Onde estão os esforços criativos de paz?

 Onde estão  os esforços criativos de paz?  POR-018
04 maio 2023

Trata-se uma pergunta dramática a que Francisco dirige do coração da Europa, da Hungria, cujas fronteiras confinam com a Ucrânia, vítima da guerra de agressão russa. É uma interrogação que interpela, em primeiro lugar, os líderes das nações envolvidas, e os chefes dos governos europeus e do mundo inteiro. Interpela também a consciência de cada um de nós.

O Papa fez suas as palavras pronunciadas em 1950 por um dos pais fundadores da Europa, Robert Schuman: «A contribuição que uma Europa organizada e vital pode oferecer à civilização é indispensável para a manutenção de relações pacíficas», pois «a paz mundial só pode ser salvaguardada com esforços criativos, proporcionais aos perigos que a ameaçam». Palavras «memoráveis», assim Francisco as definiu, perguntando em seguida: «Nesta fase histórica há muitos perigos; mas, questiono-me, pensando também na martirizada Ucrânia, onde estão os esforços criativos de paz?».

É significativo observar que já o presidente da República italiana, Sergio Mattarella, há um ano, dirigindo-se ao Conselho da Europa, tinha citado esta frase de Schuman. Sim, onde estão estes esforços criativos? Onde está a diplomacia, com a sua capacidade de empreender caminhos novos e corajosos para uma negociação que ponha fim ao conflito? Onde estão os “esquemas de paz” a pôr em ação para superar os incumbentes “esquemas de guerra”?

A pergunta de Francisco é dramática e realista. Dramática, porque nos põe diante da ausência de iniciativa por parte de uma Europa que parece render-se à lógica do rearmamento e da guerra, enquanto parece bastante áfona em relação à paz. Realista, porque admoesta a não nos habituarmos ao “infantilismo bélico”, a um conflito trágico que pode degenerar em qualquer momento, com êxitos catastróficos para a humanidade inteira.

No entanto as palavras do Pontífice, a sua referência ao caminho unitário europeu, «grande esperança» com as Nações Unidas, para prevenir novas guerras depois daquela devastadora, que acabou em 1945, já contêm uma resposta. Está no convite a redescobrir «a alma europeia», o entusiasmo e o sonho dos pais fundadores, estadistas que souberam olhar para além das próprias fronteiras, que não cederam às sereias do nacionalismo e foram capazes de recozer em vez de dilacerar. Milhões de pessoas, que hoje veem frustradas as grandes esperanças suscitadas pelo fim da Guerra Fria e veem no horizonte os pesadelos da ameaça atómica, esperam uma resposta: onde estão os esforços criativos de paz?

Andrea Tornielli