Solidariedade com Myanmar e Bangladesh atingidos
Solidariedade e ajuda humanitária para Myanmar e Bangladesh, atingidos pelo ciclone: pediu o Papa Francisco no final do Regina Caeli recitado ao meio-dia de 28 de maio, domingo de Pentecostes na praça de São Pedro, no final da missa que celebrou na basílica. Anteriormente o Pontífice propôs uma reflexão sobre o trecho litúrgico do Evangelho de João, que fala da efusão do Espírito Santo sobre os discípulos reunidos no cenáculo.
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, Solenidade de Pentecostes, o Evangelho leva-nos ao Cenáculo, onde os apóstolos se tinham refugiado depois da morte de Jesus (Jo 20, 19-23). O Ressuscitado, na noite de Páscoa, apresenta-se precisamente naquela situação de medo e angústia e, soprando sobre eles, diz: «Recebei o Espírito Santo» (v. 22). Assim, com o dom do Espírito, Jesus quer libertar os discípulos do medo, este medo que os mantém fechados em casa, e liberta-os para que possam sair e tornar-se testemunhas e anunciadores do Evangelho. Reflitamos um pouco sobre aquilo que o Espírito faz: liberta do medo.
Os discípulos tinham fechado as portas, diz o Evangelho, «por temor» (v. 19). A morte de Jesus tinha-os perturbado, os seus sonhos tinham sido desfeitos, as suas esperanças tinham desaparecido. E fecharam-se em si mesmos. Não apenas naquela sala, mas dentro, no coração. Gostaria de sublinhar este facto: fechados dentro. Quantas vezes também nós nos fechamos em nós mesmos? Quantas vezes, por causa de uma situação difícil, de um problema pessoal ou familiar, do sofrimento que nos marca ou por causa do mal que respiramos à nossa volta, caímos lentamente na perda da esperança e na falta de coragem para continuar? Muitas vezes isto acontece. E então, como os apóstolos, fechamo-nos dentro, barricando-nos no labirinto das preocupações.
Irmãos e irmãs, este “fecharmo-nos dentro” acontece quando, nas situações mais difíceis, deixamos que o medo se apodere de nós e “levante a voz” dentro de nós. Quando o medo entra, fechamo-nos. A causa, portanto, é o medo: medo de não ser capaz de enfrentar, de estar sozinho para enfrentar as batalhas diárias, de correr riscos e depois ficar desiludido, de fazer escolhas erradas. Irmãos e irmãs, o medo bloqueia, o medo paralisa. E também isola: pensemos no medo do outro, dos estrangeiros, dos diferentes, dos que pensam de forma diferente. E pode até haver medo de Deus: que me castigue, que se ressinta de mim... Se dermos espaço a estes falsos medos, as portas fecham-se: as do coração, as da sociedade e até as da Igreja! Onde há medo, há fechamento. E isto não é bom.
Contudo, o Evangelho oferece-nos o remédio do Ressuscitado: o Espírito Santo. Ele liberta das prisões do medo. Ao receberem o Espírito — que hoje celebramos — os apóstolos deixam o cenáculo e saem pelo mundo para perdoar os pecados e anunciar a boa nova. Graças a Ele, os receios são vencidos e as portas abrem-se. Pois é isto que o Espírito faz: faz-nos sentir a proximidade de Deus e, assim, o seu amor afasta o temor, ilumina o caminho, consola, sustenta na adversidade. Diante dos medos e dos fechamentos, invoquemos então o Espírito Santo para nós, para a Igreja e para o mundo inteiro: a fim de que um novo Pentecostes afaste os receios que nos assaltam e reacenda o fogo do amor de Deus.
Maria Santíssima, a primeira a ser repleta do Espírito Santo, interceda por nós.
No final da oração mariana, depois de ter recordado a recente comemoração do 150º aniversário da morte de Manzoni, o Papa dirigiu um apelo a favor das duas nações asiáticas em dificuldade, saudou alguns grupos presentes — entre os quais os promotores de iniciativas de fraternidade com os doentes da Policlínica Gemelli — e recordou que na próxima quarta-feira, nalguns santuários marianos de todo o mundo, se rezará pela próxima assembleia ordinária do Sínodo dos bispos, dedicada à sinodalidade.
Prezados irmãos e irmãs!
No passado dia 22 de maio celebrou-se o 150º aniversário da morte de uma das figuras mais elevadas da literatura, Alessandro Manzoni. Ele, através das suas obras, foi um cantor das vítimas e dos últimos: estes estão sempre sob a mão protetora da Providência divina, que «aterra e desperta, aflige e consola»; e são sustentados também pela proximidade dos pastores fiéis da Igreja, presentes nas páginas da obra-prima de Manzoni.
Convido-vos a rezar pelas populações que vivem na fronteira entre Myanmar e Bangladesh, duramente atingidas por um ciclone: mais de oitocentas mil pessoas, além dos muitos Rohingyas que já vivem em condições precárias. Ao renovar a minha proximidade a estas populações, dirijo-me aos Responsáveis para que facilitem o acesso da ajuda humanitária e apelo ao sentido de solidariedade humana e eclesial para socorrer estes nossos irmãos e irmãs.
Saúdo de coração todos vós, romanos e peregrinos da Itália e de muitos países, em particular os fiéis do Panamá e a peregrinação da Arquidiocese de Tulancingo (México) que celebra Nuestra Señora de los Angeles; bem como o grupo de Novellana (Espanha). Saúdo também os fiéis de Celeseo (Pádua) e de Bari, e envio a minha bênção a quantos se reuniram na Policlínica Gemelli para promover iniciativas de fraternidade com os doentes.
Na próxima quarta-feira, na conclusão do mês de maio, estão previstos momentos de oração nos santuários marianos de todo o mundo para apoiar a preparação da próxima Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos. Peçamos à Virgem Maria que acompanhe com a sua proteção materna esta importante etapa do Sínodo. E a Ela confiemos também o desejo de paz de tantas populações do mundo inteiro, especialmente da martirizada Ucrânia.
Desejo a todos bom domingo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
Bom almoço e até à vista!