mansidão de Deus, pela gentileza de Deus, abrindo espaço no meu coração para Ele, aproximando-me do seu perdão, da Eucaristia? E depois: para quais pessoas solitárias e necessitadas poderia eu ser uma sombra que restaura, uma amizade que conforta?
Que Maria nos ajude a ser abertos, acolhedores da presença de Deus, que com mansidão nos vem salvar!
No final da oração mariana, o Papa saudou os cidadãos italianos que vivem em territórios contaminados e aguardam o saneamento, recomendando que não se confunda a festa de Natal com o consumismo que muitas vezes a carateriza, até entre os cristãos.
Caros irmãos e irmãs!
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos da Itália e de várias partes do mundo. Em particular, saúdo a delegação dos cidadãos italianos que vivem em territórios oficialmente reconhecidos como altamente contaminados e que há muito esperam o seu saneamento. Manifesto a minha solidariedade para com estas populações e espero que a sua voz seja ouvida.
Desejo a todos bom domingo e uma véspera de Natal na oração, no calor do afeto e na sobriedade. Permiti que eu faça uma recomendação: não confundamos festa com consumismo! Podemos — e como cristãos devemos — festejar com simplicidade, sem desperdícios e partilhando com quem não tem o necessário ou não tem companhia. Estejamos próximos dos nossos irmãos e irmãs que sofrem com a guerra: pensemos na Palestina, em Israel, na Ucrânia. Pensemos também naqueles que sofrem com a miséria, a fome, a escravatura. O Deus que tomou para si um coração humano infunda humanidade no coração dos homens!
E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e feliz Natal a todos! Até à próxima!