«Não esqueçamos a Síria a Turquia e a Ucrânia»

 «Não  esqueçamos  a Síria  a Turquia e a Ucrânia»  POR-007
16 fevereiro 2023

Síria, Turquia, Ucrânia, Nicarágua: às populações destes quatro países o Papa dirigiu o seu pensamento e a sua oração no final do Angelus de domingo 12 de fevereiro, recitado da janela do Palácio apostólico do Vaticano. Após a reflexão inicial dedicada à passagem litúrgica do Evangelho de Mateus (5, 17-37), o Pontífice convidou os fiéis presentes na praça de São Pedro à proximidade espiritual e material das nações atingidas nos últimos dias pelo catastrófico terramoto, exortando-os também a não esquecer o povo ucraniano, martirizado pela guerra, e «todos aqueles que sofrem» devido à situação política e social na Nicarágua.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho da liturgia de hoje Jesus diz: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas: não vim revogá-la, mas completá-la» (Mt 5, 17). Completar: esta é uma palavra-chave para compreender Jesus e a sua mensagem. Mas o que significa “completar”? Para o explicar, o Senhor começa por dizer o que não é completar. A Escritura diz “não matarás”, mas para Jesus isto não é suficiente se depois alguém ferir os irmãos com palavras; a Escritura diz “não cometerás adultério”, mas isto não é suficiente se alguém viver um amor manchado pela duplicidade e falsidade; a Escritura diz “não darás falso testemunho”, mas não é suficiente fazer um juramento solene se alguém agir com hipocrisia (cf. Mt 5, 21-37). Assim, não é completar.

Para nos dar um exemplo concreto, Jesus concentra-se no “rito do ofertório”. Ao fazer uma oferenda a Deus, retribui-se a gratuidade dos seus dons. Era um rito muito importante — fazer uma oferta para retribuir simbolicamente, digamos, a gratuidade dos seus dons — tão importante que era proibido interrompê-lo exceto por motivos graves. Mas Jesus afirma que é preciso interrompê-lo se um irmão tiver algo contra nós, para ir primeiro reconciliar-se com ele (cf. vv. 23-24): só então se completa o rito. A mensagem é clara: Deus ama-nos primeiro, gratuitamente, dando o primeiro passo na nossa direção sem que o mereçamos; e depois não podemos celebrar o seu amor sem, por nossa vez, dar o primeiro passo para nos reconciliarmos com aqueles que nos feriram. Assim, há o completamento aos olhos de Deus, caso contrário a observância externa, puramente ritual, é inútil, torna-se uma farsa. Por outras palavras, Jesus faz-nos compreender que as normas religiosas são úteis, são boas, mas são apenas o início: para as completar, é necessário ir além da letra e viver o seu significado. Os mandamentos que Deus nos deu não devem ser encerrados nos cofres asfixiados da observância formal, caso contrário, permanecemos numa religiosidade externa e desapegada, servos de um “deus-patrão” e não filhos de Deus Pai. Jesus quer isto: não ter a ideia de servir um Deus patrão, mas o Pai; e para isso é necessário ir além da letra.

Irmãos e irmãs, este problema não existia apenas no tempo de Jesus, existe também hoje. Às vezes, por exemplo, ouvimos: “Padre, eu não matei, não roubei, não fiz mal a ninguém...”, como se dissesse: “Estou bem”. Eis a observância formal, que se contenta com o mínimo indispensável, enquanto Jesus nos convida ao máximo possível. Isto é, Deus não raciocina por cálculos nem tabelas; Ele ama-nos como um apaixonado: não ao mínimo, mas ao máximo! Não nos diz: “Amo-te até a um certo ponto”. Não, o amor verdadeiro nunca chega a um certo ponto e nunca se sente perfeito; o amor vai sempre mais além, não pode fazer diferentemente. O Senhor mostrou-nos isto ao dar a vida na cruz e perdoando os seus assassinos (cf. Lc 23, 34). E confiou-nos o mandamento que lhe é mais querido: que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo 15, 12). Este é o amor que completa a Lei, a fé, a vida verdadeira!

Então, irmãos e irmãs, podemos perguntar-nos: como vivo a fé? É uma questão de cálculos, de formalismos, ou é uma história de amor com Deus? Contento-me apenas em não fazer mal, em manter “a fachada”, ou procuro crescer no amor a Deus e ao próximo? E, de vez em quando, verifico-me sobre o grande mandamento de Jesus, pergunto a mim mesmo se amo o meu próximo como Ele me ama? Pois talvez sejamos inflexíveis no julgamento dos outros e nos esqueçamos de ser misericordiosos, como é Deus para connosco.

Que Maria, a qual observou perfeitamente a Palavra de Deus, nos ajude a cumprir a nossa fé e a nossa caridade.

No final da oração mariana o Pontífice saudou ainda alguns dos grupos de peregrinos presentes na praça de São Pedro.

Prezados irmãos e irmãs!

Continuemos a estar próximos, com a oração e o apoio concreto, das populações vítimas do terramoto na Síria e na Turquia. Estava a ver no programa “A Sua Imagine”, as fotografias desta catástrofe, a dor destes povos que sofrem com o terramoto. Oremos por eles, não os esqueçamos, oremos e pensemos no que podemos fazer por eles. E não nos esqueçamos da martirizada Ucrânia: que o Senhor abra caminhos de paz e conceda aos responsáveis a coragem de os percorrer.

As notícias provenientes da Nicarágua entristeceram-me muito e não posso deixar de recordar com preocupação o Bispo de Matagalpa, D. Rolando Álvarez, a quem quero muito bem, condenado a 26 anos de prisão, e também as pessoas que foram deportadas para os Estados Unidos. Rezo por eles e por quantos sofrem naquela querida nação, e peço as vossas orações. Imploremos também ao Senhor, por intercessão da Imaculada Virgem Maria, para que converta os corações dos líderes políticos e de todos os cidadãos à busca sincera da paz, que nasce da verdade, da justiça, da liberdade e do amor, e que se alcança através do paciente exercício do diálogo. Rezemos juntos a Nossa Senhora. [Ave Maria].

Dirijo a minha saudação a todos vós, romanos e peregrinos da Itália e de outros países. Saúdo os grupos da Polónia, da República Checa e do Peru. Saúdo os cidadãos congoleses aqui presentes. O vosso país é lindo! Rezai pelo país! Saúdo os estudantes de Badajoz (Espanha) e os do Instituto Gregoriano de Lisboa.

Saúdo os jovens de Amendolara — Cosenza e o grupo avis de Villa Estense — Pádua.

E a todos desejo bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!