Apresentação do livro «Iniziare dai molti» (Começar pelos muitos)

Horizontes de fraternidade

30 março 2023

«Temos nas mãos a responsabilidade de sair dos nossos recintos habituais. Não se trata de ir para diversos pátios. Aliás, devemos deixar todos os pátios para ir a toda a parte e construir a fraternidade». Disse a 27 de março D. Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida e grão-chanceler do Pontifício Instituto João Paulo ii , na apresentação em Roma do livro Iniziare dai Molti. Orizzonti del pensiero fraterno, editado pelo teólogo monsenhor Pierangelo Sequeri (Lev, Cidade do Vaticano, 2022, páginas 233). «Face ao perigo iminente de o ser humano se autodestruir, com a energia nuclear, com o impacto no clima, com as novas tecnologias — explicou D. Vincenzo Paglia — precisamos com urgência de uma aliança entre intelectuais do saber religioso e intelectuais do saber das ciências». Foi precisamente desta aliança que nasceu o livro, que se segue ao apelo do título “Salvemos a fraternidade: juntos” e que resulta da reflexão sobre as palavras do Papa Francisco por ocasião do 25º aniversário da Pontifícia Academia para a Vida.

Tirando citações do livro, a apresentação proporcionou a ocasião para uma conversa multi-vozes sobre alguns temas centrais para a Igreja de hoje, resumidos em três conceitos-chave: Igreja em saída, todos irmãos e Sínodo. Entre os relatores: o cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo, ex-presidente da Comece e relator-geral do Sínodo sobre a sinodalidade; o teólogo monsenhor Pierangelo Sequeri; a economista Mariana Mazzucato, membro da Academia para a Vida (via internet de Nova Iorque).

«A Igreja deve fazer uma mudança de paradigma», afirmou Hollerich. Significa perceber que «somos um produto do nosso tempo» e que a secularização da sociedade está a avançar cada vez mais, enquanto «o cristianismo está a ficar sempre mais débil». Contudo «as pessoas estão interessadas no Evangelho e querem uma Igreja que aja como Jesus», observou Hollerich, citando a parábola do Bom Samaritano. «Quando cuidamos de alguém, seja judeu ou budista, então os jovens apreciam-nos. Também com aqueles que não têm religião, temos de encontrar de novo o terreno do humano». A sinodalidade representa «uma forma de mudar as coisas»: num mundo individualista, é a opção de uma Igreja que escuta e depois caminha em conjunto.

A economista Mariana Mazzucato, docente da Universidade de Sussex, no centro de pesquisa sobre a inovação Science Policy Research Unit, delineou os passos básicos para uma mudança na economia no sentido de uma sociedade mais equitativa e fraterna. Seguindo as indicações da encíclica Fratelli tutti do Papa Francisco, ela salientou a importância da «opção preferencial pelos pobres», inclusive nas escolhas económicas, recordando que ninguém nasce pobre, mas que a pobreza é o produto de uma economia que alimenta a desigualdade. Contra a tendência para «socializar os riscos e privatizar as receitas», deve ser desenvolvida a «inteligência coletiva» capaz de criar valor, o pensamento concreto de «como partilhar coletivamente as receitas», com transparência e consciência da direção que se quer dar à economia. «A solução é restituir dignidade às pessoas num mundo cheio de desigualdades», reiterou a economista.

Continuando a delinear «horizontes de pensamento fraterno», conforme o título do livro, o editor, Monsenhor Sequeri, indicou o ponto de partida: «A teologia deve fazer tudo para convencer que não há um partido de Deus». Em segundo lugar, para construir a fraternidade, devemos mostrar que estamos felizes por «habitar o espaço religioso com aqueles que são diversos de mim». Portanto, o desafio para a Igreja é precisamente «começar pelos muitos», apostando na sinodalidade. «Trata-se de habitar a multidão — concluiu Sequeri. Apenas com os discípulos ou só com a multidão, a Igreja não se faz. Juntos, sim».

Beatrice Guarrera