AJornada mundial da juventude, realizada na cidade do Rio de Janeiro, dos dias 23 ao 28 de julho de 2013, foi um marco importante na história da Igreja católica, na vida dos jovens de todo o mundo e para todo o povo de Deus presente na arquidiocese do Rio de Janeiro. O primeiro artigo que escrevi, na recordação dos 5 anos da realização da jmj foi “Vimos Deus agir”. Sim, tocamos com nossas mãos, nossos olhos viram e nossos ouvidos ouviram o Senhor passar no meio de nós. Neste ano de 2023, temos a graça de celebrar os 10 anos de realização da mesma e dar graças a Deus pelos frutos que seguimos colhendo abundantemente. Frutos que encontramos também em encontros internacionais quando os testemunhos aparecem abundantemente. Mas ainda nos encontros dentro de nossa arquidiocese muitas vezes somos surpreendidos por testemunhos que sempre nos levam a agradecer a Deus pela sua beleza e profundidade.
Nem todos os livros e vídeos dariam para retratar tão belos sinais. Aqui em nossa arquidiocese tem lugar um evento comemorativo onde revivemos juntos este momento de grande graça ao longo de uma semana em que vários outros momentos fazem memória dessa presença de Deus no coração da juventude presente no Rio de Janeiro.
Das lembranças mais intensas, recordo-me dos rostos juvenis ávidos pelas palavras e testemunho do nosso amado Papa Francisco que se desdobrou em generosidade e proximidade com os peregrinos e com os habitantes de nossa arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. O exemplo de humildade, caridade e fé comoveu brasileiros de diferentes credos, idade e cultura, que se emocionaram e experimentaram a verdadeira presença do Cristo vivo durante uma intensa semana. Foi a primeira viagem internacional do Santo Padre. Tudo era novidade, até para os organizadores das visitais papais. A alegria contagiante, a solidariedade do povo carioca e o testemunho dos jovens (recordamos a limpeza nos trens, metrô, ônibus e na praia de Copacabana) permanecem ainda na memória de todos nós.
Os frutos da jmj Rio 2013 podem ser colhidos no dia a dia da vida pelo mundo afora, mas de modo especial em nossas comunidades, assim como a missão que lá nos foi confiada continua sendo presença constante para animar a vida das nossas paróquias, comunidades, pastorais e movimentos. Quantas vocações nas paróquias e dioceses do País, seja para a vida de missão, de catequese, de família, dos trabalhos mais variados, foram despertadas naquele ano! Nós louvamos a Deus por essas vocações que mantêm viva a Igreja que caminha de modo permanente. Tenho rezado de modo especial pelo crescimento diário da unidade da Igreja, pela manifestação do amor de Deus simbolizado no coração de Jesus ao mundo de hoje, e guardo no coração os acontecimentos à luz da fé.
Quantos jovens protagonistas pelo mundo afora. Por ocasião deste evento comemorativo e mesmo sabendo que abundantes frutos ainda seguem sendo colhidos, gostaria de destacar alguns momentos especiais que podem servir como símbolo das graças vividas ao longo destes 10 anos após a missa de envio realizada na praia de Copacabana pelo Papa Francisco. Um deles é a marca deixada pela espiritualidade e pelas mensagens do Papa Francisco na ocasião. O renovado ânimo missionário foi uma das grandes marcas deixadas pela mensagem do Papa. Mas gostaria de citar aqui um trecho das palavras do Santo Padre registradas na Vigília, onde tivemos que mudar de local às pressas por ocasião de eventos naturais ocorridos no local denominado Campus Fidei: Penso que podemos aprender algo daquilo que sucedeu nestes dias: por causa do mau tempo, tivemos de suspender a realização desta Vigília no “Campus Fidei”, em Guaratiba. Não quererá porventura o Senhor dizer-nos que o verdadeiro “Campus Fidei”, o verdadeiro Campo da Fé não é um lugar geográfico, mas somos nós mesmos? Sim, é verdade! Cada um de nós, cada um de vocês, eu, todos. E ser discípulo missionário significa saber que somos o Campo da Fé de Deus (cf. Homilia na Vigília com os jovens, na praia de Copacabana).
