O Pontífice aos participantes no capítulo geral da soberana Ordem militar de Malta

Cada vez mais unidos e coerentes no serviço aos pobres e aos doentes

 Cada vez mais unidos e coerentes  no serviço aos pobres e aos doentes  POR-007
16 fevereiro 2023

«Cada vez mais unidos para dar testemunho da vossa fé», ao serviço dos pobres e dos doentes: eis a exortação confiada pelo Papa aos participantes no capítulo geral da soberana Ordem militar de Malta (somm), recebidos em audiência na manhã de 30 de janeiro, na sala do Consistório. Os trabalhos contaram com a presença de 111 membros da somm , vindos dos cinco continentes. A seguir, o discurso dirigido pelo Pontífice aos capitulares.

Prezados irmãos e irmãs!

Agradeço ao Cardeal Silvano Tomasi as suas amáveis palavras, e aproveito o ensejo para manifestar a minha gratidão por todo o trabalho que levou a cabo como meu Delegado Especial, com o Grupo de Trabalho que o acompanhou nestes últimos anos. Agradeço ao Irmão John Dunlap, Lugar-tenente de Grão-mestre, as expressões de fidelidade e esperança que me dirigiu em nome de todos vós.

Saúdo com prazer os novos Altos Cargos e os membros do novo Conselho Soberano, eleito no Capítulo Geral que acabastes de concluir. Daqui retomais com renovado ímpeto o vosso compromisso de tuitio fidei e obsequium pauperum, dando de graça o que recebestes de graça e testemunhando que seguir Cristo no serviço aos pobres e aos doentes constitui um caminho que enche a alma. Com efeito, permite-vos encontrar o Senhor em cada rosto de irmão necessitado, em cada mão que estreitais no acolhimento, em cada circunstância em que reviveis o ideal que o Beato Geraldo, vosso fundador, realizou oferecendo a sua vida ao serviço dos “Pobres de Nosso Senhor”.

Fiquei feliz por saber que as pessoas nomeadas no passado dia 3 de setembro no governo provisório obtiveram a confiança da grande maioria dos Capitulares. Eles, provenientes das diversificadas realidades territoriais nos cinco continentes, manifestaram satisfação e deram confiança a quantos “transportaram” a Ordem rumo a este novo percurso, para aplicar fielmente a nova Carta Constitucional e o novo Código Melitense. Também estou feliz por saber que houve um bom debate sobre os temas abordados. Sem dúvida, não deve ter faltado a dialética, mas como vos escrevi na mensagem que vos dirigi no início do Capítulo Geral, o caminho a seguir é aquele que nos vem diretamente de Cristo: ut unum sint, para que o mundo creia (cf. Jo 17, 21). Cada vez mais unidos para dar testemunho da vossa fé e da pertença à Ordem; cada vez mais coerentes com a cruz octogonal que usais com orgulho. Estou certo de que na eleição do Grão-mestre encontrareis um guia seguro, garante da unidade de toda a Ordem, em fidelidade ao Sucessor de Pedro e à Igreja.

No Capítulo dos Professos, que precedeu o Capítulo Geral, respondendo ao meu convite e a quanto estabelecem a Carta Constitucional e o Código Melitense, abordastes o tema do restabelecimento, segundo a inspiração original, da vida comunitária e da plena observância do solene voto de pobreza. Considerastes também concretamente as modalidades de sustentamento da vida comunitária e o compromisso que a Ordem assume a este propósito. Felicito-vos por isto! Também considero justa e prudente a decisão de não obrigar à vida comunitária quem, emitindo a profissão, sabia que não era obrigado a isto, e de afirmar ao mesmo tempo que todos são convidados a abraçá-la. Por conseguinte, quem emite a profissão solene a partir de agora, consciente de que ela implica a vida comunitária, assumirá esta obrigação em plena liberdade.

