Ao capítulo dos Clérigos marianos da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria

Espiritualidade e ação encarnadas na realidade da história

 Espiritualidade e ação encarnadas na realidade da história  POR-010
09 março 2023

Amor a Nossa Senhora, oração de sufrágio e atenção aos pobres: as três grandes linhas de espiritualidade e ação ditadas pelo fundador Santo Estanislau de Jesus e Maria foram repropostas pelo Papa aos participantes no capítulo geral dos Clérigos marianos da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, recebidos em audiência na manhã de 17 de fevereiro, na Sala do Consistório.

Estimados irmãos
bom dia e bem-vindos!

Agradeço ao Superior-Geral as suas amáveis palavras e saúdo-vos a todos. Celebrais este Capítulo Geral ainda no contexto do 350º aniversário da fundação do vosso Instituto, que teve lugar em Cracóvia em dezembro de 1670, por obra de Santo Estanislau de Jesus e Maria. Sabemos que não foi um começo fácil, quer pela procura de companheiros adequados quer pelo longo iter de aprovação, mas Santo Estanislau não desistiu, confiando no poder do Espírito Santo. E precisamente para conservar a herança que a sua tenacidade vos deixou, gostaria de recordar convosco três grandes linhas da sua e da vossa espiritualidade, todas marcadas por um vivo dinamismo ascético e pastoral: amor à Virgem Maria, oração de sufrágio e atenção aos pobres.

Em primeiro lugar, o amor a Maria. É interessante ver o que Santo Estanislau ensina sobre a devoção mariana: diz que o culto principal a Maria Imaculada é a imitação da sua vida evangélica. Isto é importante, porque a verdadeira devoção à Mãe do Senhor é alimentada e cresce através da escuta e da meditação da Palavra de Deus: Maria é a Mulher do Evangelho (cf. Mt 12, 46-50).

Segundo aspeto: a oração de sufrágio, que carateriza a dimensão escatológica da vossa congregação. Contudo, Santo Estanislau insere nesta visão do horizonte último uma oração especial por dois grandes grupos de pobres do seu tempo: soldados que caíram em batalha e os que morreram de peste. Hoje é necessária pelos soldados: estão a morrer em toda a parte! Pensemos que no século xvii , cerca de 60% da população da Europa foi exterminada por epidemias e guerras! Era necessário rezar pelas almas dos defuntos e pelo conforto das famílias e comunidades, marcadas pela dor e pelo luto devido à perda dos seus entes queridos (cf. Jo 11, 35-36).

E o terceiro aspeto que gostaria de destacar é a atenção aos pobres, em particular em apoio aos párocos. Os Clérigos Marianos contribuíam, assim, para responder a alguns problemas graves da época: a diminuição da fé, especialmente entre as classes mais humildes, a carência de vocações sacerdotais e religiosas, o estado de pobreza de uma grande parte da população (cf. Mt 9, 35-38).

Prezados irmãos, Santo Estanislau traçou linhas de espiritualidade e ação para a vossa congregação que estão bem encarnadas na história concreta dos homens e mulheres do seu tempo. E é importante para vós “colher o seu testemunho”, continuando a responder criativamente aos desafios que a nossa época também apresenta. Não desanimeis se encontrardes oposição ou dificuldades. Pensai nas grandes provações que a vossa família religiosa enfrentou ao longo dos séculos, por exemplo, quando se reduziu a um único membro no início do século xx ! Com a ajuda de Deus recuperastes-vos, contando hoje cerca de quinhentos religiosos, presentes em dezanove países do mundo. Recordemos, neste contexto, a figura do Beato Jorge Matulaitis (1871-1927), clérigo mariano, sacerdote, bispo e núncio apostólico na Lituânia, um dos protagonistas do vosso renascimento. Ele soube revitalizar a comunidade, atualizando as Constituições e promovendo a sua obra sem temor, até ao ponto de ter de agir escondido, arriscando a prisão, sem nunca desistir de promover a caridade e a unidade entre os religiosos e os fiéis.

Encorajo-vos a manter viva a fidelidade às vossas origens nesta atenção profética de hoje. Fizestes isto nos últimos tempos colocando entre as vossas prioridades pastorais a abertura aos leigos, a proteção da vida desde a conceção até à morte, a atenção aos últimos e o apoio às famílias em dificuldade; isto é muito importante: hoje a família está sempre em perigo... Estas são escolhas que se veem, por exemplo, no centro de naprotecnologia e de ajuda à família que ativastes no Santuário de Licheń, na Polónia; e nas novas áreas de missão para as quais vos abristes na Ásia e na África. Que o Senhor vos ajude a ir em frente por estes caminhos.

E gostaria de concluir o nosso encontro de hoje retomando três títulos marianos com os quais São João Paulo ii vos convidou a venerar a Imaculada. Maria “Sede da Sabedoria”, para que o vosso testemunho evangélico seja firme e sólido; Maria “Consoladora dos aflitos”, para que os homens do nosso tempo encontrem em vós amor e compreensão, e sejam atraídos a Deus pela vossa caridade e serviço abnegado; e, o terceiro, Maria “Mãe de Misericórdia”, para que sejais ricos em compaixão materna pelas almas redimidas pelo sangue de Cristo e confiadas a vós.1 E, por favor, não nos esqueçamos do estilo de Deus: proximidade, misericórdia e ternura. Deus é assim: está próximo, é misericordioso, é terno. Este é o nosso Deus. Um religioso, um sacerdote, deve estar próximo, deve ser misericordioso, perdoar tudo, e ser terno, não agressivo, paciente e caridoso todos os dias. De coração abençoo vós e todos os vossos irmãos de hábito. E por favor não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado.

1 Cf. São João Paulo ii , Discurso ao Capítulo Geral dos Clérigos Marianos da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, 22 de junho de 1993.