E recordou o aniversário da Declaração universal dos direitos do homem
Um novo apelo a favor da paz na martirizada Ucrânia, na Palestina e Israel foi lançado pelo Papa Francisco no final do Angelus de domingo, 10 de dezembro. Da janela do Palácio apostólico do Vaticano, o Pontífice introduziu a recitação da prece mariana ao meio-dia com cerca de vinte e cinco mil fiéis reunidos na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social, comentando o Evangelho dominical, centrado na figura de João Batista.
Estimados irmãos e irmãs
bom dia!
Neste segundo domingo de Advento, o Evangelho fala-nos de João Batista, o precursor de Jesus (cf. Mc 1, 1-8), e descreve-o como «a voz de quem grita no deserto» (v. 3). O deserto, lugar vazio, onde não se comunica, e a voz, meio para falar, parecem duas imagens contraditórias, mas no Batista elas conjugam-se.
O deserto. João prega ali, junto do rio Jordão, perto do ponto onde o seu povo, muitos séculos antes, tinha entrado na terra prometida (cf. Js 3, 1-17). Ao fazê-lo, é como se dissesse: para escutar Deus, é preciso voltar ao lugar onde, durante quarenta anos, Ele acompanhou, protegeu e educou o seu povo, no deserto. É o lugar do silêncio e da essencialidade, onde não podemos dar-nos ao luxo de nos determos em coisas inúteis, mas devemos concentrar-nos no que é indispensável para viver.
E esta é uma chamada de atenção sempre atual: para prosseguir no caminho da vida é necessário despojar-se daquele “mais”, pois viver bem não significa encher-se de coisas inúteis, mas livrar-se do supérfluo, para ir ao fundo de si mesmo, para captar o que é verdadeiramente importante diante de Deus. Só se, através do silêncio e da oração, dermos espaço a Jesus, que é a Palavra do Pai, é que nos poderemos libertar da poluição das palavras vãs e da tagarelice. O silêncio e a sobriedade — nas palavras, no uso das coisas, dos meios de comunicação social e das redes sociais — não são apenas “sacrifícios” ou virtudes, são elementos essenciais da vida cristã.
E chegamos à segunda imagem, a voz. Ela é o instrumento com o qual manifestamos o que pensamos e trazemos no coração. Compreendemos então que ela está muito ligada ao silêncio, porque exprime o que amadurece no interior, a partir da escuta do que o Espírito nos sugere. Irmãos e irmãs, se alguém não souber ficar em silêncio, dificilmente terá algo de bom para dizer; ao passo que, quanto mais atento for o silêncio, mais forte será a palavra. Em João Batista, essa voz está ligada à genuinidade da sua experiência e à clareza do seu coração.
Podemos interrogar-nos: que lugar ocupa o silêncio no meu dia a dia? É um silêncio vazio, talvez opressivo, ou um espaço de escuta, de oração, de guarda do coração? A minha vida é sóbria ou está cheia de coisas supérfluas? Mesmo que isso signifique ir contra a corrente, valorizemos o silêncio, a sobriedade e a escuta. Que Maria, Virgem do silêncio, nos ajude a amar o deserto, a tornar-nos vozes credíveis que anunciam o seu Filho que vem.
Depois do Angelus, o Papa recordou o 75º aniversário da Declaração universal dos direitos do homem, regozijando-se com a libertação dos prisioneiros arménios e azerbaijanos no Cáucaso do Sul. Em seguida, fez votos de bons resultados para a Cop28 em Dubai e lançou um veemente apelo em prol da paz. Depois, assegurou orações pelas vítimas do incêndio no hospital de Tivoli e saudou os vários grupos de fiéis.
Amados irmãos e irmãs!
Há 75 anos, a 10 de dezembro de 1948, foi assinada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. É como uma via mestra, na qual foram dados muitos passos em frente, mas faltam ainda muitos e, por vezes, infelizmente, andamos para trás. O compromisso com os direitos humanos nunca está terminado! A este respeito, estou próximo de todos aqueles que, sem proclamações, na vida concreta de todos os dias, lutam e pagam pessoalmente para defender os direitos daqueles que não contam.
Regozijo-me com a libertação de um número significativo de prisioneiros arménios e azerbaijanos. Vejo com grande esperança este sinal positivo para as relações entre a Arménia e o Azerbaijão, para a paz no Cáucaso do Sul, e encorajo as partes e os seus dirigentes a concluírem o Tratado de Paz o mais rapidamente possível.
Daqui a poucos dias terminarão os trabalhos da Cop28 sobre o clima, que está a decorrer em Dubai. Peço-vos que rezeis para que se alcancem bons resultados para o cuidado da nossa casa comum e a proteção das populações.
E continuemos a rezar pelas populações que sofrem com a guerra. Estamos a caminho do Natal: seremos capazes, com a ajuda de Deus, de dar passos concretos de paz? Sabemos que não é fácil. Alguns conflitos têm raízes históricas profundas. Mas temos também o testemunho de homens e mulheres que trabalharam com sabedoria e paciência para uma convivência pacífica. Sigamos o seu exemplo! Que sejam envidados todos os esforços para enfrentar e eliminar as causas dos conflitos. E, entretanto — falando de direitos humanos — protejam-se os civis, os hospitais, os locais de culto, libertem-se os reféns e garanta-se a ajuda humanitária. Não esqueçamos a martirizada Ucrânia, a Palestina e Israel.
Asseguro também as minhas orações pelas vítimas do incêndio ocorrido há dois dias no hospital de Tivoli.
Saúdo com afeto todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de outras partes do mundo, especialmente os fiéis de San Nicola Manfredi, os escuteiros adultos de Scafati e os grupos de jovens de Nevoli, Gerenzano e Rovigo.
Desejo a todos bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!