Mensagem do Papa a um congresso sobre a «Pacem in terris»

A guerra e as armas nunca podem resolver os problemas do mundo

17 maio 2023

«Os efeitos da guerra são as vítimas, a destruição, a perda de humanidade, a intolerância», não uma solução para os problemas do mundo, denunciou o Papa Francisco na mensagem enviada a 11 de maio aos participantes no Congresso internacional «Paz entre os povos. 60 anos depois da “Pacem in terris”». Promovidos pela Pontifícia Universidade Lateranense e pelo Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, os trabalhos realizaram-se nos dias 11 e 12 de maio.

Nunca a guerra trouxe alívio à vida dos seres humanos, nunca foi capaz de orientar o seu caminho na história, nem de resolver os conflitos e as oposições que surgiram nas suas ações. Os efeitos da guerra são as vítimas, a destruição, a perda de humanidade, a intolerância, a ponto de negar a possibilidade de olhar para o amanhã com confiança renovada.

A paz, pelo contrário, como objetivo concreto, permanece na alma e nas aspirações de toda a família humana, de cada povo e indivíduo. Este é o ensinamento que ainda hoje podemos aprender da mensagem que São João xxiii quis lançar ao mundo com a encíclica Pacem in terris. Uma mensagem positiva e construtiva que recorda como construir a paz significa, antes de mais, o compromisso de estruturar uma política inspirada em valores autenticamente humanos que a Encíclica resume na verdade, na justiça, no amor e na liberdade.

No entanto, sessenta anos depois, a humanidade parece não ter compreendido a necessidade da paz, o bem que ela traz. De facto, um olhar sobre a nossa vida quotidiana mostra como o egoísmo de poucos e os interesses cada vez mais limitados de alguns induzem a pensar que podemos encontrar nas armas a solução para tantos problemas ou novas necessidades, bem como para os conflitos que emergem na realidade da vida das nações.

Embora as regras das relações internacionais tenham limitado o uso da força e a superação do subdesenvolvimento, que é um dos objetivos da ação internacional, o desejo de poder ainda é, infelizmente, um critério de julgamento e um elemento de atividade nas relações entre os Estados. E isso manifesta-se em diferentes regiões com efeitos devastadores sobre as pessoas e os seus afetos, sem poupar as infraestruturas e o ambiente natural.

Neste momento, o aumento dos recursos económicos para o armamento voltou a ser um instrumento das relações entre os Estados, mostrando que a paz só é possível e realizável se assentar num equilíbrio da sua posse. Tudo isto gera medo e terror e corre o risco de subverter a segurança, porque esquecemos que «um acontecimento imprevisível e incontrolável pode desencadear a centelha que põe em movimento o aparelho de guerra» (Pacem in terris, 60).

É necessária uma reforma profunda das estruturas multilaterais que os Estados criaram para gerir a segurança e garantir a paz, mas que agora estão privadas da liberdade e da possibilidade de ação. Não é suficiente que eles proclamem a paz se não forem dotados da capacidade autónoma de promover e realizar ações concretas, pois correm o risco de não estarem ao serviço do bem comum, mas de serem meros instrumentos de parte.

Como bem explica a Encíclica, os Estados, chamados por sua natureza ao serviço das respetivas comunidades, têm o dever de agir segundo o método da liberdade e de responder às exigências da justiça, sabendo, contudo, que «o problema da adaptação da realidade social às exigências objetivas da justiça é um problema que nunca admite uma solução definitiva» (Pacem in terris, 81).

Estas breves notas pretendem contribuir para o objetivo de aprofundamento da Encíclica, promovido pela Pontifícia Universidade Lateranense e pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Confio à Universidade a tarefa de aprofundar o método da educação para a paz, para uma formação não só adequada, mas ininterrupta. De facto, uma verdadeira formação científica é fruto de estudos e pesquisas, aprofundamentos, atualizações e exercícios práticos: este deve ser o caminho a seguir para abrir novos horizontes e superar formas didáticas e organizativas ultrapassadas e já não adequadas à nossa época.

Estou certo de que o Ciclo de Estudos em Ciências da Paz, que instituí na Lateranense, contribuirá para formar as jovens gerações para estes objetivos, para favorecer aquela cultura do encontro que está na base de uma comunidade humana modelada segundo a fraternidade, que é depois a norma de ação para edificar a paz.

Vaticano, 11 de maio de 2023

Francisco