ANGELUS — Apelo do Pontífice na festa de Santo Estêvão

Paz para a Ucrânia e para os povos atormentados pela guerra

 Paz para a Ucrânia e para os povos atormentados pela guerra  POR-052
29 dezembro 2022

«Vejo tantas bandeiras da Ucrânia! Peçamos a paz para este povo martirizado» e para todos «os povos atormentados pela guerra». Ao ver na praça de São Pedro bandeiras amarelas e azuis da nação da Europa oriental, o Papa fez apelou novamente pelo fim das hostilidades no final do Angelus na segunda-feira 26 de dezembro, festa de Santo Estêvão. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, Francisco introduziu a recitação da oração mariana com uma meditação sobre «algumas figuras dramáticas de Santos mártires» que «nestes dias são lembradas», a começar pelo primeiro deles, o diácono Estêvão.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia, feliz Festa!

Ontem celebramos o Natal do Senhor, e a liturgia, para nos ajudar a acolhê-lo melhor, prolonga a duração da Festa até 1 de janeiro: por oito dias. Surpreendentemente, porém, nestes mesmos dias lembramo-nos de algumas figuras dramáticas de Santos mártires. Hoje, por exemplo, Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão; depois de amanhã, os Santos Inocentes, as crianças que o rei Herodes mandou matar porque tinha medo que Jesus lhe tirasse o trono (cf. Mt 2, 1-18). Em síntese, parece realmente que a liturgia nos quer afastar do mundo das luzes, dos almoços e dos presentes em que nestes dias poderíamos acomodar-nos um pouco. Porquê?

Porque o Natal não é o conto de fadas do nascimento de um rei, mas a vinda do Salvador, que nos liberta do mal, tomando sobre si o nosso mal: o egoísmo, o pecado, a morte. Este é o nosso mal: o egoísmo que carregamos dentro; o pecado, porque todos nós somos pecadores; e a morte. E os mártires são os mais semelhantes a Jesus. Com efeito, a palavra mártir significa testemunha: os mártires são testemunhas, isto é, irmãos e irmãs que, através da própria vida, nos mostram Jesus que venceu o mal com a misericórdia. E até nos nossos dias os mártires são numerosos, mais do que nos primeiros tempos. Hoje oremos por estes irmãos e irmãs mártires perseguidos, que dão testemunho de Cristo. Mas é bom que nos interroguemos: sou testemunha de Cristo? E como podemos melhorar nisto, testemunhando melhor Cristo? Pode ajudar-nos precisamente a figura de Santo Estêvão.

Em primeiro lugar, os Atos dos Apóstolos dizem-nos que era um dos sete diáconos que a comunidade de Jerusalém tinha consagrado para o serviço à mesa, ou seja, para a caridade (cf. 6, 1-6). Isto significa que o seu primeiro testemunho não foi dado com palavras, mas através do amor com que servia os mais necessitados. Mas Estêvão não se limitava a esta obra de assistência. Àqueles que encontrava, falava de Jesus: partilhava a fé à luz da Palavra de Deus e do ensinamento dos Apóstolos (cf. At 7, 1-53.56). Esta é a segunda dimensão do seu testemunho: acolher a Palavra e comunicar a sua beleza, narrar como o encontro com Jesus muda a vida. Isto era tão importante para Estêvão, que não se deixou intimidar pelas ameaças dos perseguidores, nem sequer quando viu que as coisas corriam mal para ele (cf. v. 54). Caridade e anúncio, assim era Estêvão. Contudo, o seu maior testemunho é ainda outro: aquele que soube unir a caridade e o anúncio. No-lo deixou na hora da morte quando, a exemplo de Jesus, perdoou os seus assassinos (cf. v. 60; Lc 23, 34).

Eis, pois, a nossa resposta à pergunta: podemos melhorar o nosso testemunho através da caridade aos irmãos, da fidelidade à Palavra de Deus e do perdão. Caridade, Palavra, perdão. É o perdão que diz se realmente praticamos a caridade ao próximo e se vivemos a Palavra de Jesus. Com efeito, o “perdão” é, como indica a própria palavra, um dom maior, um dom que oferecemos aos outros porque somos de Jesus, perdoados por Ele. Perdoo porque fui perdoado: não nos esqueçamos disto... Pensemos, cada um de nós pense na própria capacidade de perdoar: qual é a minha capacidade de perdoar, nestes dias em que talvez encontremos, entre outras, algumas pessoas com as quais não nos demos bem, que nos feriram, com as quais nunca resolvemos a relação. Peçamos ao recém-nascido Jesus a novidade de um coração capaz de perdoar: todos nós precisamos de um coração que perdoe! Peçamos ao Senhor esta graça: Senhor, para que eu aprenda a perdoar. Peçamos a força para rezar por quem nos ofendeu, para rezar pelas pessoas que nos feriram, e para dar passos de abertura e de reconciliação. Que hoje o Senhor nos conceda esta graça!

E que Maria, Rainha dos mártires, nos ajude a crescer na caridade, no amor à Palavra e no perdão.

No final da recitação do Angelus, o Pontífice dirigiu o apelo a favor da paz, agradecendo depois as numerosas mensagens de bons votos que recebeu durante estes dias de festa.

Caros irmãos e irmãs!

No clima espiritual de alegria e de serenidade do Santo Natal, saúdo com afeto todos vós aqui presentes e quantos nos acompanham através dos meios de comunicação social. Renovo os meus votos de paz: paz nas famílias, paz nas comunidades paroquiais e religiosas, paz nos movimentos e nas associações, paz para aquelas populações atormentados pela guerra, paz para a querida e martirizada Ucrânia. Há muitas bandeiras da Ucrânia aqui! Peçamos a paz para este povo martirizado!

Nestas semanas recebi muitas mensagens de bons votos. Dado que não posso responder a cada um, manifesto a todos a minha gratidão, especialmente pelo dom da oração.

Desejo a todos feliz festa de Santo Estêvão e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!