Antes da audiência geral de quarta-feira 25 de janeiro, num espaço adjacente à Sala Paulo vi , Francisco recebeu uma delegação do Conselho Pan-ucraniano das Igrejas e das Organizações religiosas. Depois de ter entregue o discurso preparado para a ocasião, o Pontífice dirigiu aos presentes as seguintes palavras improvisadas.
Gostaria de vos ouvir, mas somos escravos dos limites do tempo, porque cinco minutos antes das nove tenho de começar a Audiência geral. Gostaria de ouvir cada um de vós, mas vendo o número, não conseguiremos. Por isso, peço-vos que sejais breves, para que eu possa lá estar cinco minutos antes das nove. Desculpai-me, eu ficaria toda a manhã convosco, mas somos escravos também do tempo.
O que tendes nas mãos é um texto que reúne o que nestes meses de guerra brotou no meu coração ao ver as imagens desta terrível tragédia. Estou próximo de vós e recebo regularmente enviados do Presidente Zelensky. Estou em diálogo com os representantes do povo ucraniano e isto leva-me a ter os vossos sentimentos e a rezar. Agradeço-vos esta vossa unidade, na minha opinião isto é uma grande coisa, como os filhos de uma família que estão um ali, outro lá, mas quando a mãe adoece, estão todos juntos. Não se trata tanto de Ucrânia judaica, Ucrânia cristã, Ucrânia ortodoxa, Ucrânia católica, Ucrânia islâmica..., não, trata-se da Ucrânia, “mãe” Ucrânia, e todos juntos! E isto mostra o tecido da vossa raça. É um exemplo face a tanta superficialidade que hoje se vê na nossa cultura.
Tinha preparado um discurso, mas o tempo é breve e por isso, se não vos ofenderdes, dá-lo-ei ao senhor para que possa ser distribuído. Estou próximo de vós. Quando eu era criança — o senhor conhece a história — servia à Missa a um sacerdote, padre Stefano, que estava lá e aprendi a servi-la em ucraniano, quando eu tinha 11 anos, e a partir daquele momento a minha simpatia pela Ucrânia aumentou. É uma antiga simpatia que cresceu e isto aproxima-me mais de vós. Não duvideis, eu rezo por vós! Levo-vos no coração e peço a Deus que tenha piedade deste povo tão corajoso! Obrigado por esta visita, obrigado! Gostaria de me despedir de vós antes de concluir, um por um. Antes de terminar, peço-vos apenas que rezeis em silêncio cada um à sua maneira, no próprio modo de rezar, em silêncio mas juntos pela mãe Ucrânia.
A seguir o texto preparado e entregue pelo Papa.
Prezados irmãos, bom dia!
Dou-vos as boas-vindas e agradeço ao Bispo Marcos as palavras que me dirigiu em vosso nome. Dou graças a Deus porque este encontro convosco me permite de alguma forma ter um contacto estreito com o povo ucraniano, que tenho sempre presente nas minhas orações durante estes meses. De facto, representais as Igrejas e as Organizações religiosas da Ucrânia, incluindo a Sociedade Bíblica, que é interconfessional. E participais na vida do país, procurando responder aos desafios sociais, com intervenções públicas e diversas atividades, que nos últimos tempos estão necessariamente ligadas à dramática situação atual.
Quero dizer-vos que estou convosco na proximidade e no apoio às famílias, às crianças, aos idosos, aos doentes, às pessoas mais frágeis. Estou convosco na defesa dos direitos dos fiéis de todas as comunidades religiosas, especialmente daqueles que sofrem abusos e perseguições. Estou convosco no esforço para ajudar os prisioneiros e os presos por razões políticas. Encorajo os vossos esforços para restabelecer o respeito, da parte de todos, pelos princípios e normas do direito internacional e pelos direitos fundamentais do homem.
E considero uma graça de Deus que todas estas iniciativas sejam decididas e levadas a cabo em conjunto, como irmãos. Este é um testemunho concreto da paz num país que sofre com a guerra. A vossa ação, levada a cabo com tenacidade e coragem, prepara eficazmente o amanhã, um amanhã de paz, em que os interesses económicos e políticos que geram a guerra darão finalmente lugar ao bem comum dos povos. Todos os dias rezo por isto. Rezo convosco e por vós, queridos irmãos, pelo vosso povo, pelo amado povo ucraniano. Que Deus o abençoe com o dom da paz!