Discurso do Papa aos funcionários da Santa Sé e do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano

Chamados a ser testemunhas e artífices de paz

 Chamados a ser  testemunhas e artífices de paz  POR-052
29 dezembro 2022

«Neste momento da história do mundo, somos chamados a sentir mais fortemente a responsabilidade que cada um tem de fazer a própria parte para construir a paz», recomendou o Papa Francisco aos funcionários da Santa Sé e do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, recebidos na manhã de 22 de dezembro, na sala Paulo vi, por ocasião da tradicional audiência para os bons votos de Natal.

Prezados irmãos e irmãs
bom dia!

Obrigado por terdes vindo a este encontro em que trocamos os bons votos por ocasião do santo Natal!

Em primeiro lugar, devemos dar graças ao Senhor, pois com a sua ajuda superamos a fase crítica da pandemia. Não esqueçamos! Quando estávamos confinados, dizíamos: quem sabe como será, quando ficaremos livres para nos movermos, para nos encontrarmos, e assim por diante. Depois, assim que as coisas mudam, acontece que perdemos a memória e vamos em frente como se nada tivesse acontecido. E talvez nem sequer demos graças ao Senhor! Isto não é cristão nem sequer humano. Não, queremos dar graças porque conseguimos recomeçar a trabalhar, e também procurando superar certos problemas mais ou menos importantes que se criaram durante o período mais difícil. Retomar é um trabalho que todos nós devemos fazer.

Não podemos esquecer, porque o longo período da pandemia deixou marcas. Não só consequências materiais e económicas; deixou também marcas na vida das pessoas, nas relações, na serenidade das famílias. E é por isso que hoje vos desejo acima de tudo serenidade: serenidade para cada um de vós e para as vossas famílias. Serenidade não quer dizer que está tudo bem, que não existem problemas, dificuldades, não, não significa isto. A Sagrada Família de Jesus, José e Maria mostra-nos isto. Podemos imaginar, quando chegaram a Belém, Nossa Senhora começava a sentir dores, José não sabia para onde ir, batia a tantas portas, mas não havia lugar... No entanto, no coração de Maria e de José havia uma serenidade de fundo, que vinha de Deus, vinha da consciência de cumprir a sua vontade, de a procurar juntos, na oração e no amor recíproco. É o que vos desejo: que cada um de vós tenha fé em Deus e que nas famílias haja a simplicidade de confiar na sua ajuda, de rezar a Ele e de lhe agradecer.

Gostaria de desejar serenidade em particular aos vossos filhos, aos meninos e às meninas, porque eles sofreram muito com o confinamento, acumularam muita tensão. É normal, é inevitável. Mas não se deve fazer de contas que nada aconteceu, é preciso refletir, procurar compreender, pois sair melhor da crise não acontece por magia, é necessário trabalhar sobre si próprio, com calma, com paciência. Também os jovens o podem fazer, naturalmente com a ajuda dos pais e às vezes de outras pessoas, mas é importante que eles mesmos estejam conscientes de que as crises são fases de crescimento e exigem que trabalhem sobre si próprios.

Este é o primeiro voto que me vem à mente, a partir da pandemia. Desejo-vos serenidade no coração, nas relações familiares, no trabalho. Serenidade!

E o segundo é este: que sejamos testemunhas e artífices de paz. Neste momento da história do mundo, somos chamados a sentir uma responsabilidade mais forte, a fim de que cada um desempenhe a própria parte para construir a paz. E isto tem um significado particular para nós, que vivemos e trabalhamos na Cidade do Vaticano. Não porque este pequeno Estado, o mais pequenino do mundo, tenha um peso específico, especial, não é por isso; mas porque temos como Cabeça e Mestre o Senhor Jesus, que nos chama a unir o nosso humilde compromisso diário à sua obra de reconciliação e de paz. A começar pelo ambiente em que vivemos, pelas relações com os nossos colegas, pelo nosso modo de enfrentar as incompreensões e os conflitos que podem surgir no trabalho; ou em casa, no âmbito familiar; ou até com os amigos, ou na paróquia. É aí que podemos ser, concretamente, testemunhas e artífices de paz.

Semear a paz. E como? Por exemplo: evitando falar mal dos outros “pelas costas”. Se fizéssemos apenas isto, já seríamos criadores de paz em toda a parte! Se algo não estiver errado, falemos sobre isso diretamente com a pessoa em questão, com respeito, com franqueza. Sejamos corajosos! Não façamos de contas que nada aconteceu, para depois falar mal dele ou dela com outras pessoas. Procuremos ser sinceros e honestos. Tentemos e veremos que isto há de correr bem.

Caras irmãs e irmãos, faço-vos os melhores votos, a vós e aos vossos entes queridos! Saudai da minha parte os vossos filhos e os vossos idosos em casa. Eles são o tesouro na família, o tesouro da sociedade. E agradeço-vos: obrigado por tudo o que fazeis aqui, pelo vosso trabalho e às vezes também pela vossa paciência, pois bem sei que há situações em que exerceis a paciência: obrigado por isto! Todos nós devemos progredir com paciência, com alegria, agradecendo ao Senhor que nos concede esta graça do trabalho, mas preservando o trabalho cumprindo-o também com dignidade. Obrigado por isto, obrigado pelo que fazeis aqui. Sem vós, tudo isto não iria em frente. Muito obrigado!

Abençoo todos vós de coração e peço-vos, por favor, que oreis por mim. E feliz Natal a todos!