O Papa aos participantes no encontro “Rome Call”

A vida do homem não pode ser confiada a um algoritmo

 A vida do homem não pode ser confiada a um algoritmo  POR-003
19 janeiro 2023

«Não é aceitável que a decisão sobre a vida e o destino de um ser humano seja confiada a um algoritmo», afirmou o Papa Francisco na manhã de 10 de janeiro, recebendo em audiência na Sala Clementina os participantes no encontro «AI Ethics: an Abrahamic commitment to the Rome Call» — promovido pela Pontifícia Academia para a vida e pela Fundação RenAIssance — realizado na Casina Pio iv no Vaticano.

Excelências Reverendíssimas
Distintas Autoridades
Ilustres Senhoras e Senhores
Estimados irmãos e irmãs!

Agradeço a D. Vincenzo Paglia as suas amáveis palavras; saúdo o Rabino Eliezer Simha Weisz e o Xeque Abdallah bin Bayyah. Saúdo também os senhores Brad Smith, Presidente da Microsoft, Dario Gil, Vice-Presidente Global da ibm, e Maximo Torero Cullen, Economista-Chefe da Fao, primeiros signatários da Rome Call, bem como os membros das várias delegações aqui presentes.

Estou grato à Pontifícia Academia para a vida e à Fundação RenAIssance, pelo compromisso em promover, através da Rome Call, uma ética partilhada relativamente aos grandes desafios no horizonte da inteligência artificial. Após a primeira assinatura em 2020, o evento de hoje vê também o envolvimento das delegações judaica e islâmica, que observam a chamada inteligência artificial com um olhar inspirado nas palavras da Encíclica Fratelli tutti. A vossa concórdia na promoção de uma cultura que coloca esta tecnologia ao serviço do bem comum de todos e do cuidado da casa comum é exemplar para muitos outros. A fraternidade entre todos é a condição para que o desenvolvimento tecnológico esteja também ao serviço da justiça e da paz em qualquer parte do mundo.

Todos sabemos como a inteligência artificial está cada vez mais presente em cada aspeto da vida diária, tanto pessoal como social. Incide no nosso modo de compreender o mundo e a nós mesmos. As inovações neste campo significam que estes instrumentos são cada vez mais decisivos na atividade e até nas decisões humanas. Por conseguinte, encorajo-vos a prosseguir neste esforço. Apraz-me saber que também pretendeis envolver as outras grandes religiões mundiais e homens e mulheres de boa vontade para que a algor-ética, ou seja, a reflexão ética sobre o uso de algoritmos, esteja cada vez mais presente não só no debate público, mas também no desenvolvimento de soluções técnicas. Com efeito, cada pessoa deve poder desfrutar de um desenvolvimento humano e solidário, sem que ninguém seja excluído. Devemos, portanto, estar vigilantes e trabalhar para assegurar que a utilização discriminatória destes instrumentos não crie raízes em detrimento dos mais frágeis e excluídos. Lembremo-nos sempre de que a forma como tratamos os últimos e os menos considerados entre os nossos irmãos e irmãs revela o valor que atribuímos aos seres humanos. Pode-se citar o exemplo dos pedidos dos requerentes de asilo: não é aceitável que a decisão sobre a vida e o destino do ser humano seja confiada a um algoritmo.

A Rome Call pode ser um instrumento útil para um diálogo comum entre todos, a fim de promover o desenvolvimento humano das novas tecnologias. A este respeito, reitero que «no encontro entre diferentes visões do mundo, os direitos humanos são um importante ponto de convergência na busca de uma base comum. Entretanto, no momento atual parece necessária uma reflexão atualizada sobre direitos e obrigações nesta área. Na verdade, a profundidade e a aceleração das transformações da era digital levantam problemas inesperados, que impõem novas condições ao ethos individual e coletivo» (Discurso à Assembleia Plenária da Pontifícia Academia para a Vida, 28 de fevereiro de 2020). As adesões à Rome Call, que aumentaram com o tempo, são um passo significativo para a promoção de uma antropologia digital, com três coordenadas fundamentais: ética, educação e direito.

Exprimo o meu apoio à generosidade e dinamismo com que vos comprometeis, e convido-vos a continuar com audácia e discernimento, na busca dos caminhos que conduzem a um envolvimento cada vez mais amplo de todos aqueles que têm no coração o bem da família humana.

Invoco sobre vós a bênção de Deus: que Deus vos abençoe a todos, para que o vosso caminho se desenvolva com serenidade e paz, num espírito de colaboração. Acompanhe-vos também a minha bênção. E por favor não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!