Logo em seguida podemos citar a promoção do diálogo e do intercâmbio cultural: a diversidade cultural sempre foi uma das marcas das jmj s, assim como da nossa cidade. Em 2013 tivemos a oportunidade de viver a experiência do diálogo intercultural entre os jovens participantes. Na comemoração dos 10 anos, reafirmamos a promoção de novos diálogos e intercâmbios culturais que estimulem a construção de pontes entre diferentes culturas, formas de pensamento, espiritualidades, religiões, como parte dos pedidos que nos foram deixados pelo Papa Francisco. Não podemos deixar de citar a legado e envolvimento da comunidade local, não só a comunidade católica, mas de toda a cidade do Rio de Janeiro, assim como as cidades vizinhas e aquelas que acolheram nossos jovens na pré-Jornada. A marca do acolhimento fraterno e alegre contagiou a todos, assim como também a alegria da juventude nos contagiou. A realização da jmj teve um impacto significativo na comunidade local, interferindo de maneira positiva na rotina da nossa cidade. Quando são citados os grandes eventos já realizados em nossa cidade, as recordações positivas do clima vivenciado nos dias da jmj ainda estão presentes na memória do povo carioca. Hoje é também essencial envolver novamente a comunidade local na vida da Igreja, fortalecendo o espírito de acolhimento e solidariedade que marcou a jmj .
Além dessas e outras memórias agradeço pelo dom da vida, pela Jornada da juventude e pela semente que foi plantada em nosso País que já frutifica em nossas paróquias e dioceses. Agradeço a todos os protagonistas desses intensos momentos! Sei dos inúmeros sacrifícios feitos, mas sei das alegrias com que foram realizados. As últimas palavras ditas pelo Pontífice, antes retornar ao Vaticano, foram: «Nesse momento, já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, deste povo de grande coração, deste povo tão amoroso. Este Papa precisa da oração de todos vocês. Um abraço para todos e que Deus os abençoe!».
Em sua carta de 25 de maio deste ano ele recorda com carinho: “Asseguro-lhe que continua indelével em minha memória a recordação daquele encontro em terras cariocas, durante minha primeira viagem Apostólica fora da Itália, como bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro, com a missão de confirmar os irmãos na fé.” Também sentiremos saudades por longos anos da fé contagiante com sotaques de Norte a Sul do País, da energia envolta nos corpos de todas as idades, das músicas incessantes, das orações vigilantes, das celebrações Eucarísticas repletas de amor verdadeiro, da união por Cristo, com Cristo e em Cristo!
Ao fazer memória de tão belos acontecimentos pedimos que sempre estejam vivos os propósitos e experiências evangelizadoras que vivemos nesses abençoados dias. São inúmeras situações que não conseguimos relacionar todas e a cada dia sabemos de novas experiências que nos repassam desses abençoados dias.
Que os patronos da jmj 2013, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, São Sebastião, Santo Antônio de Santana Galvão, Santa Teresa de Lisieux e São João Paulo ii , mantenham acesa a chama da nossa fé, para podermos, com toda a realidade que nós temos, perceber esse amor de Deus presente em nossa existência ontem, hoje e sempre. O Papa, passado 10 anos assim nos recomenda: «Faço votos que se renove nos participantes daquela Jornada, e brote no coração dos jovens de hoje, o empenho missionário de uma “Igreja em saída”, sempre atenta ao mandato de Jesus Cristo: Ide e fazei discípulos entre todas as nações!». Vimos Deus agir e Ele continua passando entre nós, impulsionando-nos na missão de ser testemunhas de Cristo. Louvado seja Deus por tão grandes dádivas!
*Cardeal cisterciense arcebispo
de São Sebastião do Rio de Janeiro
Orani João Tempesta*