No próximo dia 6 de novembro, na sala Paulo vi , o Papa vai encontrar-se com milhares de crianças de todo o mundo «para manifestar o sonho de todos: voltar a ter sentimentos puros como as crianças, porque o Reino de Deus pertence àqueles que são como elas». O anúncio foi feito pelo próprio Francisco no final do Angelus recitado ao meio-dia de domingo, 1 de outubro, com os fiéis reunidos na praça de São Pedro. Antes da oração mariana, o Pontífice comentou o trecho litúrgico do Evangelho de Mateus (21, 28-32).
Amados irmãos e irmãs
bom dia!
Hoje o Evangelho fala de dois filhos, a quem o pai pede que vão trabalhar na vinha (cf. Mt 21, 28-32). Um deles responde imediatamente “sim”, mas depois não vai. O outro, pelo contrário, diz que não, mas depois arrepende-se e vai.
O que dizer destes dois comportamentos? Pensa-se imediatamente que ir trabalhar na vinha requer sacrifício, e que o sacrifício custa e não é espontâneo, mesmo na beleza de saber que somos filhos e herdeiros. Mas o problema aqui não está tão ligado à resistência a ir trabalhar na vinha, mas à sinceridade ou não diante do pai e de si próprio. Com efeito, na realidade nenhum dos dois filhos se comporta corretamente, o primeiro mente, enquanto que o outro erra mas é sincero.
Vejamos o caso do filho que diz “sim” mas depois não vai. Ele não quer fazer a vontade do pai, mas também não quer discutir e falar sobre isso. Por isso, esconde-se por detrás de um “sim”, de um falso assentimento, que esconde a sua preguiça e lhe salva a cara momentaneamente, é um hipócrita. Passa sem conflitos, mas engana e desilude o seu pai, desrespeitando-o de uma forma pior do que teria feito com um “não” direto. O problema de um homem que se comporta assim é que não é apenas um pecador, mas um corrupto, porque mente sem problemas para cobrir e disfarçar a sua desobediência, sem aceitar qualquer diálogo ou confronto honesto.
O outro filho, o que diz “não” mas vai, é sincero. Não é perfeito, mas é sincero. Claro que teríamos gostado de o ver dizer “sim” imediatamente. Não o faz, mas, pelo menos, manifesta diretamente e num certo sentido com coragem a sua relutância. Ou seja, assume a responsabilidade pelo seu comportamento e age à luz do dia. Depois, com esta honestidade básica, acaba por se questionar, por se aperceber de que estava errado e por retomar os seus passos. É, podemos dizer, um pecador, mas não um corrupto. Ouvi bem: é um pecador, mas não é um corrupto. E para o pecador há sempre uma esperança de redenção; para o corrupto, porém, é muito mais difícil. De facto, os seus falsos “sins”, as suas aparências elegantes mas hipócritas e os seus fingimentos que se tornaram hábitos são como uma espessa “parede de borracha”, atrás da qual ele se protege das chamadas de consciência. E estes hipócritas fazem tanto mal! Irmãos e irmãs, pecadores sim — todos o somos —, corruptos não! Pecadores sim, corruptos não!
Olhemos agora para nós próprios e, à luz de tudo isto, coloquemo-nos algumas questões. Perante o esforço de viver uma vida honesta e generosa, de me empenhar segundo a vontade do Pai, estou disposto a dizer “sim” todos os dias, mesmo que isso custe? E quando não consigo, sou sincero no confronto com Deus sobre as minhas dificuldades, as minhas quedas, as minhas fragilidades? E quando digo “não”, volto atrás? Falemos com o Senhor sobre isto. Quando cometo um erro, estou disposto a arrepender-me e a corrigir-me? Ou faço vista grossa e vivo com uma máscara, preocupando-me apenas de me mostrar uma boa pessoa e honesto? Em última análise, sou um pecador, como toda a gente, ou há algo de corrupto em mim? Não esqueçais: pecadores sim, corruptos não.
Maria, espelho de santidade, nos ajude a ser cristãos sinceros.
No final do Angelus, o Papa recordou a beatificação do padre Giuseppe Beotti, celebrada na véspera em Piacenza; depois lançou um apelo ao diálogo entre o Azerbaijão e a Arménia para resolver a crise das populações deslocadas do Nagorno-Karabakh; além disso, pediu para que se reze o Terço neste mês de outubro, em particular pela paz na martirizada Ucrânia e em todos os países em guerra, pela evangelização no mundo e pelo Sínodo dos bispos. Por fim, o duplo anúncio da exortação apostólica sobre Santa Teresa do Menino Jesus, que será publicada a 15 de outubro, e do encontro com as crianças a 6 de novembro.
Caros irmãos e irmãs!
Ontem, em Piacenza, foi proclamado Beato o padre Giuseppe Beotti, assassinado por ódio à fé em 1944. Pastor segundo o coração de Cristo, não hesitou em oferecer a sua vida para proteger o rebanho que lhe foi confiado. Aplaudamos o novo beato!
Acompanho nestes dias a dramática situação das pessoas deslocadas no Nagorno-Karabakh. Renovo o meu apelo ao diálogo entre o Azerbaijão e a Arménia, esperando que as conversações entre as partes, com o apoio da comunidade internacional, favoreçam um acordo duradouro que ponha fim à crise humanitária. Rezo pelas vítimas da explosão do depósito de combustível perto da cidade de Stepanakert.
Hoje começa o mês de outubro, mês do Rosário e das missões. Exorto todos a experimentar a beleza de recitar o Rosário, contemplando com Maria os mistérios de Cristo e invocando a sua intercessão pelas necessidades da Igreja e do mundo. Rezemos pela paz, na atormentada Ucrânia e em todas as terras feridas pela guerra. Rezemos pela evangelização dos povos. E rezemos também pelo Sínodo dos Bispos, que este mês realizará a sua primeira Assembleia sobre o tema da sinodalidade da Igreja.
Hoje celebramos Santa Teresa do Menino Jesus, Santa Teresinha, a santa da confiança. No próximo dia 15 de outubro será publicada uma Exortação Apostólica sobre a sua mensagem. Rezemos a Santa Teresinha e a Nossa Senhora. Que Santa Teresinha nos ajude a ter confiança e a trabalhar pelas missões.
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de muitos países. Em particular, saúdo o grupo do Santuário da Virgem da Revelação nas Três Fontes de Roma, os fiéis de uma paróquia de Catânia, os crismandos de Porto Sant’Elpidio, os escuteiros de Afragola e as confrarias dos Arqueiros Históricos e dos Cavaleiros de São Sebastião. O meu pensamento e o meu encorajamento vão para a Associação Nacional das Mulheres Operadas à Mama.
Hoje, aqui ao meu lado, como podeis ver, estão cinco crianças, em representação dos cinco continentes. Juntamente com elas, gostaria de anunciar que, na tarde de 6 de novembro, na Sala Paulo vi , encontrarei crianças de todo o mundo. O evento, promovido pelo Dicastério para a Cultura e a Educação, terá como tema “Aprendamos com os meninos e meninas”. É um encontro para manifestar o sonho de todos: voltar a ter sentimentos puros como as crianças, porque o Reino de Deus pertence àqueles que são como as crianças. As crianças ensinam-nos a clareza das relações e a aceitação espontânea do estrangeiro e o respeito por toda a criação. Queridas crianças, espero por todas vós para aprender também convosco.
Desejo-vos a todos um bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!