Aos participantes numa conferência promovida pela Pontifícia academia das ciências

Guerras, corrupção
e exploração reduzem populações inteiras à fome

 Guerras, corrupção e exploração  reduzem  populações inteiras à fome  POR-020
17 maio 2023

Antes da audiência geral de quarta-feira, 10 de maio, Francisco recebeu em audiência no local adjacente à Sala Paulo vi os participantes na Conferência da Pontifícia academia das ciências — realizada nos dias 9 e 10, em colaboração com a fao , sobre o tema «Crises alimentares e humanitárias: ciência e políticas para a sua prevenção e mitigação» — dirigindo-lhes a seguinte saudação.

Eminência
Senhor Presidente
Caros irmãos e irmãs, todos!

Dou-vos as boas-vindas por ocasião da Conferência sobre o tema «Crises alimentares e humanitárias: ciência e políticas para a sua prevenção e mitigação» e agradeço ao Presidente von Braun a sua amável saudação.

O tema que escolhestes é muito oportuno, não só para o debate académico, mas também porque apela a autoridades clarividentes e práticas políticas para aliviar o sofrimento de tantos nossos irmãos e irmãs que carecem de uma nutrição saudável e de acesso a alimentos suficientes. Um estudioso dizia-me há alguns meses: “Se durante um ano não se fabricassem armas, acabaria a fome no mundo”.

Trata-se de um desafio urgente, pois, com demasiada frequência, situações marcadas por calamidades naturais, mas também por conflitos armados — penso especialmente na guerra na Ucrânia — corrupção política ou económica e exploração da terra, a nossa casa comum, dificultam a produção de alimentos, minam a resiliência dos sistemas agrícolas e ameaçam perigosamente o abastecimento nutricional de populações inteiras. Ao mesmo tempo, estas várias crises foram exacerbadas pelos efeitos prolongados da pandemia de Covid-19, enquanto assistimos também ao declínio da solidariedade fraterna — é um facto: as guerras e a miséria levam ao declínio da solidariedade fraterna — declínio provocado, entre outras coisas, pelas exigências egoístas inerentes a alguns modelos económicos atuais.

Nesta perspetiva, temos de tomar consciência cada vez mais de que tudo está intimamente interligado: «os problemas atuais exigem uma visão capaz de ter em conta todos os aspetos da crise global» (cf. Fratelli tutti, 137). Um elemento importante desta visão é a compreensão de que uma crise pode também tornar-se uma oportunidade, uma ocasião propícia para reconhecer e aprender com os erros do passado.

Neste sentido, espero que a vossa Conferência ajude todos a sair melhor das crises que estamos a viver, não só nos concentrando em soluções técnicas, mas sobretudo recordando-nos como é essencial desenvolver uma atitude de solidariedade universal baseada na fraternidade, no amor e na compreensão recíproca. A este propósito, a Igreja apoia e encoraja de todo o coração os vossos esforços, juntamente com os de quantos trabalham não só para alimentar os outros ou responder às crises, mas também para promover o desenvolvimento humano integral, a justiça entre os povos e a solidariedade internacional, reforçando assim o bem comum da sociedade.

Prezados amigos, mais uma vez expresso a minha gratidão pelo vosso precioso serviço em colaboração com a Pontifícia Academia das Ciências, e asseguro-vos as minhas orações para que o vosso trabalho dê frutos, ajudando a enfrentar os numerosos problemas decorrentes das crises alimentares e de outras crises humanitárias. As crises são diferentes dos conflitos. Os conflitos fecham-se em si mesmos, de um conflito é difícil sair de forma construtiva. Ao contrário, das crises é possível sair, é preciso sair, mas com duas condições: de uma crise não se pode sair sozinho, ou saímos juntos ou não podemos sair. Isto é importante, não se pode sair sozinho, precisamos da comunidade, do grupo, para sair. E, por outro lado, sai-se de uma crise para melhorar, para avançar sempre, para progredir. É por isso que vos agradeço a vossa atitude perante esta crise, para sairmos juntos e melhores. Invoco sobre todos vós a bênção abundante de Deus Todo-Poderoso e peço-vos por favor que rezeis por mim. Obrigado!