A Igreja na América Latina encerrou as assembleias da etapa continental

O Sínodo supera a tendência às polarizações

 O Sínodo supera  a tendência às polarizações  POR-012
23 março 2023

A Igreja da América Latina e do Caribe encerrou as quatro assembleias sinodais em que foi dividida a Etapa continental na região. O cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e primeiro vice-presidente do Conselho episcopal latino-americano e caribenho (celam) , que participou da Assembleia do Cone Sul, analisa a seguir o que foi vivenciado até agora, enfatizando que tudo será resumido em Bogotá, antes de ser enviado à Secretaria do Sínodo no Vaticano.

Um Sínodo que caminha «na busca de um discernimento, à luz do Espírito Santo», vivenciado em um clima mais sereno de «ouvir o que o Espírito Santo diz à Igreja». Segundo o cardeal Scherer, arcebispo de São Paulo, «o Sínodo pela metodologia adotada, de certa forma supera a tendência aos antagonismos, às polarizações». Um processo sinodal que «certamente vai ter muitas repercussões em processos semelhantes nas dioceses».

A Igreja da América Latina e do Caribe encerrou as assembleias regionais da Etapa Continental do Sínodo. O senhor participou da Assembleia do Cone Sul. Como vivenciou este momento?

São quatro momentos da Assembleia Continental que finalmente se resumirão em Bogotá numa grande síntese continental. Pelo que eu soube todos seguiram a mesma metodologia, a mesma forma de refletir a partir do Documento de trabalho que foi oferecido. Eu vi que o trabalho foi intenso, foi interessante, diria de certa forma diverso do que estava acostumado, numa forma de debate, discussões, palestras, mas na busca de um discernimento, à luz do Espírito Santo, sobre aquilo que nós tratamos. E portanto perceber o que o Espírito diz à Igreja. Nesse sentido, estou vendo como um processo muito interessante na linha daquilo que também o Papa Francisco está pedindo.

O senhor fala de ver o que o Espírito está dizendo à Igreja. Já tem participado de outros sínodos em diferentes níveis de Igreja. Qual a novidade que essa metodologia aporta?

Cada momento é um momento, não é que o Espírito Santo não foi invocado outras vezes, não é que se deixou de estar atento ao Espírito Santo outras vezes. Porém agora, a própria metodologia está sendo usada para que se entre em um clima mais sereno de ouvir o que o Espírito Santo diz à Igreja através das muitas formas das vozes do Espírito Santo que podem estar sendo manifestadas neste momento.

Em relação aos outros sínodos já realizados em que participei, nós temos esta fase inicial do Sínodo que é um envolvimento maior da comunidade eclesial. Para os outros sínodos havia as consultas aos episcopados, às conferências episcopais, aos superiores maiores dos Institutos de Vida Consagrada e assim por diante. Desta vez, porém, o povo de Deus está sendo envolvido mais amplamente e num processo mais lento, naturalmente, porém que possivelmente seja mais adequado à realidade.

Sínodo é um convite a que todos caminhem juntos, então essa é uma forma concreta de convidar ao povo a caminhar juntos, a discernir juntos, a dar sua contribuição para que o Sínodo possa alcançar seus objetivos.

Infelizmente, a polarização da sociedade e às vezes da Igreja é uma realidade. Como este método pode ajudar a superar essa realidade e entender que tem muitas mais coisas que nos unem do que aquelas que nos separam?

É sempre um risco que a cultura do ambiente social também tome conta do ambiente eclesial, e aí temos que estar atentos exatamente, como o Papa Francisco também tem alertado, que o mundanismo espiritual não tome conta também de nós. O Sínodo pela metodologia adotada, de certa forma supera a tendência aos antagonismos, às polarizações. Não os extirpa de todo, permite que haja visões diferentes, percepções diferentes, mas elas não são propostas na forma de contraposições excludentes ou exclusivas, mas como contribuições na busca de uma compreensão maior, na busca de caminho comum.

O senhor é arcebispo de uma das Igrejas particulares mais numerosas em população da América Latina. Como pensa que este processo sinodal possa ajudar na caminhada da Arquidiocese de São Paulo?

Nós estamos concluindo na Arquidiocese de São Paulo um Sínodo arquidiocesano que começamos em 2017, portanto estamos completando o sexto ano do Sínodo, até mesmo antes que o Papa convocasse o Sínodo universal. Fiquei muito feliz em ver que o nosso Sínodo mais ou menos já tinha escolhido essa metodologia, uma larga escuta do povo, inclusive fizemos uma larga pesquisa para conhecer melhor a realidade pastoral, a realidade religiosa do nosso povo. Uma pesquisa também nas comunidades paroquiais para ver como estão as coisas.

Tivemos sempre desde o início essa preocupação, com essa frase do Apocalipse do apelo às Igrejas da Ásia Menor: «vamos ouvir o que o Espírito diz à nossa Igreja». De fato, a oração ao Espírito Santo nos acompanhou o tempo todo. É claro que o processo diocesano é mais restrito do que o processo do Sínodo universal. Porém estamos concluindo e estamos chegando a uma série de propostas e de indicações, de diretrizes que agora deveríamos trabalhar na fase pós sinodal.

Um Sínodo diocesano é sempre útil e a meu ver mereceria toda a atenção porque envolve, ele amplia um processo e uma participação de todos os componentes do povo de Deus numa diocese. Uma assembleia diocesana é um momento importante, bonito, mas ele é muito mais restrito e não gera processos de tão longa repercussão como pode ser um Sínodo diocesano. Portanto, o processo sinodal que o Papa Francisco está promovendo em toda a Igreja certamente vai ter muitas repercussões em processos semelhantes nas dioceses.

Padre Modinocelam