«É a primeira vez que as vejo, é uma experiência profunda tocar com a mão onde a Igreja, onde a minha fé começou». O bispo chinês João Batista Yang Xiaoting estava comovido ao partilhar a emoção da peregrinação que na tarde de quinta-feira 12 de outubro, cerca de 250 participantes no Sínodo sobre a Sinodalidade viveram nas catacumbas de São Sebastião, São Calisto e Domitila.
Uma pausa dos trabalhos sinodais, organizada para levar cardeais, bispos, religiosos e religiosas, leigos e convidados especiais às raízes da fé das primeiras comunidades cristãs de Roma. Ali se entrelaçaram os caminhos de Pedro e Paulo, simbolizando a “unidade na diversidade” que o Papa espera que seja o distintivo da própria assembleia.
Padres e madres sinodais desceram a uma profundidade de 15 metros, para mergulhar em lóculos, criptas, arcossólios e cubículos, e pousar os olhos nos túmulos dos Papas dos séculos iii e iv e as mãos nos grafitos de peixes, pombas, âncoras. Como os que estão gravados no túmulo da pequena Libera que — lê-se na epígrafe em latim — depois de apenas “dois anos e três dias” morreu na “sexta hora da noite, catorze dias antes de maio”.
Um momento de oração, portanto, e também de história e de recordação, que teve lugar no dia seguinte ao aniversário do Concílio Vaticano ii e que evocou imediatamente os tempos do Concílio para muitos, que recordaram aquele 16 de novembro de 1965, dia em que 42 padres conciliares, sobretudo da América Latina, assinaram o famoso “Pacto das Catacumbas”. Ou seja, o compromisso dos bispos e sacerdotes aderentes a realizar uma «Igreja pobre», livre de todos os símbolos e privilégios do poder, para colocar os últimos no centro do ministério pastoral. Um compromisso que ressoa atual neste tempo de trabalhos sinodais, centrados — entre outras coisas — no modo como a Igreja pode acompanhar todas as formas de «pobreza» atuais: os excluídos, os marginalizados, os migrantes, as vítimas da guerra e dos abusos.
O texto do Pacto foi reproduzido na íntegra no folheto da peregrinação, como referência bibliográfica mas também, explicaram os organizadores, como «alimento para a reflexão pessoal». Juntamente com uma passagem do Evangelho de Marcos (da confissão de Pedro ao ensinamento de Jesus sobre o seguimento), o Credo e o texto do Adsumus Sancte Spiritus, entoado pelos participantes na basílica de São Sebastião. A primeira etapa do itinerário teve lugar neste edifício do século iv , construído a partir de necrópoles pagãs.
Cada um com o seu livrete linguístico, distribuído à entrada, rezou na basílica, permanecendo em silêncio durante alguns momentos. O presidente da Pontifícia Comissão para a Arqueologia Sacra, Monsenhor Pasquale Iacobone, que colaborou na iniciativa, deu-lhes as boas-vindas. «No caminho sinodal, é importante apresentar estes lugares tão significativos de uma ideia de Igreja. É uma visita que queremos vitalizar também por ocasião do próximo Jubileu», disse.
Pedro e Paulo encontraram-se nestes lugares de importância histórica e espiritual. Aqui experimentaram «a concórdia dos apóstolos», recordou Iacobone, «a primeira imagem do seu abraço e do seu ser uma só Igreja». Uma «mensagem» para a Igreja, mas também para o mundo atual, para que «as diferenças possam ser reconciliadas».
O cardeal Jean-Claude Hollerich, relator geral do Sínodo, tomou depois a palavra no interior da basílica de São Sebastião, recordando a vida dos primeiros cristãos de Roma e o testemunho dos mártires sepultados nas catacumbas. «Esta peregrinação a partir de São Pedro é uma peregrinação à nossa realidade, às realidades das nossas Igrejas», disse, convidando a «encontrar o sentido deste caminho de Deus nas nossas realidades», onde há sempre o reflexo da cruz. «Nós, bispos, devemos olhar para a nossa cruz e dizer: Senhor, eu amo-te, tomo a minha cruz e sigo-te».
Divididos em grupos linguísticos e em itinerários concebidos para os cardeais e bispos mais idosos, os vários participantes iniciaram então o percurso nas três catacumbas. Para o grupo italiano, houve também uma paragem no museu de S. Sebastião, onde estão expostos sarcófagos de finais do século v . Depois, a descida por escadas íngremes, apoiando-se às paredes escavadas no tufo e reforçadas com tijolos de terracota, passando por corredores com pouco menos de dois metros de altura. «Interessante», «inacreditável», foram os outros comentários, sobretudo daqueles que, vindos de continentes e países distantes, ainda não tinham tido a oportunidade de visitar lugares que conservam os sinais da fé das origens, dos sacramentos e da esperança da ressurreição.
Salvatore Cernuzio