«A guerra destrói tudo. Tira a humanidade», reiterou o Papa aos participantes no encontro promovido pelo Catholic Charismatic Renewal International Service ( charis ), que terminou na tarde de 4 de novembro, na Sala Paulo vi . A seguir, o discurso do Pontífice.
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Estou feliz por me encontrar convosco, depois de aproximadamente cinco anos desde o início efetivo da vossa atividade como «organismo internacional de serviço para todas as expressões da renovação carismática católica» (Estatutos do charis , art. 1 § 1).
Sei que realizais uma auditoria e, portanto, é apropriado formular algumas perguntas: como corre o trabalho do charis ? Como progridem os Serviços de comunhão local? Que mensagens nos transmitem? Qual é o estado de saúde da Renovação carismática católica no mundo? Cresce em maturidade eclesial? Com efeito, este é o objetivo principal do vosso serviço, que se deve ter sempre presente sobretudo na oração. Crescer em maturidade eclesial!
Ouvindo e aceitando tudo o que se realizou ao longo dos últimos anos, a nível da “corrente de graça” — é assim que devemos chamá-la: corrente de graça — que é a Renovação carismática católica, charis é chamado a ser voz que acompanha e indica a todas as comunidades um caminho a seguir em comunhão. charis é, por assim dizer, uma “janela” para o vasto e diversificado mundo da Renovação carismática católica. As pessoas que trabalham aí têm a extraordinária oportunidade de “olhar para fora” desta janela e ver mais longe, para ir além da experiência local e conhecer a riqueza do que o Espírito Santo desperta em todos os lugares, em contextos culturais, sociais e eclesiais muito diferentes. É também graças ao discernimento e à partilha desta multiplicidade de experiências e conhecimentos que charis pode desempenhar o seu serviço, ajudando os grupos individuais a sair de uma certa estreiteza de visão e incutindo-lhes alcance carismático e eclesial mais amplo. Em relação a esta estreiteza de visão, uma santa religiosa disse-me certa vez que alguns católicos são como os cavalos com antolhos, incapazes de olhar para um lado ou para o outro. Graças a Deus, vós superastes esta estreiteza de visão e lutais contra ela, e isso agrada-me!
Um objetivo que vos propondes, e que eu próprio encorajei, é difundir os chamados “Seminários de vida nova” em toda a parte e a todos. São momentos de “primeiro anúncio”, muito querigmáticos, que oferecem às pessoas a possibilidade de um encontro com Jesus vivo, com a sua Palavra, com o seu Espírito, com a sua Igreja vivida como ambiente hospitaleiro, como lugar de graça, reconciliação e renascimento. Foi por isso que vos exortei a oferecer estes Seminários o mais amplamente possível. Portanto, hoje pergunto-vos: os Seminários de vida nova são oferecidos nos vários contextos eclesiais, até nos mais simples e remotos, até entre os pobres, nas regiões periféricas? Cada um responda no próprio coração. Um obstáculo pode ser pensar que só as grandes estruturas e os responsáveis mais importantes podem realizar estes Seminários, quando na realidade também os pequenos grupos paroquiais e os responsáveis locais os podem organizar e propor às pessoas do seu território.
É preciso ter em conta também que os Seminários de vida nova são muitas vezes vividos pelas pessoas como experiências muito envolvedoras, que provocam uma verdadeira mudança de rumo na vida. Mudança de rumo: depois de um seminário, as pessoas mudam de rumo! No entanto, são um começo, um fogo que se acende, muito intenso, mas que corre o risco de se apagar, se não for alimentado. Precisamente por isso, depois dos seminários, são necessários percursos de formação adequados, que ajudem a manter viva a graça recebida e apoiem um processo gradual de crescimento na fé, na vida de oração, na conduta moral, na participação nos Sacramentos, na caridade e na missão da Igreja.
Agora gostaria de recordar dois aspetos presentes nos Estatutos do charis .
O primeiro: a importância de «promover o exercício dos carismas não só na Renovação carismática católica, mas também em toda a Igreja» (art. 3 § b). O serviço que charis pode prestar é precisamente promover os carismas e encorajá-los a estar ao serviço de toda a Igreja. Promover: não controlar os carismas. Por isso, para promover o carisma, devemos seguir o Mestre na promoção do carisma: o Espírito Santo. Pensemos na manhã de Pentecostes, nada se entendia, uma grande desordem; mas é Ele mesmo que faz a harmonia naquela grande diversidade. Ele é o Mestre que nos ensina a promover os carismas. Em particular, devem ser sempre valorizados os carismas que servem para a evangelização, a atividade missionária, sobretudo em relação àqueles que ainda não conhecem Jesus Cristo.
O segundo é «favorecer o aprofundamento espiritual e a santidade das pessoas que vivem a experiência do Batismo no Espírito Santo» (art. 3 § c). Não se deve partir do princípio de que, uma vez recebido o Batismo no Espírito, já se é plenamente cristão. O caminho para a santidade deve progredir sempre, na conversão pessoal e no dom generoso de si, dom a Cristo e aos outros, não apenas em vista do “bem-estar espiritual”.
Caros amigos, agradeço-vos o vosso serviço. Não esqueçais que a vossa tarefa não consiste em julgar quem é “carismático autêntico” e quem não é, isto não vos compete. Esta é uma tentação da Igreja, desde o início: “Eu sou de Paulo” — “Eu de Apolo” — “Eu de Pedro” (cf. 1 Cor 1, 12). Não, isto não funciona! Pelo contrário, sois chamados a dar apoio e conselho aos Pastores para acompanhar todos os grupos e realidades multiformes que se referem à Renovação carismática. E se alguém me perguntar: “Mas diga-me, o que faz a verdadeira vida da renovação numa pessoa?”. O que me vem à mente é que as pessoas que vivem plenamente a renovação sabem sorrir. Sabem sorrir! E este sorriso ajudar-vos-á a estar vigilantes para não cair na tentação dos jogos de poder e de influência, rejeitando o desejo de “primeirear” e de mandar. A verdadeira tarefa consiste em servir. É bom abrir espaço às novas gerações de líderes e empenhar-se constantemente na formação dos jovens, dos quais surgirão os futuros líderes.
No nosso primeiro encontro, em junho de 2019 — já passaram alguns anos! — fizemos um momento de silêncio para rezar pela paz, recordando o encontro no Vaticano dos presidentes do Estado da Palestina e do Estado de Israel. Irmãos e irmãs, a guerra destrói até a memória dos passos dados rumo à paz. Olhemos para esta orquestra que faz um grande esforço pela paz. Olhemos para esta oliveira, aqui, um sinal de paz. A guerra destrói tudo, tudo! Tira a humanidade! Recentemente, a 2 de novembro, fui celebrar a Missa no cemitério militar da Commonwealth; ao entrar, olhei para a idade dos mortos nas sepulturas: todos jovens, entre os 20 e os 30 anos. Destrói a juventude, não sabe fazer outra coisa, a não ser destruir. Por favor, lutemos pela paz! Não deixemos que esta memória de paz nos seja roubada! Agora convido-vos a rezar em silêncio pela paz.
Obrigado. Que Nossa Senhora vos ampare na alegria do serviço. Obrigado!