Regina caeli — O Pontífice recordou que de 28 a 30 de abril estará na Hungria

Uma viagem ao centro da Europa no meio de ventos gelados de guerra

 Uma viagem  ao centro da Europa no meio de ventos gelados de guerra  POR-017
27 abril 2023

Um novo apelo à paz no Sudão, abalado pela violência, foi feito a 23 de abril pelo Papa no Regina Caeli. Da janela do Palácio apostólico do Vaticano ao meio-dia, antes da recitação mariana com os fiéis presentes na praça de São Pedro, o Pontífice comentou o Evangelho do terceiro domingo da Páscoa com o conhecido episódio dos discípulos de Emaús.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

Neste terceiro Domingo da Páscoa, o Evangelho narra o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35). Estes são dois discípulos que, resignados com a morte do Mestre, decidiram deixar Jerusalém no dia de Páscoa e regressar a casa. Talvez estivessem um pouco inquietos, porque tinham ouvido as mulheres que vinham do sepulcro e diziam que estava vazio..., mas vão embora. E enquanto caminhavam entristecidos e falando sobre o que aconteceu, Jesus aproxima-se deles, mas eles não o reconhecem. Ele pergunta-lhes porque estão tão tristes, e eles dizem-lhe: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias» (v. 18). E Jesus responde: «Que foi?» (v. 19). E eles contam-lhe toda a história, é Jesus que faz com que lha contem. Depois, enquanto caminham, ajuda-os a reler os factos de uma forma diferente, à luz das profecias, da Palavra de Deus, de tudo o que foi anunciado ao povo de Israel. Reler: é isso que Jesus faz com eles, ajuda-os a reler. Analisemos este aspeto.

De facto, também para nós é importante reler a nossa história juntamente com Jesus: a história da nossa vida, de um certo período, dos nossos dias, com as desilusões e as esperanças. Também nós, por outro lado, como aqueles discípulos, podemos encontrar-nos desorientados face aos acontecimentos, sozinhos e incertos, com tantas perguntas e preocupações, desilusões, tantas coisas. O Evangelho de hoje convida-nos a contar tudo a Jesus, com sinceridade, sem medo de O perturbar — Ele ouve —, sem medo de dizer coisas erradas, sem ter vergonha da nossa luta para compreender. O Senhor alegra-se quando nos abrimos a Ele; só assim Ele pode dar-nos a mão, acompanhar-nos e fazer arder novamente o nosso coração (cf. v. 32). Então também nós, como os discípulos de Emaús, somos chamados a estar com Ele para que, quando a noite chegar, Ele permaneça connosco (cf. v. 29).

Há uma bela maneira de o fazer, que gostaria de vos propor hoje: consiste em dedicar um tempo cada noite a um breve exame de consciência. O que aconteceu hoje dentro de mim? Esta é a pergunta. Trata-se de reler o dia com Jesus, reler o meu dia: de lhe abrir o coração, de levar a Ele as pessoas, as escolhas, os receios, as quedas e as esperanças, todas as coisas que aconteceram; para aprender gradualmente a olhar para tudo com olhos diferentes, com os seus olhos e não só com os nossos. Podemos assim reviver a experiência daqueles dois discípulos. Face ao amor de Cristo, até o que parece fadigoso e fracassado pode emergir sob uma luz diferente: uma cruz difícil de abraçar, a escolha do perdão face a uma ofensa, uma vingança falhada, o cansaço do trabalho, a sinceridade que custa, as provações da vida familiar podem surgir sob uma nova luz, a luz do Crucificado Ressuscitado, que sabe fazer de cada queda um passo em frente. Mas para isso, é importante eliminar as defesas: deixar tempo e espaço para Jesus, não lhe esconder nada, mostrar-lhe as misérias, fazer-se ferir pela sua verdade, deixar que o coração vibre ao sopro da sua Palavra.

