ANGELUS — Francisco recordou os dramas e as tragédias do mundo

Dor e oração pelos migrantes naufragados na costa
da Calábria

 Dor e oração pelos migrantes naufragados na costa da Calábria   POR-009
02 março 2023

«Esta manhã tomei conhecimento com tristeza do naufrágio que ocorreu na costa da Calábria, perto de Crotone», disse comovido o Papa Francisco no final do Angelus de 26 de fevereiro, garantindo a própria oração por cada migrante morto, pelos desaparecidos e pelos sobreviventes. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, antes da recitação mariana com os 20.000 fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o seguiam através dos meios de comunicação social, o Pontífice comentou o Evangelho do primeiro domingo da Quaresma, sobre as tentações de Jesus no deserto.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

O Evangelho deste primeiro Domingo da Quaresma apresenta-nos Jesus no deserto tentado pelo diabo (cf. Mt 4, 1-11). Diabo significa “divisor”. O diabo quer sempre criar divisão, e é isto que procura fazer também tentando Jesus. Vejamos então de quem o quer dividir e de que modo o tenta.

De quem o diabo quer dividir Jesus? Depois de ter recebido o Batismo por João no Jordão, Jesus foi chamado pelo Pai «meu Filho muito amado» (Mt 3, 17) e o Espírito Santo desceu sobre Ele sob forma de pomba (cf. v. 16). Assim, o Evangelho apresenta-nos as três Pessoas divinas unidas no amor. Depois, o próprio Jesus dirá que veio ao mundo para nos tornar também participantes da unidade entre Ele e o Pai (cf. Jo 17, 11). Por outro lado, o diabo faz o contrário: entra em cena para dividir Jesus do Pai e desviar da sua missão de unidade para nós. Divide sempre.

Vejamos agora de que modo tenta fazê-lo. O diabo quer aproveitar da condição humana de Jesus, que é frágil porque jejuou durante quarenta dias e tem fome (cf. Mt 4, 2). Então, o maligno procura incutir-lhe três poderosos “venenos” para paralisar a sua missão de unidade. Estes venenos são o apego, a desconfiança e o poder. Antes de mais, o veneno do apego às coisas, às necessidades; com raciocínio persuasivo, o diabo tenta sugestionar Jesus: “Tens fome, porque deves jejuar? Ouve a tua necessidade, satisfá-lo, tens o direito e o poder: transforma as pedras em pão”. Depois o segundo veneno, a desconfiança: “Tens a certeza — insinua o maligno — de que o Pai quer o teu bem? Põe-no à prova, chantageia-o! Atira-te do ponto mais alto do templo e obriga-o a fazer o que tu queres”. Enfim o poder: “Do teu Pai, não tens necessidade! Por que esperar pelos seus dons? Segue os critérios do mundo, faz tudo sozinho e serás poderoso!”. As três tentações de Jesus. E também nós vivemos estas tentações, sempre. É terrível, mas é assim, também para nós: apego às coisas, desconfiança e sede de poder são três tentações generalizadas e perigosas, que o diabo usa para nos dividir do Pai e já não nos faz sentir como irmãos e irmãs entre nós, para nos conduzir à solidão e ao desespero. Era o que queria fazer a Jesus e quer fazer a nós: levar-nos ao desespero.

Mas Jesus vence as tentações. E como as vence? Evitando discutir com o diabo e respondendo com a Palavra de Deus. Isto é importante: com o diabo não se discute, com o diabo não se dialoga! Jesus enfrenta-o com a Palavra de Deus. Ele cita três frases da Escritura que falam de liberdade das coisas (cf. Dt 8, 3), de confiança (cf. Dt 6, 16), e de serviço a Deus (cf. Dt 6, 13), três frases opostas às tentações. Nunca dialoga com o diabo, não negocia com ele, mas rejeita as suas insinuações com as palavras benéficas da Escritura. É um convite também para nós: com o diabo não se discute! Não se negocia, não se dialoga; não o derrotamos negociando com ele, é mais forte do que nós. Derrotamos o diabo, opondo-lhe com fé a Palavra divina. Desta forma, Jesus ensina-nos a defender a unidade com Deus e entre nós dos ataques do divisor. A Palavra divina é a resposta de Jesus à tentação do diabo.

Perguntemo-nos: que lugar tem a Palavra de Deus na minha vida? Será que recorro a ela nas minhas lutas espirituais? Se tenho um vício ou uma tentação frequente, por que, ao procurar ajuda, não procuro um versículo da Palavra de Deus que responda a esse vício? Depois, quando tenho a tentação, recito-o, rezo-o, confiando na graça de Cristo. Experimentemos fazer isto, ajudar-nos-á nas tentações, ajudar-nos-á muito, pois, entre as vozes que se agitam dentro de nós, ressoará aquela benéfica da Palavra de Deus. Maria, que aceitou a Palavra de Deus e pela sua humildade venceu a soberba do divisor, nos acompanhe na luta espiritual da Quaresma.

Depois do Angelus, além de recordar o drama dos migrantes, o Papa fez apelos em prol da paz na Terra Santa, Burkina Faso e Ucrânia e a favor dos povos sírio e turco atingidos pelo terramoto. Por fim, saudou os presentes, incluindo representantes da Associação italiana de doadores de Órgãos e participantes no Dia das doenças raras, que se celebra a 28 de fevereiro.

Prezados irmãos e irmãs!

Continuam a chegar da Terra Santa notícias dolorosas: tantas pessoas assassinadas, inclusive crianças... Como se pode impedir esta espiral de violência? Renovo o meu apelo para que o diálogo prevaleça sobre o ódio e a vingança, e rezo a Deus pelos palestinianos e israelenses, para que possam encontrar o caminho da fraternidade e da paz, com a ajuda da comunidade internacional.

Estou também muito preocupado com a situação no Burkina Faso, onde continuam os ataques terroristas. Convido-vos a rezar pelo povo daquele querido país, para que a violência que sofreram não os faça perder a fé no caminho da democracia, da justiça e da paz.

Esta manhã tomei conhecimento com tristeza do naufrágio que ocorreu na costa da Calábria, perto de Crotone. Já foram recuperados quarenta mortos, incluindo muitas crianças. Rezo por cada um deles, pelos desaparecidos e pelos outros migrantes sobreviventes. Agradeço aos que levaram socorro e a quantos estão a dar acolhimento. Que Nossa Senhora ampare estes nossos irmãos e irmãs. E não esqueçamos a tragédia da guerra na Ucrânia. E não esqueçamos a dor do povo sírio e turco por causa do terramoto.

Dirijo a minha saudação a todos vós provenientes da Itália e de outros países. Saúdo os peregrinos da Espanha, de Portugal, do México e da Croácia. Saúdo os fiéis de Palermo, Montelepre, Termini Imerese e Riese Pio x ; os alunos do Seminário Campano Inter-regional de Nápoles; os adolescentes de várias paróquias da Diocese de Milão; os jovens da Confirmação de Cavaion e Sega (Verona), o grupo de Limbadi e as crianças da Primeira Comunhão de Sant’Aurea em Ostia Antica.

Saúdo a Associação Italiana de Doadores de Órgãos, que está a celebrar o seu cinquentenário de fundação: agradeço-vos o vosso empenho na solidariedade social e exorto-vos a continuar a promover a vida através da doação de órgãos. Depois, uma saudação especial a quantos vieram por ocasião do Dia das Doenças Raras, que será depois de amanhã: renovo o meu encorajamento às Associações dos doentes e dos familiares; que não falte a nossa proximidade, especialmente às crianças, para que elas sintam o amor e a ternura de Deus.

Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!