A caminho do Natal

Na pousada

 Na pousada  POR-049
07 dezembro 2023

Durante o Advento na América Latina realiza-se uma procissão que recorda a busca de hospitalidade de José e Maria à espera do nascimento de Jesus


Café fumegante para os adultos e bebidas à base de milho ou chocolate para as crianças aquecem primeiro as mãos e depois os lábios dos figurantes. No Advento, as procissões de Las posadas, na América Latina, especialmente no México e na Guatemala, recordam a busca de hospedagem por parte de Maria e José enquanto esperavam o nascimento de Jesus. Pousada após pousada, aquela que estava prestes a dar à luz, acompanhada do seu esposo, foi obrigada a desenrascar-se, escrevem os evangelistas, pedindo hospitalidade e recebendo muitas vezes um não como resposta. A partir de 16 de dezembro, nas ruas de Tacaná, na Guatemala, na fronteira com o México, a “procissão” recorda o episódio que precede o nascimento de Jesus.

«São Pedro de São José de Betancur, originário de Tenerife e missionário na Guatemala, proclamado santo pelo Papa João Paulo ii a 30 de julho de 2002, foi o criador deste rosário de Advento na Cidade da Guatemala. Uma celebração pré-natalícia que dura nove dias, de 16 a 24 de dezembro, e conta com a participação de toda a nossa comunidade. No México, Las posadas navideñas foram introduzidas por frei Diego de Soria, que começou a celebrar nove missas antes do Natal para reavivar a memória da peregrinação em vista do nascimento do Messias»: quem o diz é o padre Angelo Esposito, sacerdote fidei donum, que conta a origem da tradição, enquanto organiza a procissão com as crianças. As posadas são organizadas em muitas paróquias. Todas as tardes, crianças e adultos “peregrinam” pelo bairro ou cidade para recordar a viagem da Sagrada Família. Nas escolas, nos escritórios, mas também em vários lugares de trabalho, o pedido de hospitalidade da família de Nazaré é recordado com espetáculos, cânticos e orações.

«Começamos o caminho do Advento com um retiro querigmático para os agentes pastorais e os acólitos», explica Esteban, animador paroquial. A extensão da paróquia chega a 300 km, uma realidade missionária que, graças a Las posadas, toca as periferias mais remotas, ao longo de estradas de terra cheias de buracos. «Deus encarnou-se para todos, procuramos transmitir a nossa solidariedade, porque ninguém deve ser excluído do seu amor incondicional», repete o padre Angelo, trabalhando com as crianças maias no hospetalito, um centro de cuidados pediátricos. Em Guadalupe, San Francisco, Asunción, Santa María, nos vários centros pastorais, a procissão percorre as ruas todas as tardes. São ruas poeirentas, lamacentas quando chove, pobres como as da Palestina, percorridas a pé por José e Maria. Crianças que engraxam os sapatos, camponeses, todos participam no rito. Alguns seguem a procissão caminhando atrás, com os colegas de turma. Dois deles — com não mais de 11 anos — deslumbrados com os cânticos, admiram o cortejo de boca aberta, interrompendo a limpeza das botas de vaqueiro ao cliente do momento. Velas iluminam o caminho, chamas fracas, boas também para aquecer as mãos quando, no final do terço, já está escuro e a temperatura diminui muito, até 6-7 graus.

«Hoje, todas as comunidades continuam a tradição com plena participação», revela Maria, enquanto aquece o café na sua loja para o oferecer aos viandantes. Os protagonistas de Tacaná são as crianças. Apesar do frio, nunca faltam à procissão que vai de casa em casa, envolvendo centenas de pessoas. Primeiro os acólitos, depois quatro a quatro os mais disponíveis, carregam aos ombros uma reprodução do presépio. «Recita-se o terço, cantam-se canções, distribuem-se doces e bebidas quentes. É uma forma de nos prepararmos para a chegada do Menino Jesus», diz Ana, com um fio de voz, uma das acólitas que, depois de ter terminado os trabalhos de casa, nunca falta à procissão, também para beber um pouco de chocolate. É uma boa ocasião para aquecer não só o paladar, mas inclusive o coração pelas estradas da Guatemala, à espera do Natal.

Nicola Nicoletti