Podemos começar hoje, dedicar um momento de oração esta noite, durante o qual nos perguntamos: como foi o meu dia? Quais alegrias, tristezas, tédios... Como foi, o que aconteceu? Quais foram as suas pérolas, talvez escondidas, pelas quais dar graças? Havia um pouco de amor no que eu fiz? E quais foram as quedas, as tristezas, as dúvidas e os temores a mostrar a Jesus para que Ele me abra novos caminhos, me levante e me encoraje? Maria, Virgem da sabedoria, nos ajude a reconhecer Jesus que caminha connosco e a reler — eis a palavra: reler — perante Ele todos os dias da nossa vida.

No final do Regina Caeli, o Papa recordou a beatificação no dia anterior, na capital francesa, dos mártires da “Comuna” de Paris e também a celebração do Dia mundial da terra. Após o apelo a favor do Sudão, o Pontífice falou sobre o aniversário do Dia da Universidade católica italiana; depois pediu orações para a visita de três dias à Hungria, que terá início na sexta-feira 28 de abril, realçando que será uma «viagem ao centro da Europa, onde ventos gelados de guerra continuam a soprar, enquanto a deslocação de tantas pessoas coloca questões humanitárias urgentes na ordem do dia», e pediu para não esquecer o povo ucraniano afligido pela guerra. Por fim, saudou os grupos presentes.

Prezados irmãos e irmãs!

Ontem, em Paris, foram beatificados Henry Planchat, padre da Congregação de São Vicente de Paulo, Ladislau Radigue e três companheiros sacerdotes da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Pastores animados pelo zelo apostólico, uniram-se no testemunho de fé até ao martírio, que sofreram em Paris em 1871, durante a chamada “Comuna” de Paris. Um aplauso aos novos Beatos!

Ontem celebrou-se o Dia Mundial da Terra. Espero que o compromisso de cuidar da criação esteja sempre unido a uma solidariedade efetiva com os mais pobres.

Infelizmente, a situação no Sudão permanece grave, pelo que renovo o meu apelo a fim de que se ponha fim à violência o mais rapidamente possível e se retome o caminho do diálogo. Convido todos a rezar pelos nossos irmãos e irmãs sudaneses.

Celebra-se hoje o 99º Dia da Universidade Católica do Sagrado Coração, sobre o tema Por amor ao conhecimento. Os desafios do novo humanismo. Desejo que o maior Ateneu católico italiano enfrente estes desafios com o espírito dos seus fundadores, especialmente a jovem Armida Barelli, proclamada Beata há um ano.

Na próxima sexta-feira irei durante três dias a Budapeste, Hungria, a fim de completar a viagem realizada em 2021 para o Congresso Eucarístico Internacional. Será uma oportunidade para voltar a abraçar uma Igreja e um povo que me são tão queridos. Será também uma viagem ao centro da Europa, sobre a qual os ventos gelados da guerra continuam a soprar, enquanto a deslocação de tantas pessoas coloca na ordem do dia questões humanitárias urgentes. Mas agora desejo dirigir-me com afeto a vós, irmãos e irmãs húngaros, na expetativa de vos visitar como peregrino, amigo e irmão de todos, e de me encontrar, entre outros, com as vossas Autoridades, os Bispos, os sacerdotes e os consagrados, os jovens, os universitários e os pobres. Sei que estais a preparar a minha chegada com tanto empenho: agradeço-vos de coração por isso. E a todos peço-vos que me acompanheis com as vossas orações nesta viagem.

E não nos esqueçamos dos nossos irmãos e irmãs ucranianos, ainda afligidos por esta guerra.

Saúdo de coração todos vós, romanos e peregrinos da Itália e de tantos países — vejo tantas bandeiras de muitos países —, em particular os de Salamanca e os estudantes de Albacete, bem como o agrupamento Veneto-Trentino do Corpo de Socorro da Ordem de Malta.

Saúdo os fiéis de Ferrara, Palermo e Grumello del Monte; a comunidade da Escola Diocesana de Lodi; os jovens de várias cidades das dioceses de Alba, Bergamo, Brescia, Como e Milão; os jovens da Crisma de muitas paróquias italianas; os alunos do Instituto do Sagrado Coração de Cadoneghe; a cooperativa “Volœntieri” de Casoli e o grupo “Mototurismo” de Agna.

Desejo a todos bom domingo; e por favor não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!