Francisco recebeu um grupo de pessoas com deficiência no Dia a elas dedicado

Da exclusão à pertença

 Da exclusão à pertença  POR-049
07 dezembro 2022

Gerar e apoiar comunidades inclusivas para eliminar qualquer discriminação


Na manhã de 3 de dezembro, durante o encontro com um grupo de pessoas com deficiência, recebidas em audiência na sala Clementina por ocasião do Dia internacional a elas dedicado, o Papa Francisco apelou a transformar «a indiferença em proximidade» e «a exclusão em pertença».

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Tenho o prazer de me encontrar convosco hoje, por ocasião do Dia mundial das pessoas com deficiência. Agradeço a D. Giuseppe Baturi as suas palavras e também o compromisso das Igrejas na Itália em manter viva a atenção às pessoas com deficiência, mediante uma ação pastoral ativa e inclusiva. Promover o reconhecimento da dignidade de cada pessoa constitui uma responsabilidade constante da Igreja: é a missão de continuar no tempo a proximidade de Jesus Cristo a cada homem e cada mulher, especialmente a quantos são mais frágeis e vulneráveis. O Senhor está próximo!

Acolher pessoas com deficiência e responder às suas necessidades é um dever da comunidade civil e eclesial, pois a pessoa humana, «até quando está ferida na mente ou nas suas capacidades sensitivas e intelectivas, é um sujeito plenamente humano, com os direitos sagrados e inalienáveis próprios de cada criatura humana» (São João Paulo ii , Discurso aos participantes no Simpósio “Dignidade e direitos da pessoa com deficiência”, 8 de janeiro de 2004).

Este era o olhar de Jesus sobre as pessoas que encontrava: um olhar de ternura e misericórdia especialmente sobre quantos eram excluídos da atenção dos poderosos e até das autoridades religiosas do seu tempo. Por isso, cada vez que a comunidade cristã transforma a indiferença em proximidade — eis a verdadeira conversão: transformar a indiferença em proximidade e vizinhança — cada vez que a Igreja o faz, transformando a exclusão em pertença, cumpre a sua missão profética. Com efeito, não basta defender os direitos das pessoas; é necessário esforçar-se para responder também às suas necessidades existenciais nas várias dimensões, corporal, psíquica, social e espiritual. Efetivamente, cada homem e cada mulher, em qualquer condição em que se encontre, é portador não só de direitos que devem ser reconhecidos e garantidos, mas inclusive de instâncias ainda mais profundas, como a necessidade de pertencer, de se relacionar e de cultivar a vida espiritual até experimentar a sua plenitude e bendizer o Senhor por este dom irrepetível e maravilhoso.

Gerar e apoiar comunidades inclusivas — esta palavra é sempre importante, inclusivas — significa, então, eliminar qualquer discriminação e satisfazer concretamente a exigência de cada pessoa de se sentir reconhecida e de se sentir parte. Com efeito, não há inclusão se faltar a experiência da fraternidade e da comunhão mútua. Não há inclusão se ela permanecer um slogan, uma fórmula a utilizar nos discursos politicamente corretos, uma bandeira da qual se apropriar. Não há inclusão se não houver conversão nas práticas da convivência e dos relacionamentos.

É imperioso garantir às pessoas com deficiência o acesso aos edifícios e lugares de encontro, tornar as linguagens acessíveis e superar barreiras físicas e preconceitos. No entanto, isto não é suficiente. É necessário promover uma espiritualidade de comunhão, de modo que cada um se sinta parte de um corpo, com a sua personalidade irrepetível. Só assim cada pessoa, com os seus limites e qualidades, se sentirá encorajada a cumprir a própria parte, para o bem de todo o corpo eclesial e para o bem da inteira sociedade.

Desejo que todas as comunidades cristãs sejam lugares onde “pertença” e “inclusão” não permaneçam palavras a pronunciar em certas ocasiões, mas que se tornem um objetivo da ação pastoral comum. Assim poderemos ser credíveis quando anunciarmos que o Senhor ama a todos, que é a salvação para todos e convida todos para a mesa da vida, sem excluir ninguém.

Impressiona-me muito quando o Senhor narra a história daquele homem que tinha preparado o banquete para as bodas do filho, mas os convidados não vieram (cf. Mt 22, 1-14). Chama os criados e diz: “Ide às encruzilhadas e trazei todos”. “Todos!”, diz o Senhor: jovens, idosos, doentes, não doentes, pequenos, grandes, pecadores, não pecadores... Todos, todos, todos! O Senhor é assim: todos, sem exclusão! A Igreja é o lar de todos, o coração do cristão é a casa de todos, sem exclusão! Devemos aprender isto. Às vezes somos um pouco tentados a enveredar pelo caminho da exclusão. Não, inclusão! O Senhor ensinou-nos: todos. “Mas este é feio, aquele é assim...”. Todos, todos. Inclusão!

Caros irmãos e irmãs, neste tempo em que ouvimos diariamente boletins de guerra, o vosso testemunho é um sinal concreto de paz, um sinal de esperança para um mundo mais humano e fraterno, para todos. Ide em frente por este caminho! Abençoo-vos de coração e rezo por vós. Agradeço-vos o que fazeis, obrigado! E peço-vos que rezeis por mim. Obrigado!