«A Sua Immagine. Não deixeis que estas palavras... sejam reduzidas a uma frase no ecrã. Preservai a maravilha desta Palavra, para a poderdes comunicar», disse o Papa, recebendo em audiência a 4 de março, na sala do Consistório, o grupo de trabalho do programa televisivo da rai . Publicamos o discurso pronunciado pelo Pontífice após a saudação do rogacionista Gianni Epifani, do Gabinete nacional para as comunicações sociais da Conferência episcopal italiana e responsável pelo programa de informação religiosa, o qual recordou que ele é «sobretudo uma família. Há dois pais, disse, a rai e a cei , que procuraram e quiseram um momento de aprofundamento que oferecesse uma leitura diferente do que acontece na história. E nós sentimo-nos um pouco filhos desta união».
Prezados amigos
bom dia e bem-vindos!
Agradeço ao Padre Gianni Epifani as suas amáveis palavras. Tenho o prazer de conhecer todo o grupo de “A Sua Immagine”: além da apresentadora, Senhora Lorena Bianchetti, também os autores, redatores, técnicos e todos os que colaboram com o programa. E dirijo a minha saudação também a quantos vos precederam no passado.
Como sabeis, também eu sigo com frequência, pelo menos em parte, a vossa transmissão: quando chego para o Angelus, quase no final da Missa, para reler, vós começais, e ouço-vos até ao meio-dia. Um pouco como uma “sala de espera” do Angelus. Esta transmissão nasceu da colaboração entre a rai e a Conferência episcopal italiana. Com efeito, o horário dominical coincide, na última parte, com a recitação do Angelus na Praça de São Pedro; assim, antes de ir à janela, gosto de a seguir por alguns minutos, e às vezes mencionei algum conteúdo que me impressionou de modo particular.
Gostaria de felicitar aqueles que, há vinte e seis anos, escolheram o nome para a transmissão: “A Sua Immagine”. Estas palavras remetem-nos para o princípio da Bíblia, para o Livro do Génesis onde, no auge da criação, Deus diz: «Façamos o homem à nossa imagem e semelhança» (Gn 1, 26). Fomos criados “à imagem” de Deus! Não nos devemos habituar a esta expressão, ela não deveria deixar de nos surpreender: em cada ser humano, Deus acendeu de forma única uma centelha da sua luz. Em cada pessoa, boa e má, todos; pois é uma questão de substantivo, não de adjetivo: se é bom, é crente... não. À imagem de Deus: eis o substantivo. Neste tempo em que existe uma crise da “substantividade” e também o uso demasiado indevido de adjetivos, vivemos na era da adjetivação. Quando te perguntam: “Quem é este?” — “É um ladrão, ele é isto e aquilo...”. Primeiro o adjetivo, depois o substantivo. Não! Devemos recuperar o substantivo das coisas. E “A Sua Immagine”, a sua vocação, é procurar a “substantividade” das coisas e libertar-nos desta cultura da adjetivação.
A Sua Immagine. Não deixeis que estas palavras, por hábito, se tornem “palavras ao vento”, nem que se reduzam a uma frase no ecrã. Preservai a maravilha desta Palavra, para poderdes comunicar. É importante! A mudança de época que vivemos, testemunha-nos realmente a perda, por parte de tantas pessoas, precisamente da consciência de ser filhos de Deus, criados “à sua imagem”. Há necessidade de a reavivar. Pois ali, nesta “imagem”, estão a origem e o fundamento da irredutível dignidade humana; a origem e o fundamento do nosso ser todos irmãos, porque filhos do único Pai, amados e criados “à sua imagem”.
Coerentemente com esta visão, o vosso programa apresenta rostos e histórias de homens e mulheres do nosso tempo. Fá-lo, em particular, dando voz aos mais fracos e aos que sofrem; faz isto, falando daqueles que vivem o Evangelho nas periferias geográficas e existenciais da Itália e do mundo; fá-lo, abrindo “janelas” para situações e lugares que muitas vezes escapam aos radares da opinião pública. Através dos hóspedes e dos filmes testemunhais, domingo após domingo, com delicadeza e sem gritar, muitas experiências de vida e de serviço. Recordais-nos que há jovens capazes de se comprometer e de se dedicar aos outros; mostrais também os dramas da humanidade, mas mediante histórias que nos permitem manter viva a esperança, pois nos deixam vislumbrar a beleza do Evangelho vivido.
Encorajo-vos nisto, encorajo-vos a continuar neste caminho! Há necessidade de “globalizar” a solidariedade, não a indiferença. Hoje a indiferença está tão globalizada! Anunciar o Evangelho significa testemunhar com a nossa vida que existe um Deus de misericórdia que nos espera e nos precede, que nos quis e nos ama. E vós, com o vosso trabalho específico, podeis contribuir muito neste sentido. E, a tal propósito, agradeço a vós e à rai porque contribuís para dar ressonância aos apelos que, depois do Angelus ou do Regina Caeli, dirijo pelos nossos irmãos e irmãs em condições de graves dificuldades. Assim ajudais os telespetadores a não os esquecer, a estar perto deles com a oração, com a ajuda concreta e com o empenho diário.
Caros amigos, agradeço-vos pelo vosso trabalho e pelo modo como o desempenhais. Acompanho-o com a minha bênção, e abençoo todos vós e os vossos entes queridos. E peço-vos, por favor, que oreis por mim!