O Sínodo «é uma pausa de toda a Igreja, à escuta», disse o Papa Francisco na conclusão do discurso proferido na tarde de 4 de outubro, durante a primeira congregação geral da xvi Assembleia geral ordinária do Sínodo dos bispos, que teve lugar na sala Paulo vi .
Irmãos e irmãs, boa tarde!
Saúdo a todos vós, aqui presentes para iniciarmos este caminho sinodal.
Apraz-me recordar que foi São Paulo vi quem disse que a Igreja no Ocidente perdera a ideia da sinodalidade e, por isso, criara o Secretariado do Sínodo dos Bispos, que realizou muitos encontros, muitos Sínodos sobre diversas temáticas.
Mas a expressão da sinodalidade ainda não está madura. Era Secretário num desses Sínodos e lembro-me que o Cardeal Secretário (um bom missionário belga… bom, muito bom), quando eu estava a preparar para as votações, veio ver: “Que estás a fazer?” — “Aquilo que se deve votar amanhã...” — “O que é? (...) Isto não! Isto não se vota” — “Mas ouve, é sinodal” — “Não e não! Isto não se vota!”. Pois ainda não tínhamos o hábito de que todos se devem expressar com liberdade. E assim lentamente, ao longo destes quase 60 anos, o caminho tomou esta direção, e hoje podemos chegar a este Sínodo sobre a sinodalidade.
Não é fácil, mas é bom, é muito bom. Um Sínodo querido por todos os bispos do mundo. Na sondagem feita depois do Sínodo para a Amazónia, o segundo lugar de preferência de todos os bispos do mundo foi este: a sinodalidade. O primeiro, eram os padres; o terceiro, creio que foi uma questão social. Mas [este era] o segundo. Todos os bispos do mundo viam a necessidade de refletir sobre a sinodalidade. Porquê? Porque todos compreenderam que o fruto estava maduro para submeter a uma assembleia sinodal.
E é com este espírito que começamos a trabalhar hoje. Gosto de dizer que o Sínodo não é um parlamento; é diferente! O Sínodo não é uma reunião de amigos para resolver algumas questões atuais ou dar opiniões; é diverso! Não esqueçamos, irmãos e irmãs, que o protagonista do Sínodo não somos nós: é o Espírito Santo. E, se estiver no meio de nós o Espírito a guiar-nos, será um bom Sínodo. Mas, se houver entre nós outros modos a mover-nos como, por exemplo, interesses humanos, pessoais, ideológicos, não será um Sínodo, mas mais uma reunião parlamentar, o que é diferente. O Sínodo é um caminho que o Espírito Santo faz. Foram-vos entregues algumas folhas com textos patrísticos que nos ajudarão na abertura do Sínodo. Foram tirados de São Basílio, que escreveu aquele estupendo tratado sobre o Espírito Santo. Porquê? Porque é preciso compreender esta realidade, que não é fácil... não é fácil!
Quando, no cinquentenário da criação do Sínodo, os teólogos me prepararam uma carta que assinei, foi um bom passo em frente. Mas agora somos nós que devemos encontrar a explicação desta estrada. Protagonistas do Sínodo, não somos nós; é o Espírito Santo. E, se deixarmos espaço ao Espírito Santo, o Sínodo correrá bem. Estas folhas de São Basílio foram-vos entregues em diversas línguas: inglês, francês, português e espanhol. Assim as tendes ao vosso dispor... Não menciono estes textos, sobre os quais vos peço para refletir e meditar.
O Espírito Santo é o protagonista da vida eclesial: o plano de salvação dos homens realiza-se pela graça do Espírito. Ele é quem assume a liderança. Se não compreendermos isto, seremos como aqueles de quem se fala nos Atos dos Apóstolos: “Recebestes o Espírito Santo?” — “E que é o Espírito Santo? Nós nem sequer ouvimos falar dele!” (cf. 19, 1-2). Devemos compreender que Ele é o protagonista da vida da Igreja, Aquele que a conduz para diante.