Aprecio a decisão de reabrir um noviciado, e espero que em breve se possam acrescentar outros. Peço ao Senhor, e convido todos vós a fazê-lo comigo, que envie abundantes vocações para a vossa Ordem, não apenas para a profissão religiosa, mas também para a segunda classe, primeiro colaborador dos professos, e para a terceira classe. Para manter vivas tantas obras meritórias, é necessário orar a fim de que o Senhor envie “bons operários”, suscitando vocações para cada classe, especialmente para a profissão religiosa, que vive e exprime plenamente a vocação joanina.

Também abordastes o tema da formação inicial e permanente dos membros, indicando algumas linhas que poderão favorecer a sua atuação. Em particular, é necessária uma formação adequada dos professos, bem como dos cavaleiros de segunda classe, no sentido concreto da promessa de obediência emitida. Também não se deve descuidar a formação da terceira classe, da qual espero que possam nascer vocações sólidas para as diferentes dimensões de serviço na Ordem.

No Capítulo Geral, o meu Delegado Especial, o Lugar-tenente de Grão-mestre e os Altos Cargos do governo provisório, cada qual para as próprias áreas de competência, apresentaram um relatório detalhado que vos informou sobre o estado da Ordem. Tanto as perguntas a respeito dos vários temas, como as relativas respostas, permitir-vos-ão continuar com impulso cada vez mais vivo na dedicação às numerosíssimas obras caritativas e humanitárias que promoveis, com entusiasmo e fervor cristão. Com efeito, os relatórios dos Altos Cargos, que foram aprovados quase por unanimidade, constituirão as linhas que, por vontade do Capítulo, o novo governo deverá seguir, dando-lhes aplicação concreta.

Caríssimos, gostaria de meditar brevemente sobre os termos que qualificam a vossa Ordem.

Soberana. Trata-se de uma soberania totalmente singular, assumida ao longo dos séculos e confirmada pela vontade dos Papas. Ela permite-vos cumprir gestos de solidariedade generosos e exigentes, tornando-vos próximos dos mais necessitados, sob a tutela jurídica diplomática internacional.

Militar. Para a defesa dos peregrinos e dos lugares santos, assim como da cristandade, a vossa Ordem escreveu páginas gloriosas. Hoje, aquelas gestas dão lugar ao diálogo inter-religioso. Além disso, a fé em Cristo e o seguimento d’Ele comprometem-vos no testemunho do Evangelho e na luta contra tudo o que se lhe opõe.

Hospitalária. A Ordem tem origem no serviço que o Beato Geraldo oferecia aos peregrinos em Jerusalém, no Hospital intitulado a São João Batista, que mais tarde se tornou o vosso Padroeiro. Naquele lugar, Geraldo, com os primeiros frades, recebia os peregrinos e os indigentes, oferecendo-lhes os cuidados médicos de que necessitavam, e hoje isto encontra-se na pluralidade das vossas obras. Cuidando dos Senhores doentes, sabeis reconhecer em cada um deles o rosto sofredor de Cristo, seja qual for a sua proveniência, nacionalidade, credo religioso. E então, quando vos fazeis próximos com compaixão e ternura — são estas as três modalidades do Senhor: proximidade, compaixão e ternura — vós próprios vos identificais com Jesus, bom Pastor, bom Samaritano. Não esqueçamos: as obras devem ser bem organizadas e bem geridas, mas acima de tudo devem ser sinal da caridade de Cristo, que é como a forma de todas as obras que deveis ter.

Caros irmãos e irmãs, escrevestes uma página de história muito importante para a Ordem de Malta, obrigado, podeis sentir-vos orgulhosos disto. Exorto-vos a permanecer fiéis a Cristo, Mestre e Senhor, a ir adiante, levando ao mundo inteiro a sua mensagem de cura aos doentes e de consolação aos aflitos. Um dia prestaremos contas disto a Deus Pai: ter sido suas testemunhas fiéis, próximas do nosso próximo, não animados por aspirações mundanas, mas ardentes no serviço e testemunho do Ressuscitado.

Abençoo todos vós de coração, bem como as vossas famílias, os membros, os empregados, os voluntários, as pessoas que assistis e as vossas obras espalhadas pelo mundo inteiro e em tantas periferias existenciais. E peço-vos, por favor: não vos esqueçais de rezar por mim! Este trabalho não é fácil! Obrigado!