O trabalho da irmã Kanlaya no coração de Bangkok

Pôr fim aos resíduos ambientais e ao tráfico
de seres humanos

 Pôr fim aos resíduos ambientais  e ao tráfico de seres humanos  POR-003
19 janeiro 2023

Após 50 anos de vida religiosa, a irmã Agnes Kanlaya Trisopa dedicou-se a uma terra de missão completamente nova. Há pouco mais de um ano, depois de ter completado o seu trabalho na formação de jovens aspirantes à vida religiosa, criou um projeto com dois objetivos que lhe são queridos: o cuidado da criação e a luta ao tráfico de seres humanos.

Kanlaya pertence às Irmãs do Sagrado Coração de Jesus de Bangkok, uma comunidade diocesana fundada em 1897. As irmãs desempenham o ministério de catequistas, de administradoras escolares, professoras, assim como outras atividades a nível paroquial.

Ecocidadãos


Depois de ter lido a encíclica do Papa Francisco Laudato si’, especialmente o parágrafo 211, que trata de ecocidadãos a irmã Kanlaya decidiu criar um sistema de gestão de resíduos. «No seu documento — recorda-nos a irmã Kanlaya — o Papa Francisco exorta-nos a adotar comportamentos e virtudes persistentes na nossa vida diária para cuidarmos do planeta, como cidadãos ecológicos. A recolha seletiva de resíduos é uma das opções sugeridas pelo Santo Padre».

Simbiose inter-religiosa


Mas a forma de concretizar o seu sonho foi sugerida à irmã Kanlaya pelo monge budista Pra Ajan Suchut Patchoto: com a sua ajuda, a irmã Kanlaya aprendeu, juntamente com centenas de outras pessoas, a separar os resíduos «até chegar a eliminar os resíduos, tornando-os zero ».

A ligação com a prevenção do tráfico de seres humanos


No entanto, de que modo o tráfico de seres humanos tem algo a ver com tudo isto? A irmã Kanlaya trabalha nesse âmbito desde 2005 e sabe muito bem que «a pobreza e o desemprego são uma razão decisiva para as pessoas se tornarem presas para os traficantes». E assim, com a reciclagem, criou também novos empregos.

«Eu sabia que estava no caminho certo, e lembrei-me da mensagem enviada pelo Papa Francisco Talitha Kum: uma economia sem tráfico de seres humanos é uma economia de cuidado. “O cuidado pode ser entendido como cuidar das pessoas e da natureza, oferecendo produtos e serviços para o crescimento do bem comum” (8 de fevereiro de 2021)».

A fase experimental


Com os conhecimentos técnicos e a convicção de que estava no bom caminho, a irmã Kanlaya decidiu expandir a experiência de “resíduos zero” utilizando o refeitório do convento. «Eu queria demonstrar que este projeto era possível, como o era a minha intenção». Além disso, assumiu Wanrapa “View” Singwonsa: «Ela ensinou-nos a limpar meticulosamente os diferentes tipos de plástico para os revender: é um pequeno rendimento extra para a sua família», diz a religiosa.

Missão cumprida


«Após cerca de um ano, comecei a ver os primeiros resultados, e não apenas na nossa comunidade. Recebi um feedback positivo e a cooperação de muitas congregações religiosas, escolas, comunidades cristãs e organizações eclesiais». Quanto à jovem que contratou, a irmã Kanlaya salienta que não só beneficiou «do rendimento extra para sustentar a sua família, mas também continuou a ganhar conhecimentos em matéria de reciclagem de resíduos... Ela orgulha-se da paciência e diligência em contribuir, por um lado, para fazer do nosso planeta um lugar melhor e, por outro, para ganhar mais dinheiro com a venda e reciclagem de resíduos. Gosto de pensar que uma mulher simples encontrou dignidade e independência apenas através da triagem e reciclagem de resíduos. Gostaria de lhe pedir para participar comigo em conferências, a fim de partilhar a sua experiência com os outros, e alargar este projeto a famílias de baixos rendimentos noutras comunidades pobres».

Como são gerados os ganhos


Mas isto não é tudo. A irmã Kanlaya explica que, além de separar os resíduos, limpá-los e vendê-los a instituições de reciclagem, outra forma de gerar rendimentos é utilizar os mesmos resíduos para criar artigos que possam ser vendidos. «Também podemos reciclar resíduos limpos que tenham sido separados por tipo», explica. Os sacos de plástico podem tornar-se combustível diesel, o papel pode tornar-se papel reciclado, as garrafas de água podem ser transformadas em tecidos, as latas de bebidas podem ser utilizadas para fazer bolsas. Alguns tipos de plástico podem ser usados para fazer tijolos ecológicos, que são frequentemente feitos por prisioneiros.

Lixo transformado em arte


Uma visita a uma escola dirigida pelas Irmãs do Sagrado Coração, em cujo refeitório a irmã Kanlaya montou o seu laboratório, confirma a sua história. Refugiados que chegam de países vizinhos que não podem legalmente encontrar emprego, transformam “lixo” em belos relicários, almofadas, decorações, vasos, lenços, acessórios para cabelo, pulseiras e arranjos floreais. Uma das refugiadas concernidas neste projeto disse-nos que o que pode ser inútil para uma pessoa, «ao contrário, é importante para fazer produtos que possam ser reutilizados». Ela mostrou-nos como reciclam papel e como utilizam caixas de leite para criar lindos vasos com belas imagens. Com este compromisso, «tive a oportunidade de ajudar famílias pobres a ganhar algum dinheiro e ao mesmo tempo continuar a cuidar do mundo para que se torne uma casa melhor para a humanidade», explica a irmã Kanlaya.

Projetos para o futuro


Mas este não é o fim da história, pois a irmã Kanlaya tem em mente outros projetos para completar aquele que terminou com sucesso: quer transformar a sala de jantar do convento numa oficina de formação em separação de resíduos para ensinar como o lixo pode gerar rendimentos. «Além de separar os resíduos para revenda — diz a religiosa — quero fazer tecido de garrafas de plástico». Isto abrirá caminhos de emprego sustentável para as mulheres da comunidade e assegurará que elas não sejam tentadas a abandonar a própria aldeia para aceitar trabalhos em risco de tráfico de seres humanos».

Embora, no final, a irmã Kanlaya admita que «a criação de produtos a partir de resíduos não nos leva a uma sociedade completamente de resíduos zero, sem dúvida prolonga a vida aos resíduos e gera dinheiro para os pobres».

Bernadette Mary Reis, fsp


#sistersproject