O Espírito Santo desencadeia um dinamismo profundo e diversificado na comunidade eclesial: o “rebuliço” do Pentecostes. É curioso o que acontece no Pentecostes: tudo estava bem organizado, tudo estava claro! Naquela manhã, houve um rebuliço, falam-se todas as línguas, todos as compreendiam... Mas é uma variedade cujo significado não se compreende de todo. E, depois disso, a grande obra do Espírito Santo: mais do que unidade, é harmonia. Une-nos em harmonia, a harmonia de todas as diferenças. Se não há harmonia, não há Espírito: é Ele que a faz.
Depois, o terceiro texto que pode ajudar: o Espírito Santo é o compositor harmonioso da história da salvação. Harmonia — atenção! — não significa “síntese”, mas “vínculo de comunhão entre partes desiguais”. Se neste Sínodo chegarmos a uma declaração de que todos são iguais, todos iguais, sem nuances, o Espírito não estaria aqui. Ficou fora. Ele cria aquela harmonia que não é síntese, mas um vínculo de comunhão entre partes dissemelhantes.
A Igreja, uma harmonia única de vozes, com muitas vozes, realizada pelo Espírito Santo: assim devemos conceber a Igreja. Cada comunidade cristã, cada pessoa tem a sua peculiaridade, mas estas particularidades hão de ser inseridas na sinfonia da Igreja... E a justa sinfonia é feita pelo Espírito: nós não podemos fazê-la. Não somos um parlamento, não somos as Nações Unidas, não! Trata-se de uma coisa diferente...
O Espírito Santo é a origem da harmonia entre as Igrejas. É interessante o que Basílio diz aos irmãos bispos: «Assim como consideramos a vossa mútua harmonia e unidade como o nosso bem, também vos convidamos a participar nos nossos sofrimentos causados pelas divisões e a não nos separar de vós porque estamos distantes por razões de localização e de lugar, mas, uma vez que estamos unidos em comunhão segundo o Espírito, para nos acolhermos na harmonia de um só corpo».
O Espírito Santo conduz-nos pela mão e consola-nos. Assim a presença do Espírito é — ouso dizê-lo — quase materna: como uma mãe nos conduz, nos dá esta consolação. É o Consolador, um dos nomes do Espírito: o Consolador. A ação consoladora do Espírito Santo retratada pelo estalajadeiro a quem é confiado o homem que caiu nas mãos dos bandidos (cf. Lc 10, 34-35). Basílio, ao interpretar aquela parábola do Bom Samaritano, vê no estalajadeiro o Espírito Santo que permite que a boa vontade de um homem e o pecado de outro sigam um caminho harmonioso.
Além disso, Aquele que guarda a Igreja é o Espírito Santo. É que o Espírito Santo tem um exercício multiforme de paráclito. Devemos aprender a escutar as vozes do Espírito: são todas diferentes. Há que aprender a discernir.
E depois, o Espírito é Aquele que faz a Igreja: é Ele quem faz a Igreja. Existe um vínculo muito importante entre a Palavra e o Espírito. Podemos pensá-lo assim: o Verbo e o Espírito. A Escritura, a Liturgia e a tradição antiga falam-nos da “tristeza” do Espírito Santo; e uma das coisas que mais entristece o Espírito Santo são as palavras ditas ao vento: as palavras vazias, as palavras mundanas e — descendo um pouco a um hábito que é humano, mas não bom — a murmuração. A murmuração é anti-Espírito Santo: vai contra Ele. É uma moléstia muito frequente entre nós. E palavras vazias entristecem o Espírito Santo. Não entristeçais o Espírito Santo de Deus com o qual fostes marcados (cf. Ef 4, 30). Haverá necessidade de dizer o grande mal que é entristecer o Espírito Santo de Deus? Murmuração, maledicência: isto entristece o Espírito Santo. A murmuração é a doença mais comum na Igreja. E se não deixarmos que Ele nos cure desta doença, dificilmente será bom um caminho sinodal. Pelo menos aqui: se não estás de acordo com o que diz ali aquele bispo, aquela religiosa ou aquele leigo, di-lo face a face. Para isto é um Sínodo: para dizer a verdade, não a murmuração pelas costas.
