O fim do silêncio

 La fine del silenzio  QUO-037
16 fevereiro 2023

Uma “realidade dura e trágica”: a violência sexual contra menores “é um crime atroz” e quem o comete “deve assumir as consequências das suas ações e as responsabilidades civis, penais e morais”. O bispo de Setúbal, José Ornelas Carvalho, presidente da Conferência episcopal portuguesa, promete “tolerância zero” em relação a todos os casos de abuso, a cada molestador, comentando o relatório apresentado em Lisboa pela Comissão independente instituída pela própria Igreja católica para investigar a fundo o horrível flagelo. Num ano de estudo o organismo, coordenado pelo psiquiatra infantil Pedro Strecht, validou 512 testemunhos (dos 564 recebidos) relativos a casos ocorridos de 1950 a 2022, indicando um total de 4.815 vítimas. Mas Strecht salientou que se trata de um número mínimo e que as vítimas poderiam ser muitas mais.

A idade média atual dos denunciantes é de 52 anos, residentes em Portugal e emigrantes com a predominância de vítimas masculinas (52%). São cinco os distritos mais atingidos: Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria. O início dos abusos ocorreu, em média, quando os menores tinham apenas 11 anos de idade. Muitos episódios, repetidos ao longo do tempo, ocorreram entre os anos 60 e 90, enquanto 25% dos testemunhos dizem respeito ao período de 1991-2022. Para 48% das pessoas, foi a primeira denúncia. As violências foram alegadamente cometidas sobretudo em “seminários, internatos e institutos de acolhimento, confessionários, sacristias e casas de sacerdotes”. E 96% dos agressores são homens e 77% eram sacerdotes no momento do crime. Devido à prescrição dos crimes, apenas 25 denúncias foram enviadas ao ministério público.

O relatório foi definido pelas vítimas como “a conclusão de uma longa noite de silêncio”. Dirigindo-se a eles, D. Ornelas Carvalho disse que “estamos conscientes de que nada pode reparar os sofrimentos e as humilhações causados a vós e às vossas famílias, mas estamos dispostos a acolher-vos e a acompanhar-vos na superação das feridas e na recuperação da dignidade e do futuro”. (giovanni zavatta)