REGINA CAELI — O Papa falou da situação no Sudão e do martirizado povo ucraniano

Não se habituar às violências e à guerra

 Não se habituar às violências e à guerra   POR-021
25 maio 2023

E garantiu proximidade à Emília-Romanha assolada pelas cheias


«Um mês após o início da violência no Sudão, a situação continua a ser grave... Por favor, não nos habituemos aos conflitos... E continuemos a estar próximos do martirizado povo ucraniano», disse o Papa no final do Regina caeli de domingo, 21 de maio. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico, antes de dirigir a oração mariana com os 25.000 fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o seguiam através dos meios de comunicação social, Francisco comentou o Evangelho da festa da Ascensão do Senhor.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

Hoje, em Itália e em muitos outros países, celebra-se a Ascensão do Senhor. É uma festa que conhecemos bem, mas que pode suscitar algumas perguntas, pelo menos duas. A primeira: por que festejar a partida de Jesus da terra? Poderia parecer que a sua partida é um momento triste, não propriamente um motivo de alegria! Por que festejar uma partida? Primeira pergunta. Segunda pergunta: o que está a fazer Jesus agora no céu? Primeira pergunta: porquê festejar? Segunda pergunta: o que está a fazer Jesus no céu?

Por que festejamos? Porque com a Ascensão aconteceu uma coisa nova e bela: Jesus levou a nossa humanidade, a nossa carne para o céu — pela primeira vez! — ou seja, levou-a a Deus. Aquela humanidade, que ele assumira na terra, não ficou aqui. Jesus ressuscitado não era um espírito, não, tinha o seu corpo humano, a carne, os ossos, tudo, ali, com Deus, estará para sempre. Podemos dizer que a partir do dia da Ascensão, o próprio Deus “mudou”: desde então, já não é apenas um espírito, mas, por quanto nos ama, tem em si a nossa própria carne, a nossa humanidade! Pois o nosso lugar é indicado, o nosso destino está ali. Assim escrevia um antigo Padre na fé: «Notícia maravilhosa! Aquele que se fez homem por nós [...], para nos fazer seus irmãos, apresenta-se como homem diante do Pai, para levar consigo todos os que estão unidos a ele» (S. Gregório de Nissa, Discurso sobre a Ressurreição de Cristo, 1). Hoje celebramos “a conquista do céu”: Jesus que regressa ao Pai, mas com a nossa humanidade. E assim o céu já é um pouco nosso. Jesus abriu a porta e o seu corpo está lá.

Segunda pergunta: o que está a fazer Jesus no céu? Ele representa-nos perante o Pai, mostra-lhe continuamente a nossa humanidade, mostra-lhe as feridas. Gosto de pensar que Jesus, diante do Pai, mostrando-lhe as chagas, reza assim. “Eis o que sofri pelos homens: faz alguma coisa!”. Mostra-lhe o preço da redenção, e o Pai comove-se. Gosto de pensar nisto. É assim que Jesus reza. Ele não nos deixou sozinhos. De facto, antes de ascender, disse-nos, como relata o Evangelho de hoje: «Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20). Ele está sempre connosco, olha para nós, está «sempre vivo para interceder» (Hb 7, 25) em nosso favor. Para mostrar as feridas ao Pai, por nós. Numa palavra, Jesus intercede; está no melhor “lugar”, diante do Pai seu e nosso, para interceder por nós.

A intercessão é fundamental. Também para nós esta fé é útil: ajuda-nos a não perder a esperança, a não desanimar. Perante o Pai, há alguém que lhe mostra as feridas e intercede. Que a Rainha do Céu nos ajude a interceder com a força da oração.

Depois do Regina caeli, o Pontífice fez um duplo apelo à paz no Sudão e na Ucrânia. Em seguida, recordou o Dia mundial das comunicações sociais, que este ano teve como tema «Falar com o coração», saudando os jornalistas presentes na praça, entre os quais uma delegação da União católica italiana de imprensa (Ucsi), que participou na missa no Centro San Lorenzo durante a manhã e deu vida a diversas iniciativas para celebrar o encontro anual. Sucessivamente, o Pontífice referiu-se ao início da «Semana Laudato si’» promovida pelo Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, que para a ocasião preparou subsídios distribuídos na praça. E convidando «todos a colaborar no cuidado da nossa casa comum», assegurou a proximidade à região da Emília-Romanha atingida pelas inundações. Por fim, saudou os grupos de fiéis presentes.

Prezados irmãos e irmãs!

É triste, mas, um mês depois do início da violência no Sudão, a situação continua a ser grave. Encorajo os acordos parciais alcançados até agora, renovando o meu veemente apelo para que deponham as armas e peço à comunidade internacional que não poupe esforço algum para fazer prevalecer o diálogo e aliviar o sofrimento da população. Por favor, não nos habituemos aos conflitos e às violências. Não nos habituemos à guerra! E continuemos a estar próximos do martirizado povo ucraniano.

Hoje celebra-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais, com o tema Falar com o coração. É o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora. Saúdo os jornalistas e os profissionais da comunicação aqui presentes, agradeço-lhes pelo trabalho e desejo que o mesmo esteja sempre ao serviço da verdade e do bem comum. Uma salva de palmas a todos os jornalistas!

Hoje começa a Semana Laudato si’. Agradeço ao Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e às numerosas organizações que aderem; e convido todos a colaborar para o cuidado da nossa casa comum: há tanta necessidade de conjugar competências e criatividade! Recordam-no também as recentes calamidades, como as inundações que atingiram a Emília-Romanha nos últimos dias, a cuja população renovo de coração a minha proximidade. Agora, na Praça, serão distribuídos os opúsculos sobre a Laudato si’ que o Dicastério preparou em colaboração com o Instituto ambiental de Estocolmo.

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de Itália e de muitos países... Vejo muitas bandeiras, bem-vindos! Saúdo, em particular, as Irmãs Franciscanas de Santa Isabel da Indonésia — de longe! — os fiéis de Malta, do Mali, da Argentina, da ilha caribenha de Curaçau e a Banda musical de Porto Rico. Gostaríamos de vos ouvir tocar depois!

Saúdo também a peregrinação diocesana de Alexandria; os jovens da Crisma da diocese de Génova, com os quais me encontrei ontem em Santa Marta, com o chapéu vermelho, muito bem!; os grupos paroquiais de Molise, Scandicci, Grotte e Grumo Nevano; as associações empenhadas na defesa da vida humana; o coro juvenil “Emil Komel” de Gorizia; as escolas “Caterina di Santa Rosa” e “Sant’Orsola” de Roma e os jovens da Imaculada.

Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Por favor, não vos esqueçais. Bom almoço e até à vista!