Dom Nuno Brás da Silva Martins, Bispo de Funchal (Portugal), novo Vice-presidente da comece

A União Europeia pode e deve ser uma voz de paz

 A União Europeia  pode e deve ser uma voz de paz  POR-013
30 março 2023

Neste mundo com tantas guerras e tantos conflitos, uma das missões da ue é ser uma voz de paz, não apenas em relação ao conflito da Ucrânia e da Rússia, mas em relação a todos os outros conflitos, afirma Dom Nuno Brás da Silva Martins, Bispo do Funchal, em Portugal, e Vice-Presidente da comece .

Como acolheu a sua nomeação e que sentido dá à presença de Portugal na presidência da comece?

Precisamente como mais uma responsabilidade, como esta chamada dos Bispos da Europa para integrar esta nova equipa. Colaborar com o presidente neste estar presente da Igreja nas Instituições da ue . A comece é essencialmente isto, possibilidade que os cristãos da Europa têm de fazer sentir a sua voz, como cristãos, aos responsáveis políticos e institucionais da Europa.

Nas eleições da equipa (da Presidência) sempre se procura salvaguardar a unidade na diversidade: um Bispo (representante) das Igrejas de Leste, um das Igrejas mais ao Oeste, um outro das mais ao Norte e outro das mais ao Sul.

E eu fui eleito por esta presença de Portugal mais a Sul, e ainda como País mediterrânico, e sobretudo também, creio, que é muito importante esta capacidade que Portugal tem de fazer o diálogo entre a Europa e as Instituições europeias e a realidade africana. Portanto, o diálogo e o encontro que Portugal tem com África, que faz parte também da nossa história, como nós fazemos parte da história destas diversas Igrejas de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e, portanto, também com esta possibilidade que os cristãos dessas origens têm de se fazer ouvir diante das Instituições europeias.

Que grande mensagem colheu do vosso encontro com o Papa Francisco?

Momento central foi o encontro com o Papa, pela necessidade que é própria da comece de sentir de estar com o sucessor de Pedro, de escutar dele aquilo que ele tem a dizer a Europa. O discurso do Papa foi muito claro e importante: unidade na pluralidade, ou seja, a ue é união de Países diferentes, Países com raízes diferentes, e é isto que faz a riqueza da Europa, o facto de haver esta pluralidade e conseguirmos, apesar desta pluralidade e diferenças, fazer unidade e viver na unidade, e fazer a diferença no mundo de hoje creio que é algo de muito importante e o Papa sublinhou-o muito. E disse para não nos deixarmos levar por aquilo que é sempre uma tendência tecnocrática e burocrática. Porque como existe a diferença, o refúgio é sempre a burocracia: são sempre os papéis, as decisões técnicas, e se esquecem tantas vezes as pessoas e a realidade. E precisamente a ue não raras vezes sofre disto.

Um segundo aspeto é a paz: paz que é hoje tão importante. O Santo Padre recordou as outras guerras que existiam antes e a que nós não dávamos tanta importância, ou a devida importância, e agora como nos toca mais na pele esta questão da Ucrânia com a Rússia, esta guerra que está no coração da Europa neste momento, claro que sim: a paz é qualquer coisa de essencial e a ue pode e deve fazer propostas de caminhos em direção à paz: em direção à paz entre a Ucrânia e a Rússia, mas depois também nos outros conflitos que estão espalhados pelo mundo.

A União Europeia, com o peso que tem no plano mundial, pode e deve ser um agente de paz. Até porque a paz se encontra na raiz da ue que foi fundada depois da ii Guerra Mundial para evitar que a guerra regressasse à Europa. Portanto, esta é uma das missões da ue : no meio deste mundo onde há tantas guerras e tantos conflitos, ser uma voz de paz, não apenas em relação a este conflito da Ucrânia e da Rússia, mas em relação a todos os outros conflitos.