O Espírito Santo confirma-nos na fé. E fá-lo continuamente...
Estes textos de Basílio — lede-os! — estão na vossa língua, porque creio que nos ajudarão a abrir espaço no nosso coração ao Espírito. Repito: não é um parlamento, não é uma reunião para a pastoral da Igreja. Isto é um syn-odos; caminhar juntos é o programa. Fizemos muitas coisas, como disse Sua Eminência: a consulta e tudo o mais com o povo de Deus. Mas quem toma isso nas próprias mãos, quem guia é o Espírito Santo. Se Ele não estiver presente, isso não dará um resultado bom.
Insisto nisto: por favor, não entristeçais o Espírito. E, na nossa teologia, abri espaço ao Espírito Santo. E inclusivamente neste Sínodo discerni as vozes do Espírito distinguindo-as das que não são do Espírito, que são mundanas. Na minha opinião, a doença pior que hoje — sempre, mas também hoje — se vê na Igreja é aquilo que vai contra o Espírito, ou seja, a mundanidade espiritual. Um espírito — mas não santo! — de mundanidade. Tende cuidado com isto: não ocupemos o lugar do Espírito Santo com coisas mundanas — mesmo boas — como o bom senso: isto ajuda, mas o Espírito vai mais longe. Devemos aprender a viver na nossa Igreja com o Espírito Santo. Por favor, refleti sobre estes textos de São Basílio, que nos ajudarão muito!
Depois, quero dizer que, neste Sínodo — inclusive para dar espaço ao Espírito Santo — há a prioridade da escuta. Há esta prioridade... E aos operadores de imprensa, aos jornalistas — que fazem um trabalho muito interessante, muito bom — devemos passar uma mensagem, dar uma comunicação que seja o reflexo desta vida no Espírito Santo. É preciso uma ascese — desculpem se falo assim aos jornalistas — um certo jejum da palavra pública para salvaguardar isso. E aquilo que se publica, seja neste clima. Alguém dirá — já o estão a dizer — que os bispos têm medo e, por isso, não querem que os jornalistas digam. Não é isso! O trabalho dos jornalistas é muito importante. Mas devemos ajudá-los para que digam isto: este caminhar no Espírito. E mais do que a prioridade de falar, existe a prioridade da escuta. E peço, por favor, aos jornalistas que façam compreender isto às pessoas; saibam que a prioridade é ouvir. Quando houve o Sínodo sobre a família, havia a opinião pública, formada pela nossa mundanidade, de que se tratava de dar a comunhão aos divorciados: e assim entrámos no Sínodo. Quando foi o Sínodo da Amazónia, havia a opinião pública, fazendo pressão para que se fizessem os viri probati: entramos com esta pressão. Agora há algumas hipóteses sobre este Sínodo: “Que farão?”. “Talvez o sacerdócio para as mulheres...”. E não sei que mais; as coisas que se dizem lá fora. E dizem muitas vezes que os bispos têm medo de comunicar o que sucede. Por isso peço-vos, a vós comunicadores, que desempenheis a vossa função bem, corretamente, para que a Igreja e as pessoas de boa vontade (as outras vão dizer o que quiserem) compreendam que, também na Igreja, há a prioridade da escuta. Transmiti isto: é muito importante!
Agradeço-vos pela ajuda que dais a todos nós nesta “pausa” da Igreja. A Igreja parou, como pararam os Apóstolos depois de Sexta-Feira Santa, naquele Sábado Santo. Fechados: aqueles por medo, nós não! Mas... parou. É uma pausa de toda a Igreja, em escuta. Esta é a mensagem mais importante. Obrigado pelo vosso trabalho, obrigado por tudo o que fazeis. E recomendo que, se puderdes, leiais estas coisas de São Basílio, que ajudam muito. Obrigado!