Um terceiro aspecto, hoje a União Europeia, claro, tem que olhar para aquilo que são as suas raízes, os seus fundadores, mas a ue de hoje é já diferente da ue dos anos ’50. É à esta ue de hoje que nós precisamos de anunciar o Evangelho. Não podemos ficar a falar simplesmente do passado, a falar simplesmente daquilo que foram os ideais iniciais, precisamos de perceber aquilo que é hoje a ue e precisamos, por isso mesmo, também de erguer uma voz profética nesta ue . Esta ue precisa de uma voz profética que ajude a ver o direito das pessoas, a ver o direito da vida, os direitos daqueles que procuram em vista de uma vida mais digna e com um pouco mais de qualidade, e que aqui podem encontrar. Portanto, esta profecia diante da ue é algo de muito importante.

São Paulo vi dizia que “o desenvolvimento é o novo nome da paz”. Como pensa tratar, a nova equipa, desta questão, para a paz não só na Europa, mas também no mundo inteiro?

A comece é conjunto de Episcopados, uma Comissão que segue de perto a legislação e a atividade da Comissão e do Parlamento europeu e, portanto, aquilo que procura é influenciar as decisões europeias neste sentido. E, portanto, eu creio que da comece se espera precisamente isso: que seja capaz de influenciar, obviamente através do diálogo, através da chamada de atenção, e creio também através de uma coisa que é “darmo-nos bem custa menos dinheiro do que darmo-nos mal”. Creio que isto é muito importante, fazer este raciocínio, quer dizer, já que muitas pessoas na própria ue não pensam a não ser em termos de cifrões e, portanto, em termos de dinheiro, em termos económicos, ao menos que se deem conta disto: darmo-nos bem uns aos outros e darmo-nos bem com o mundo inteiro, custa muito menos do que fazer a guerra. E, portanto, este pensamento, este raciocinar, ajudar as Instituições da ue a raciocinar neste parâmetro, que é um parâmetro de paz e, por isso mesmo, exige desenvolvimento, desenvolvimento de tantas áreas não desenvolvidas ainda, creio que se pode precisamente esperar da comece esta tentativa de influenciar a ue e as instituições da ue neste raciocínio e neste caminho em relação ao desenvolvimento e à paz.

Depois, obviamente, também creio que é importante o diálogo com uma outra Instituição das Conferências Episcopais europeias, que é o ccee (Conselho das Conferências Episcopais da Europa), que é mais abrangente, ou seja, tem também todos os outros Países que não fazem parte da União Europeia, mas que obviamente é o nosso parceiro importante. Obviamente não deixaremos de estar presentes nas várias iniciativas do ccee acerca de todos estes diálogos entre a Europa e a África, entre a Europa e a América Latina e, enfim, entre a Europa e as várias Conferências Episcopais e grupos de Conferências Episcopais.

Agora, creio que é importante sublinhar este empenho da comece neste promover, como dizia, o desenvolvimento e, por isso, a paz.

A nova equipa tem já um plano de colaboração com a Igreja em África e outras Igrejas?

Nós ainda não tivemos a oportunidade de nenhuma reunião, teremos o primeiro encontro hoje a seguir ao almoço, não quero absolutamente estar a dizer coisas concretas que depois não se realizam, mas certamente que haverá coisas concretas a fazer.

A comece segue muito de perto as várias realidades europeias, e aquilo que procuramos é precisamente isto: que as várias realidades europeias sejam acompanhadas também de uma palavra cristã, e de uma palavra cristã que é a palavra dos cristãos da Europa, mas que é também uma palavra cristã dos cristãos não europeus, seja dos que vivem na Europa, seja dos outros que vivem nos seus Países. Creio que isto é muito importante, percebermos que os cristãos têm esta voz na ue , pois muitas vezes a sensação que nós temos é que não nos escutam, gostam de nos ter ao lado mas não nos escutam, mas nós não deixaremos de falar e não deixaremos de pressionar nesta direção de um mundo mais cristão e, sobretudo, de um mundo mais humano. Muito obrigado, e espero a todos nas jmj em Lisboa, não esquecer isso.

Pe. Berrnardo Suate